Segunda, 21 de maio de 2012
Pedro do Coutto
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a extensão e
sobretudo a profundidade das articulações sombrias de Carlos Ramos
Cachoeira, sob o protesto do deputado Miro Teixeira, decidiu não
convocar os governadores Marconi Perilo, Agnelo Queiroz e Sérgio Cabral,
e também não o empresário Fernando Cavendish, segundo se apresenta,
ex-proprietário da Delta Construções. Alguns justamente revoltados com
tal absurdo levantaram a hipótese de que tudo vai acabar em pizza. Não
acredito.
Claro que, eticamente, seria importante ouvir os depoimentos dos
governadores de Goiás, Brasília e do Rio de Janeiro sobre o desenrolar
dos escândalos que ocupam as primeiras páginas dos grandes jornais. Como
também a versão do veloz empresário Fernando Cavendish, cuja ex-empresa
saltou, em poucos anos recentes, do meio do segundo plano para o topo
do primeiro onde dominam as empreiteiras de maior porte do país.
Entretanto, francamente, não creio na necessidade urgente do
comparecimento de todos estes personagens, por dois motivos. Primeiro
porque as evidências já são suficientes contra todos eles. Como Nelson
Rodrigues dizia do videotape, que pode ser burro mas não é mentiroso, o
mesmo raciocínio cabe plenamente no caso das gravações telefônicas e nas
fotografias publicadas. Inclusive as imagens de Paris e Monte Carlo.
A sociedade já formou sua opinião a respeito da tragicomédia
protagonizada pelos atores do poder administrativo, do universo político
e do mundo financeiro. O comprometimento entre a esfera pública e os
interesses particulares é mais do que evidente.
Tanto assim que, por exemplo, o governador Sérgio Cabral sustentou a
versão de que não tinha conhecimento das ligações entre seu companheiro
de viagem, Fernando Cavendish e Carlos Cachoeira, por seu turno parceiro
principalmente do senador Demóstenes Torres. Na CPMI do Congresso,
claro, todos negariam tudo. Não iriam confessar verdadeiras razões e
participações.
Marconi, Agnelo e Cabral, não vão ser condenados, não terão seus bens
bloqueados, tampouco irão para a prisão. Mas isso não significa que
tudo vá acabar na quarta-feira. Existe o tribunal da opinião pública,
único que, no Brasil, leva os processos às decisões definitivas. Chico
de Góis e Paulo Celso Pereira, no Globo, José Ernesto Credêncio e
Andreza Matais, Folha de São Paulo, assinaram reportagens candentes nas
respectivas edições de sexta-feira. No Globo, foto de André Coelho.
Revoltados, os repórteres, refletindo a sentimento popular,
acentuaram estarmos, todos nós, próximos ao forno da pizza. Não é bem
assim.
Em primeiro lugar, as cartas já estão na mesa, a evidência quanto aos
comprometimentos é nítida. Porém não é só isso. CPIs, examinando-as bem,
a partir de seus desfechos, nunca acabam em massas italianas
repartidas.
A de Fernando Collor terminou com o impeachment e a queda do
presidente da República. A do Mensalão culminou com a derrubada do
ministro José Dirceu da Casa Civil e a cassação de seu mandato
parlamentar. A CPI das Ambulâncias causou a demissão sumária de vários
auxiliares diretos do presidente Lula e com a proibição de deputados
buscarem a reeleição nas urnas.
O inquérito sobre a atuação da ex-ministra Erenice Guerra levou à sua
exoneração. Era pessoa de confiança da presidente Dilma. Com a vitória
nas urnas permaneceria à frente da Casa Civil. Perdeu o posto e a
continuidade nele. O mesmo aconteceu com Antonio Palocci, demitido do
Ministério da Fazenda no governo Lula. Demitido da Casa Civil do governo
Dilma. O caso do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, outro
exemplo. Há muitos na estrada. Não vale a pena citá-los um por um.
Todas as investigações começam com negativas e dispensa de
depoimentos. Porém não terminam assim. Aprofundam-se. Um depoimento leva
a outro. Marconi, Agnelo, Sérgio Cabral e Fernando Cavendish não se
livram. Os desdobramentos da CPI vão acabar levando-os inevitavelmente
ao Congresso. É sempre assim.
Fonte: Tribuna da Internet