Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Indignados, ocupar a política!

Sexta, 18 de maio de 2012


Por Marcello Barra
Ocupar a política é uma necessidade para combater a corrupção e a criminalização do movimento social, crescente na crise do capital. Ocupar é o contraponto ao “invadir” que a mídia (burguesa) tanto gosta, estigmatizando e criminalizando os lutadores que não aceitam a desigualdade e as injustiças.

Ocupar esteve originalmente conectado a locais físicos. Entretanto, o Occupy Wall Street deu um salto duplo por trazer o significado de ocupar a rua e ocupar o coração do sistema financeiro. Ocupar tornou-se o desestabilizador da ordem no centro do capitalismo, quando indignados tomaram a famosa Wall Street, sede da Bolsa homônima e de grandes bancos, que representam o sistema financeiro norte-americano. E, como é base do Império estadunidense, é o coração do sistema mundial.

A economia já havia quebrado na crise de 2007/2008, artistas já haviam produzido filmes instigantes como Trabalho interno (Inside job) e Margin call, faltava, entretanto, o fato social e político. O Muro de Berlim do capitalismo caiu com o Occupy, que tomou de assalto a falsa democracia (democracia de 1%). Portanto, a ação de massas criava outra política.

A campanha de Obama de 2008 gestou o Occupy nos EUA. Setores radicalizados deram um salto na experiência de uso das redes sociais da campanha de Obama em 2008 para escancararem as contradições do sistema capitalista sobre a vida cotidiana.

No Brasil, a prisão do rapper Emicida ao pôr o dedo na ferida, quando protestava contra políticos e a repressão policial à população, é estarrecedora. E, pior, não é um acontecimento fortuito: vem na sequência da prisão de Rita Lee por combater a violência policial a usuários de maconha durante show dela com a presença de Marcelo Déda/PT, governador de Sergipe, que defendeu publicamente a prisão da cantora.

Rasga-se a constituição ao ceifar a liberdade de expressão e garantias fundamentais. Na verdade, mostra-se a verdadeira natureza da lei: a serviço de 1% contra os 99%, a serviço dos Cachoeiras e banqueiros, políticos corruptos e empresas transnacionais.

A história recente de Brasília deve ser estudada para se entender a importância de se ocupar na cidade-sede do Estado brasileiro. Os estudantes indignados com a gestão do reitor Timothy Mulholland ocuparam a reitoria da UnB e derrubaram esta figura triste para a universidade brasileira, que hoje só encontra par com o tucano João Grandino Rodas, da USP.

O movimento cresceu e pautou a vida política de Brasília, ao ocupar a Câmara Legislativa do DF e protagonizar o Fora Arruda e Toda Máfia!, que levou à queda do PÓ, o Paulo Otávio, e Wilson Lima. O retrocesso se deu com a eleição indireta de um governador biônico, Rogério Rosso/PMDB, com o voto do PT, que indicou um nome e votou noutro, num acordão para terminar tudo em pizza, com Arruda desfrutando livre e impunemente o que faturou no governo.

A luta de classes, desde sua formulação nas bases racionais do materialismo dialético, é internacional, quando Marx conclamou: "Trabalhadores de todos os países, uni-vos". Este chamado tem sido bem apreendido pelos socialistas. Os indignados são hoje a vanguarda da luta mundial, são o setor mais avançado rumo à democracia real. Não se trata mais apenas de ocupar um local físico, mas a atividade humana que lida diretamente com a possibilidade de mudança: a política.

Nos dias de hoje...
Não ponha o dedo na nossa ferida.
...
Cai o rei de Espadas
Cai o rei de Ouros
Cai o rei de Paus
Cai, não fica nada. (Cartomante – Ivan Lins, 1978)

Sarkozy já caiu na França. Na Grécia, caiu o PASOK (PT delles), caiu o Nova Democracia (PSDB), ficou um vazio de poder. O partido considerado vencedor, Syriza, é uma coalizão de esquerda anticapitalista e já cresceu quase 10%, chegando a 25,5% das intenções de voto, e está em primeiro lugar para a próxima eleição, que deverá ocorrer em junho. Alexis Tspiras, líder do Syryza, é o mais indicado nas pesquisas de opinião para primeiro-ministro, com 19%.

Quando se indignar e pôr o dedo na ferida é crime, só resta aos indignados ocuparem a política!

por Marcello Barra - sociólogo - para O MIRACULOSO