Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 20 de maio de 2012

Contra a corrupção, em defesa da política

Domingo, 20 de maio de 2012
Por Enilton Rodrigues e Fábio Coutinho*
O Brasil passou por grandes mobilizações populares antes e depois da redemocratização do país, tendo grande envolvimento da sociedade brasileira em luta por democracia e contra a corrupção. A indignação popular e o clamor social trouxeram grandes vitórias democráticas para todos os brasileiros. Dentre essas grandes mobilizações destacam-se pela Proposta de Emenda a Constituição-PEC 05/1983 que restabelecia as eleições diretas para presidente da República, o movimento pelas Diretas Já, nos anos de 1983 e 1984 e na década seguinte a luta pelo impeachment do recém eleito presidente Fernando Collor, impulsionado pelo movimento dos caras-pintadas em 1992. Em décadas diferentes porém, igualmente importantes recentemente mais uma vez o povo organizado e mobilizado impuseram a aprovação da lei da ficha limpa, esses momentos históricos são de grande acúmulos para a formação política do povo brasileiro, e tem um caráter pedagógico ímpar, onde só a luta e a organização da sociedade irão transformar a realidade.

Recentemente embalada por uma série de escândalos de corrupção envolvendo os poderes da ré-pública e mais especificamente o congresso nacional o povo se mobiliza em marchas contra a corrupção, a direção dessa marcha usando argumento apartidários impedem deliberadamente de se manifestarem setores que historicamente estão no mesmo lado da trincheira contra a corrupção e por democracia real. Usando argumentos atrasados e que lembram o fascismo. Esta é uma estratégia de fácil cooptação política e confunde aqueles que participam dessa marcha, em especial a juventude indignada que são a maioria esmagadora presente nesse evento. Surpreende porém, a veemência com que os dirigentes da marcha contra a corrupção negam sua óbvio relação ideológica com organizações políticas conservadoras e a preocupação enorme que têm em desvincular seus nomes daqueles da ideologia de partidos políticos conservadores tradicionais da velha direita brasileira como PP, DEM, PSD, PSDB e PR.

Assim fica o questionamento, por que será que a direção da marcha contra a corrupção insiste em afirmar o apartidarismo e a negação da política como meio de se distinguir do conjunto do movimento combativo existente. Mas algo ainda mais preocupante parece se esconder por trás desse discurso com resquício fascista, que é a negação da organização política da sociedade, para que assim a ordem continue estabelecida, e sempre fazendo questão de ressaltar o seu distanciamento de qualquer reflexão política mais estrutural. É preciso que pensemos no significado amplo de partido e da política, esses partidos e movimento sociais que a direção da marcha não permite que se manifeste, mais do que a instituição política organizada é a própria idéia de um setor da sociedade organizada que não compactuam com a corrupção generalizada e intrínseca ao modelo de produção e consumo vigente. Esse setor dirigente da marcha não reconhece que haja qualquer tipo de interesse político em sua atuação porque precisam aparecer como imparciais, como se a corrupção não tivesse, nome, endereço, corrupto e corruptor assim negando a divisão social e a disputa de classe existente nesse processo. Finalmente podem aparecer com um discurso da totalidade de todos os participantes da marcha colocando a falsa impressão de que não há direção inclusive partidária nas atitudes tomadas.
Com essa falsa neutralidade enquanto sujeitos políticos devidamente transformados em ninguéns, esse grupo dirigente da marcha contra a corrupção pode aparecer como simples administrador executando a vontade de um conjunto social aparentemente apaziguados e a partir da negação de sua própria identidade política armam seu jogo e por sua identidade política supostamente vazia se tornam atraentes para opinião pública indignada com a corrupção. Esse grupo que dirige a marcha nunca se posiciona politicamente num debate que é abertamente político.

Esse é o discurso ideológico por traz da marcha contra a corrupção e precisa ser escancarado se quisermos um debate político, honesto, fraterno e com perspectiva de mudança real na organização da marcha, para que todos os segmentos indignados com a corrupção participem e lutem para que o modelo político e econômico vigente seja de fato superado.

* Enilton Rodrigues é Estudante de Engenharia Florestal-UnB e Militante do JUNTOS!
Fábio Coutinho é Estudante de História-UnB e Militante do Movimento da Juventude Revolucionária Socialista-MJRS