Sexta, 4 de maio de 2012
Por Ivan de Carvalho
Como uma ovelha negra, que
se recusa a seguir os caminhos traçados para o rebanho, a CPI mista da
Cachoeira já conseguiu pular a cerca que lhe estava impondo o governo e o PT
com a inestimável colaboração do PMDB e desembestou a correr por campos proibidos.
Desde o princípio, o PT
orientado pelo ex-presidente e seu ex-ministro chefe da Casa Civil, José
Dirceu, quis criar o controlar rigidamente a CPI mista, na pretensão de atingir
determinados objetivos.
Não se tratava muito de atingir o DEM por intermédio
de seu então líder no Senado Federal, Demóstenes Torres, porque este
parlamentar já estava politicamente morto apenas em decorrência dos vazamentos
do inquérito da Polícia Federal, no âmbito da Operação Monte Carlo, antecidade
pela Operação Vegas.
Se já estava politicamente morto com isso, seria
enterrado pelo Conselho de Ética do Senado por quebra do decoro parlamentar –
para o que não são necessárias provas legalmente obtidas, mas apenas indícios
fortes que permitam um julgamento político que leve à cassação do mandato.
Ademais, o procurador geral da República,
Fernando Gurgel, pediu ao STF – e este deferiu – abertura de uma investigação
contra o senador, como preparação para oferecimento de denúncia e abertura de
processo. Gurgel, na verdade, fez um pedido extemporâneo, pois a PF já estava
investigando o senador como se não estivesse há um ano e meio ou dois. Sem
autorização do juízo competente. Ou Gurgel foi retardatário ou a PF pôs o carro
à frente dos bois. Mas por enquanto essa baderna jurídico-legal está valendo,
ainda que por decisão liminar do ministro Lewandowski, do STF.
Bem, mas visto que Demóstenes, hoje sem partido
(fugiu do DEM quando este abriu um processo para expulsá-lo), politicamente
acabou, não seria ele, de nenhuma maneira, o estímulo para Lula, Dirceu e o PT
mandarem criar, sem dar satisfações à presidente Dilma Rousseff, a CPI mista. A
presidente já percebeu o míssil em curso e além do ponto de não retorno. Então,
acalmaram-no, confabularam com ela (só as fotos foram divulgadas, as conversas
não).
Queriam pegar o governador de Goiás, Marconi
Perillo (ele disse o imperdoável, que avisara Lula sobre o Mensalão, o mesmo
Lula que não sabia de nada) tentariam pegar “a grande mídia”, entendida esta,
no caso, como a revista Veja, e controlariam
a CPI, com ampla e seletíssima maioria em sua composição e com um presidente do
PMDB e um relator do PT ainda mais cuidadosamente escolhidos. A Delta
Construções, setor do Centro-Oeste, seria também alvo, de modo a atingir o
governador tucano de Goiás, Marconi Perillo.
Mas na quarta-feira a CPI mista começou a furar a
blindagem construída pelo PT e aliados para proteger o governo, evitando a
temida contaminação. A CPI decidiu investigar as ligações da Delta Construções
– a empresa que mais pegou obras do PAC – com Carlinhos Cachoeira não somente
no Centro-Oeste, como propunha o relator Odair Cunha, do PT mineiro, mas no
Brasil todo. Essa é a primeira grande ampliação do raio de ação da CPI mista,
revelando um potencial para eventualmente se colocar fora de controle.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.