Quarta, 15 de agosto de 2012
Por
Ivan de Carvalho
A
insegurança pública para o Centro Municipal de Educação Infantil Vovô Zezinho,
no bairro do Arenoso, levou a Secretaria de Educação de Salvador a anunciar que
essa escola, que atende 151 crianças de um a cinco anos, será transferida de
endereço, em busca da redução da insegurança a um grau tolerável. O secretário
João Carlos Bacelar está procurando um imóvel no bairro ou em um bairro próximo
para que os alunos sejam transferidos ainda este ano, o mais depressa possível.
Na
área onde está localizada atualmente a escola acontecem tiroteios com
frequência, a qualquer hora do dia, o que assusta as crianças e os professores,
existindo registro de que o carro de uma professora já foi atingido por tiros,
segundo relatou ontem o site Bahia Toda Hora.
A
informação da Secretaria Municipal de Educação foi prestada na segunda-feira
pelo secretário João Bacelar. Ontem, a Secretaria de Segurança Pública do
Estado emitiu nota oficial garantindo que, mesmo sem haver sido assinado um
convênio anunciado em março pela Polícia Militar, entre o Município de Salvador
e Estado da Bahia, para proteção pela polícia estadual dos estabelecimentos
escolares municipais, o policiamento na região é executado sistematicamente, com
o registro, do começo do ano até aqui, de 53 chamadas apenas de escolas
municipais do Arenoso.
Ora,
aí está uma confissão de que as coisas lá, parafraseando Chico Buarque, estão
pretas. Se houve 53 chamadas apenas de escolas municipais do Arenoso, isso
comprova que a insegurança na região é muito grande, do contrário não teriam
sido necessárias tantas chamadas. A PM esclarece que, quando solicitada, envia
equipes para acompanhar eventos específicos. Acrescenta que este ano 15
criminosos foram presos e outros cinco morreram em troca de tiros, no Arenoso.
Está
aí uma nota que, com a intenção de desmentir ou esclarecer, realmente
esclarece, mas confirmando, uma confissão espetacular da insegurança reinante
na área em questão. A PM realmente dá conta de sua atuação, mas também dá conta
da intensa atuação dos bandidos, até porque é óbvio que, se estão as coisas não
só como a prefeitura, mas como a própria PM diz, certamente que há bem mais
bandidos que os 15 presos e cinco mortos em combate.
Vistas
as coisas pelo ângulo da Polícia Militar, a nota faz sentido, mas se vistas pelo
ângulo do governo do Estado, não faz bem. É que ela confirma a situação de
intolerável insegurança pública nas áreas da rede municipal de educação nos
bairros pobres da capital, sendo legítimo extrapolar uma conclusão: se tais
escolas estão com problemas de segurança tão graves em seu entorno, não podem
estar em situação tolerável a cidade e mesmo o estado. As informações, o
sentimento popular de insegurança, a cobertura policial dada pelos jornais e por
alguns programas de televisão – tudo isso mostra que o intenso esforço da PM é
muito pequeno para o tamanho do problema.
Há
notícias em circulação na mídia – o jornalista Raul Monteiro dá conta disso em
comentário assinado no site Política Livre – de que, segundo informações
circulantes na prefeitura, o governo estadual teria ficado “irritadíssimo” com
a decisão de transferência da escola, porque a notícia que isto gerou seria
“inoportuna”. Irritação a conferir, apesar da nota da PM, que dá a pista.
Não é preciso
aprofundar o assunto, investigando porque seria inoportuna, se assim foi
realmente considerada pelo governo estadual. Meu Deus, inoportuno mesmo seria a
prefeitura deixar as crianças no meio do tiroteio até meados ou fins de
outubro.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.
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Do Gama Livre: Dê um clique sobre a imagem e localize o violento bairro Arenoso, em Salvador, sinalizado com um balão vermelho. As marcas amarelas indicam o Farol da Barra, o Mercado Modelo e o Pelourinho. Arenoso fica, em linha reta, a 7 quilômetros e 200 metros do Largo do Pelourinho, poucos metros a mais do que a distância da rodoviária no centro do Plano Piloto de Brasília e o final de uma das Asas (Sul ou Norte).