Sábado, 12 de maio de 2012
Por Ivan de Carvalho
Em abril, o ministro da
Integração Nacional, Fernando Bezerra, anunciou que o governo federal vai
“disponibilizar” R$ 2,723 bilhões para “ações emergenciais” de combate à seca. Os
recursos, se e quando liberados, serão repartidos entre todos os estados do
Nordeste atingidos pela estiagem e Minas Gerais.
Mas este anúncio foi feito em abril. A seca é
muito mais antiga. O socorro vem, se vier, incrivelmente atrasado. Não me
refiro à seca em geral, pois este fenômeno na região é, no mínimo, secular, mas
à atual seca. Para confirmar isso sem precisar percorrer o semiárido ou
conversar com as pessoas que o fazem habitualmente, basta atentar para
informações que prestou o secretário estadual Rui Costa, chefe da Casa Civil do
governo do Estado.
Ele disse que esta é a seca mais intensa dos
últimos 47 anos na Bahia. Este número foi citado porque em 1965 houve outra
seca tão devastadora quanto esta, com uma agravante e uma atenuante.
A agravante foi a de que naquele tempo a
estrutura de armazenamento de água e de socorro quando esta faltava (carros
pipas) era muito mais precária que a atual.
A atenuante é que naquele tempo existiam menos
pessoas, menos animais de criação e menos cultivos agrícolas dependendo de
água. E o governo ainda não havia inventado coisas como a merenda escolar (meio
inútil onde há greve de professores), a bolsa família e a bolsa seca, um
penduricalho que pintou agora (sem esse nome, claro) na bolsa família.
Em compensação, como favorecimento àquela seca de
1965, a destruição da vegetação nativa não estava avançada como está hoje, quando
já destruiu a maior parte das fontes de água (minações) e a população, bem
menor, ainda não contaminara muitos dos mananciais hoje inutilizáveis. Assim, a
água existente abastecia, ainda que em nível crítico, uma população muito menor.
Hoje, com o crescimento da população, dos rebanhos e da agricultura irrigada, os
espasmódicos esforços oficiais para obter e armazenar água não evitam que a
situação seja tão precária quanto a da seca de 47 anos atrás.
Quase meio século e o Estado brasileiro foi
incapaz de minorar o problema, muito menos resolver. Em abril, 220 municípios
já haviam decretado situação de emergência e o Estado havia homologado esta
situação em 209 deles.
O grande problema da seca no semiárido brasileiro
é a teimosia negligente e inaceitável do Estado de ver o fenômeno como algo
casual, eventual, não como um fenômeno recorrente, que vai continuar
acontecendo a intervalos nada generosos. Entre a seca de 1965 e a de agora,
muitas outras, menos intensas, mas desastrosas, aconteceram. E a seca de 1965,
a que se refere o secretário Rui Costa, tem precedente à altura em 1933.
Duas observações para fazer justiça. Primeira, e
mais importante sob o aspecto da água, o trabalho intenso realizado pelo
governador João Durval na preparação do semi-árido baiano para as estiagens e
secas. Segunda, e mais importante sob o aspecto econômico, a iniciativa do
governador César Borges, que criou o Programa de Desenvolvimento Sustentável do
Semi-Árido – mais conhecido como Sertão Forte – e entregou sua coordenação à
competência e disposição do então vice-governador, Otto Alencar. O atual
governo, de Jaques Wagner, está aí com o Programa Água para Todos, mas por
enquanto essa água está faltando para muitos.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.