Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Do Novo Pinheirinho ao Veta TUDO, Dilma!

Domingo, 13 de maio de 2012

Por Marcello Barra*
A contradição elementar da sociedade é entre os interesses da classe burguesa e da classe trabalhadora. Essa contradição determina a luta de classes. Em Brasília, os trabalhadores vivem o grande problema da falta de moradia e, ao mesmo tempo, setores mais avançados da cidade protagonizam uma luta nacionalizada contra o novo código florestal, o Veta TUDO, Dilma!

A ocupação cidadã de Novo Pinheirinho na Ceilândia se associa à luta pelo Santuário dos Pajés no chamado Setor Noroeste porque, ao contrário de um verdadeiro patrimônio da Humanidade, a cidade tem dono: o capital financeiro, sob a forma das construtoras, centralmente dirigidas por PO, o Paulo Otávio. O PO personifica uma tendência já observada há mais de 100 anos pelos materialistas dialéticos: o capital monopolista, tendência essa que se agrava atualmente com o ataque do capitalismo a direitos sociais, falindo os serviços públicos, cortando salários e pensões na Grécia, privatizando a Previdência no Brasil e a superexploração do Planeta.

Mesmo Arruda e o DEM derrubados em Brasília pela pressão e luta popular, Agnelo e o PT continuaram com as construtoras e o negócio da terra como base estrutural do governo. Em outras palavras, as mesmas estruturas de Arruda/DEM foram mantidas por Agnelo/PT, e não destruídas, como deveriam ser num governo da classe trabalhadora.

Com pompa o GDF de Agnelo/PT anuncia sua política pública de moradia no programa Morar Bem, com a venda da bagatela de 500 moradias (!!), quando a dívida habitacional em Brasília está na casa das centenas de milhares! Confirmada até por dados oficiais (evidentemente abaixo do real), que mostram 330.465 inscritos no Codhab. Portanto, exige-se do governo Agnelo/PT o mínimo: o cumprimento da lei – e não é qualquer lei, mas a maior de todas, a Constituição Federal, no artigo 6o.

Moradia não é favor, nem benefício para comprar voto - é direito! A ocupação de Novo Pinheirinho deve ter um papel de mobilização da classe trabalhadora para a conquista desse direito para os 330 mil brasilienses inscritos do Codhab, os não-inscritos, além obviamente da população que ocupa Novo Pinheirinho. Dito isso, a luta real é pela expropriação de todas as áreas do DF que estejam em nome das grandes construtoras, começando pelo PO, que deve ser o alvo principal da luta.

Como se combinam a questão ambiental e a terra? Com a grilagem da terra, a destruição do cerrado e de matas pelo avanço da especulação imobiliária com o apoio do Código Antiflorestal do PT e PCdoB combinados com ruralistas e, consequente, ocupação de margens de rios, ocupação desordenada do solo, desbaratamento e desintegração de comunidades tradicionais, com aniquilamento de conhecimentos populares e tradicionais.

Marx mostrou que o surgimento do capitalismo ocorre com o cercamento das terras comunais, isto é, terras originalmente comuns a toda comunidade. Isso leva à expulsão das populações do campo para as periferias urbanas, com precariedade da vida nas cidades, degradação do meio ambiente, e especulação do campo, que passa a ser mais uma mercadoria. Como mercadoria, representa o valor de troca, portanto vale pela exploração, e não pelo usufruto. O autor também prevê que o capitalismo tentaria ocupar cada centímetro do planeta, o que equivale ao processo atual chamado de globalização.

Brasília vive intensamente a contradição de classes, com impacto sobre a moradia e o meio ambiente. Enquanto a classe alta invade as margens do Lago Paranoá, não sofrendo punição, a classe proletária é submetida a condições precárias dos Sol Nascente, Pôr do Sol, Varjões, Vilas Rabelos e ainda são perseguidos e criminalizados quando lutam por um direito! Ou não se pode lutar para não viver debaixo de pontes, viadutos e nas ruas? É isso que faz o GDF de Agnelo/PT: criminaliza os cidadãos que lutam por um direito!

São duas as tarefas imediatas para quem rejeita a vida do homem como lobo do homem. Mobilizar e organizar os jovens e a classe trabalhadora. Politizar o que foi naturalizado, elevando a consciência para dar o salto de classe em si a classe para si, mostrando a necessidade do partido como elemento central organizativo da política para a tomada do poder, para dar o salto que supere as determinações causadoras de “toda essa gente que só faz sofrer”, como cantou Renato Russo, poeta de Brasília.

A luta consequente por meio ambiente e moradia é a luta organizada contra a ordem do capital e o aparelho ideológico de Estado, com seus poderosíssimos meios de comunicação, partidos da ordem, igrejas, teóricos, universidades, ideologias.

*Marcello Barra é sociólogo  — Texto publicado originalmente em O Miraculoso