Quinta, 24 de maio de 2012
Paulo Peres
A inversão de valores pela ganância de auferir lucros cada vez
maiores ou simplesmente atos insensatos são institutos que atualmente
imperam no futebol brasileiro, mormente por parte de alguns membros da
imprensa, conforme pôde ser sentido no programa ‘Bem, Amigos!’ da ultima
segunda-feira no Sportv, onde o jornalista Alberto Helena Júnior
defendeu a elitização do futebol brasileiro, com o torcedor de
arquibancada vendo os jogos pela TV e uma pequena elite nos estádios.
Segundo Alberto Helena, “o estádio, como arena, um teatro grego, era
uma praça pública onde o povo ia para se manifestar, porque você não
tinha outro veículo de comunicação. Hoje em dia, o futebol, que é um
entretenimento de massa, encontra o seu palco na televisão, que alcança
as grandes multidões e todas as categorias sociais. O estádio passou a
ser o teatro e a receber uma ínfima parte do torcedor. E essa pequena
parte tem que fazer parte do espetáculo, então a tendência natural é a
grande massa vendo futebol pela TV e uma elite nos estádios”.
Entretanto, Ruy Carlos Ostermann, outro jornalista presente no
programa, disparou: “Isso é a elitização do futebol brasileiro.
Lamentável elitização. Quando o esporte começou, era jogado por
europeus, ingleses, e o pessoal mais simples observava à distância,
depois inverteu e agora quem está no campo são os atores e quem está
vendo é a elite? Isso é um problema sério. Eu não concordo que isso seja
inevitável. Pode alterar, por que não? Num estádio de 60 mil lugares,
não pode ter 20 mil ingressos a preços populares? Nós da imprensa temos
que tomar uma posição em defesa daquilo que entendemos como importante e
não do que está acontecendo”
Um outro fator foi lembrado pelo apresentador do programa, o narrador
Luis Roberto, ou seja, “os altos preços dos ingressos, lembrando que no
Brasil, ao longo dos anos, sempre tivermos torcedor de arquibancada,
aquele que empurra seu time durante os jogos e que atualmente tem
aparecido em menor número nos estádios. “O torcedor talvez não segure a
onda de quatro jogos no mês a R$ 60 ou até R$ 80, como ocorre com as
partidas do Corinthians no Pacaembu”.
Luis Roberto questinou o seguinte: “Quem aqui já foi a uma partida do
Barcelona sabe que é quase uma plateia. O cara vai para aplaudir,
contemplar, comprar e consumir, por isso paga em média 50 euros, mas
será que é legal para o futebol brasileiro trocar do torcedor de
arquibancada para o cliente?”
“Se o ingresso custasse R$ 5 para Botafogo x São Paulo, teríamos pelo
menos 30 mil no Engenhão, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro
deste ano”, explicou Luis Roberto.
Polêmico, Alberto Helena insistiu sobre a elitização do público nos
estádios brasileiros, com o torcedor comum restrito aos jogos pela
televisão, chegando a defender que os ingressos passem a ser
comercializados a grandes empresas, segundo ele algo mais adequado em se
tratando de grandes espetáculos.
“O veículo de comunicação de massa através da qual o torcedor vai ter
acesso a entretenimento, ao espetáculo é a televisão. Não é mais o
estádio. Deixou de ser. Sou da tese que esses espetáculo deveriam ser
vendidos para grandes empresas”, salientou Alberto Helena Júnior.
Elite nos estádios e torcedor comum em casa, vendo futebol pela TV,
sem dúvida, é mais um ato de discriminação contra o torcedor, na sua
maioria, composta por pessoas humildes, cuja paixão pelo futebol é
secular.
Fonte: Tribuna da Internet