Sexta, 18 de maio de 2012
Por Ivan de Carvalho
A CPMI que investiga as
relações de Carlinhos Cachoeira com políticos, empresários e governos nada tem
a perder se investir na busca de laços de interesse entre o contraventor e o
ditador-presidente da Choréia do Norte, Kim Jong-un.
É que a declaração de
Imposto de Renda Pessoa Física de Cachoeira contém uma informação
surpreendente. Já se sabia que ele é detentor de 49 por cento das ações da Bet
Capital. Aliás, Cachoeira recebeu milhões da tal Bet Capital. O que a Receita
Federal sabia e só agora caiu no domínio da CPI é que a outra parte da
sociedade, em nome da Bet Corporation, está sediada na Choréia do Norte, o mais
fechado de todos (já são poucos) os países comunistas do mundo.
Lá não existe empresa
privada, o que, de imediato, sugere a hipótese de que a tal Bet Corporation
seja uma empresa de fachada, o que possivelmente coloca o contraventor
Carlinhos Cachoeira como suspeito de incluir entre suas atividades a evasão de
divisas. Mas não se pode nem deve fazer juízos sem comprovação, ainda mais que existe
outra hipótese.
Quando o “político
espantoso” e “querido líder” Kim Jong-il, filho e herdeiro político do “grande
líder” Kim Il-sung, morreu, deixou o cargo de ditador para seu filho Kim
Jong-un, o caçula da família, um gênio, general de quatro estrelas antes mesmo
de completar 28 anos e cuja principal façanha, segundo se conta, sem
confirmação ou desmentido – porque o regime não comenta assuntos privados, da
mesma forma que os públicos – foi a de haver conseguido visitar incógnito a
Disneylândia, nos Estados Unidos.
Isto, se realmente aconteceu, terá sido
reconhecidamente uma coisa difícil para Kim Jong-un, tendo em vista sua
estranha aparência, semelhante à do pai dele, Kim Jong-il, aquele pelo qual choreanos
e choreanas do Norte bem alimentados – o que não ocorre com a grande maioria do
povo – afogaram-se em lágrimas e desfizeram-se em faniquitos durante alguns
dias, entre a morte dele e a retirada do corpo do altar.
Foi uma verdadeira cachoeira de lágrimas, o que
pode ser considerado um indício suspeito, mas sem valor probatório, pois o
chefe da defesa do Carlinhos, o competente advogado criminalista e ex-ministro
Márcio Thomaz Bastos, poderia alegar que, na Choréia do Norte, as pessoas
tendiam a chorar a morte do ditador por causa do culto à personalidade ou, se
isto não bastasse, porque o choro seria compulsório, sob penas severas. Além do
mais, o choro seria uma maneira dos puxa-sacos se achegarem ao novo ditador.
Bem, mas voltando ao “nosso” Cachoeira, a CPMI
pode eventualmente deparar-se com o possível fato de que a Bet Corporation não
seja exatamente a empresa de fechada que se está presumindo que é, mas uma
exceção à regra, aberta pelo regime choreano para o ditador Kim Jong-un amealhar
uns dólares para matar as saudades da Disneylândia.
Quanto à Delta Construções – empresa que mais tem
obras do PAC, espalhadas em todo o país – à qual Cachoeira está ligado por
telefonemas grampeados pela Polícia Federal com autorização judicial, a CPMI
decidiu ontem pela quebra dos sigilos fiscal e bancário, mas apenas (que
vergonha!) em relação às filiais de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Tocantins e Distrito Federal. O PT e o PMDB agiram para circunscrever o
incêndio ao Centro-Oeste. Na semana passada, a Justiça Federal aprovou a quebra
do sigilo da Delta Construções em todo o país.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.