Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 5 de maio de 2012

Rompe-se a fronteira entre o público e o privado

Sábado, 5 de maio de 2012
Roberto Nascimento*
O escândalo Cachoeira-Delta, a empresa que venceu a maioria das licitações públicas do Rio de Janeiro nos últimos tempos está sendo muito importante para o esclarecimento da população. O povo do Rio de Janeiro começa a perceber que vota muito mal em seus governantes.

Morando há três anos aqui em São Paulo por contingências do trabalho em Guarulhos, tenho que aturar docemente constrangido, as gracinhas dos paulistas acerca dos políticos nos quais nós votamos. Num ponto eles têm razão, apesar dos Ademar de Barros, Malufs, Pittas e outros menos votados.

Os cariocas não tem tido muita sorte. O próprio Garotinho, que muito justamente ataca sem piedade o Cabral, fez um péssimo governo e ainda conviveu com um secretário de Segurança aliado de bandidos, desmascarado, cassado da Assembléia Legislativa quando era deputado e preso. Lamentável.

O PMDB, que sempre foi o fiel da balança de todos os governos, agora arma uma blindagem para impedir o governador Sergio Cabral de depor na CPI do Cachoeira sobre suas relações com o dono da Delta.

A política empreende uma lógica perversa:  se os acusados de ilícitos são do partido adversário merecem ser massacrados; entretanto, quando as investigações apontam para seus próprios quadros, epa! “esse é nosso aliado”. E aí todos da base aliada correm para impedir que prestem depoimentos.

Por mais que blindem, o estrago já foi feito. O que fazem é piorar a situação deles e daqueles que olham apenas para o traseiro do vizinho. A população começa, então a perceber que todos têm algum podre a esconder. Isso repercute muito mal no inconsciente do povo, que passa a entender que todos são iguais na gatunagem do dinheiro público.

Várias pessoas comentam comigo que quando ouvem algum político falar em interesse público associam a palavra a interesses particulares e de seus grupos no centro do poder.

Agora, como dizia o saudoso Ulysses Guimarães na época da CPI do PC Farias (tesoureiro do presidente Collor), na qual ele inicialmente era contra e depois ficou a favor: “CPI a gente sabe como começa, mas não sabe como termina”.

E essa CPI do Cachoeira promete ser mais avassaladora do que aquela que derrubou Collor do poder. Naquela, o alvo foi o presidente da República, nessa vários governadores estão na berlinda, intimamente encalacrados no jogo do poder que envolve nepotismo, apadrinhamento político, amizades coloridas, nomeações e fraudes em licitações de obras públicas.

Se não houver uma blindagem muito bem feita, o mundo político virá abaixo com todas as consequências trágicas e imprevisíveis.

*Publicado, neste sábado, na Tribuna da Internet.