Quinta, 5 de abril de 2012
Por Carlos Newton
Como dizia o genial publicitário e compositor Miguel Gustavo, “o
suspense é de matar o Hitchcock”. Acaba hoje o prazo concedido pela
Comissão de Ética Pública da Presidência para que o ministro do
Desenvolvimento, Fernando Pimentel, explique o faturamento recebido com
consultorias a empresas e entidades, entre 2009 e 2010.
Como se sabe, essas “consultorias” podem configurar tráfico de
influência, no melhor estilo do também “consultor” Antonio Palocci,
que perdeu o cargo de ministro e a dignidade, por conta de determinadas
“consultorias” mal explicadas.
A diferença entre os dois casos de tráfico de influência, é que
Palocci sempre se recusou terminantemente a revelar quais eram as
empresas às quais prestava a tal “consultoria”, enquanto Pimentel de
pronto liberou essas informações, julgando que iria se livrar de
investigações, mas se enganou redondamente, como se dizia tempos atrás.
A DENÚNCIA
Em dezembro do ano passado, O Globo revelou que entre 2009 e 2010
Pimentel faturou R$ 2 milhões, com consultorias. Metade desse dinheiro
foi pago pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
(Fiemg), por serviços de consultoria na elaboração de projetos na área
tributária e palestras nas dez regionais da entidade. As palestras nunca
ocorreram. Pimentel simplesmente mentiu. E as demais consultorias
jamais foram bem explicadas.
De lá para cá, o ministro vem fugindo da imprensa para tentar se
manter no cargo, beneficiado pela estranha e questionável decisão da
presidente Dilma Rousseff, que na época do escândalo resolveu
preservá-lo, alegando que o governo não teria a ver com o procedimento
de Pimentel antes de assumir o ministério, vejam a que ponto de
desfaçatez chegamos.
Assim, tudo aparentemente corria bem para Pimentel, que vive pelo
mundo participando de eventos relacionados ao comércio exterior. Até que
na terça-feira da semana passada, surpreendentemente, a Comissão de
Ética Pública da Presidência decidiu não somente investigar o caso de
Pimentel, mas também pedir esclarecimentos diretamente ao ministro, a
respeito de consultorias supostamente prestadas antes dele integrar o
governo Dilma Rousseff.
A decisão da comissão foi apertada, com três conselheiros votando contra o pedido de esclarecimento – Américo Lacombe, Roberto Caldas e Padre Ernanne – e três a favor: Marília Murici, Fábio Coutinho e o presidente do colegiado, Sepúlveda Pertence. Diante do empate, Sepúlveda deu o voto de minerva, dando prosseguimento ao processo contra Pimentel.
A decisão de investigar Pimentel foi um espanto. Afinal, o que mudou
nessa Comissão, que em decisões anteriores inocentou o então ministro
Antonio Palocci e aplicou punição apenas simbólica à ex-ministra Erenice
Guerra, que pode inclusive exercer cargo público?
“Decidiu-se, pelo meu voto de minerva, encaminhar pedido de
informações e esclarecimentos ao ministro. Em síntese, embora correto,
ao meu ver, o voto do conselheiro Roberto Caldas, de que em linha de
princípio atos anteriores à investidura do ministério não são
competência da Comissão de Ética, alude o próprio voto a situações
excepcionalíssimas, em que atos anteriores possam comprometer a
autoridade e exigir providências da Comissão de Ética, pelo menos no
papel de conselheira da presidente da República”, explicou o presidente
da Comissão, Sepulveda Pertence, que ao que parece está pretendo
resgatar sua biografia.
Segundo Sepúlveda, a comissão ainda não entrou no mérito se as
denúncias são procedentes ou não. O ministro Pimentel ganhou dez dias
para dar explicações à Comissão, e o prazo termina hoje, Mas como diz a
canção de Marino Pinto e Zé da Silva, Brasília tem razões que a própria
razão desconhece, e hoje é véspera de feriado prolongado na Semana
Santa.
Portanto, pode ser que Pimentel ganhe tempo até segunda-feira,
aproveitando para rezar bastante e se preparando para depois pedir
perdão ao Papa por esse pecado capital chamado Cobiça.
Fonte: Tribuna na Internet