Quinta, 3 de maio de 2012
Da Agência Brasil
Alex Rodrigues, repórter
A ex-empregada doméstica Tatiane Alves de Jesus disse que se sentiu aliviada quando soube, pela Agência Brasil,
que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) a
absolveu da acusação de caluniar o deputado distrital e ex-delegado de
polícia Márcio Michel Alves de Oliveira, o Doutor Michel (PSL). Tatiane
de Jesus afirma ter sido torturada pelo deputado distrital em 2009,
quando ele ocupava o cargo de delegado em uma delegacia de polícia da
capital do país.
Procurada esta manhã (3), Tatiane comentou jamais ter entendido como,
de vítima e testemunha do assalto à casa onde trabalhava em 2009 e de
autora da denúncia de que o delegado a teria torturado para que ela
confessasse participação do roubo, acabou respondendo à acusação de
denúncia caluniosa, crime cuja pena varia de dois a oito anos de prisão e
da qual foi inocentada na última sexta-feira (27).
“É uma pergunta que nem mesmo o juiz soube responder quando eu fui
denunciada. Eu pensei comigo: este é o Brasil. Um inocente pode ir pra
cadeia enquanto vários culpados estão soltos”, lamentou a ex-empregada
doméstica que, hoje, trabalha como auxiliar de ensino infantil. Ela
espera que, com a absolvição do crime de denúncia caluniosa, Doutor
Michel “pague por toda a mudança na minha vida”.
“Eu só queria meu nome limpo. Até porque preciso disso para prestar um
concurso público. Para mim, o caso se encerrou aqui, embora eu espere
que a Justiça seja feita”.
Na entrevista a Agência Brasil, Tatiane de Jesus
lamentou que a ex-patroa dela tenha acreditado na versão da Polícia
Civil. A ex-empregada repetiu tudo o que narrou nos vários depoimentos
que prestou desde julho de 2009. Naquela data, sustenta, três homens
armados invadiram a casa em que trabalhava, em um condomínio de classe
média na cidade satélite de Sobradinho.
“No dia seguinte ao roubo eu fui à delegacia para servir de testemunha.
Contei o que tinha acontecido, mas o Doutor Michel não acreditou na
minha versão. Eu fiquei por mais de 24 horas na delegacia e, durante
esse tempo, fui torturada psicologicamente e fisicamente”
De acordo com Tatiane, o delegado e hoje vice-presidente da Câmara
Legislativa do Distrito Federal pegou um cassetete e bateu nas palmas
das mãos dela ao menos quatro vezes. “Ele dizia que sabia que eu não era
bandida, mas que eu tinha cometido uma falha e que era melhor eu
confessar ou, então, ele passaria a bater também nos meus pés e a
situação ainda iria piorar. Ele queria [provar] que eu era a mandante do
roubo. Eu assinei uma confissão admitindo ter ajudado os assaltantes,
mas nem me lembro direito do conteúdo da confissão porque eu estava
apanhando”.
A ex-empregada disse que ficou incomunicável na 35ª Delegacia de Sobradinho das 13h do dia 16 às 18h do dia 17 de julho.
À Agência Brasil, o deputado distrital Doutor Michel
negou a acusação de tortura. Ele garantiu que, durante este tempo,
Tatiane falou com várias pessoas que estiveram na delegacia. “Quando ele
me soltou, ameaçou me matar se eu contasse a alguém o que tinha
acontecido. Só que eu não tenho medo. Sinceramente, eu não tenho medo”,
comentou Tatiane. Depois de liberada, Tatiane prestou queixa contra
Michel na Corregedoria da Polícia Civil e se submeteu a exame de corpo
delito no Instituto Médico-Legal (IML).
“O resultado apontou um laudo impreciso porque, além do tempo que havia
passado, as mãos têm uma facilidade maior de esconder hematomas”,
explicou Tatiane de Jesus.
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