Quarta, 1 de agosto de 2012
Carlos Newton, da Tribuna da Internet
Este artigo complementa os dois anteriores, publicados em 30/7 e 31/7 .
A presidente Dilma Rousseff não suporta o ministro Guido Mantega. Só
aceitou mantê-lo por imposição do ex-presidente Lula, que fez questão de
montar o ministério de sua sucessora. Dilma aceitou a pressão, mas fez
questão de nomear um economista de sua confiança para a
secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, colocando Nelson Barbosa
na equipe de Mantega, para vigiá-lo bem de perto.
Mantega ficou numa posição desconfortável, mas não largou o cargo,
continuou agarrado a ele com todas as suas forças. A presidente Dilma
sabe que Mantega não merece crédito, porque está a serviço do “sistema
financeiro” desde sua desastrosa passagem pela presidência do BNDES,
quando determinou que todas as operações do BNDES fossem “intermediadas”
pelos bancos, que levam uma comissão de cerca de 4% ao ano, muito maior
do que a percentagem do BNDES, que entra com todos os recursos dos
financiamentos.
O BNDES recebe como remuneração a chamada TJLP (Taxa de Juro de Longo
Prazo, que gira em torno de 6% ao ano. Atualmente, está em 5,5%. Em
alguns programas, o banco adiciona uma taxa de risco ou algo assim.
Portanto, subtraindo-se a inflação, às vezes o BNDES nem recupera o
dinheiro que oferece para financiamento. Mas os bancos “intermediários”
têm os 3%, 3,5% ou 4% garantidos, sem investirem um só centavo.
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SERÁ QUE DILMA SABE?
Será que a presidente Dilma Rousseff tem conhecimento desse
inexplicável privilégio do BNDES aos bancos? Será que ela sabe que esse
favorecimento foi cortado por Carlos Lessa em 2003 e depois retomado por
Mantega em 2005 e até hoje mantido pelo atual presidente Luciano
Coutinho? Pode ser que saiba, mas pode ser até que nem saiba nada disso,
vamos lhe conceder o chamado benefício da dúvida.
Mas, com toda certeza, Dilma Rousseff sabe que Mantega é um burocrata
a serviço dos banqueiros. Aceitou mantê-lo por pressão de Lula, mas
exigiu a saída de Henrique Meirelles do Banco Central. Nomeou Alexandre
Tombini para o BC e agora o governo está conseguindo um milagre –
começar a reduzir a taxa básica de juros, a Selic. Contra a vontade dos
banqueiros, é claro.
Mantega, óbvio, era contra a redução da Selic, mas Dilma passou por
cima dele como um trator. A presidente o humilha, chama a atenção dele
por qualquer motivo, trata mal na frente dos outros, mas Mantega se
mantém agarrado ao cargo feito um carrapato financeiro, porque acredita
que possa haver um revertere, ele conhece o poder incomensurável dos
banqueiros.
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PARA DERRUBAR DILMA
E esta é justamente a grande guerra que hoje se trava nos bastidores
do poder. Os banqueiros agora querem destruir Dilma Rouseff de qualquer
maneira, e contam com o apoio total de Guido Mantega. Para os bancos, é
melhor repor Lula no Planalto do que continuar suportando o ataque de
Dilma Rousseff, que está usando a força do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal contra os bancos privados.
Este é o quadro atual. O câncer de Lula foi curado, mas lhe deixou
terríveis seqüelas – ele não consegue caminhar direito, tem dificuldades
até mesmo para gravar uma mensagem aos eleitores de São Paulo. Na
última vez que tentou, sua voz de vez em quando falhava. Agora reclama
do inchaço no pescoço.
Tudo depende de Lula. Se ele se recuperar completamente, os
banqueiros vão recolocá-lo no Planalto. O exame que fará no próximo dia 6
(segunda-feira) no Hospital Sírio-Libanês será muito importante. Se ele
não tiver condições de fazer campanha para Fernando Haddad, a situação
se delineia de uma forma. Mas se Lula estiver bem, os banqueiros
soltarão foguetes e tudo farão para desestabilizar a candidatura de
Dilma Rousseff à reeleição. Como dizia o genial compositor e
publicitário Miguel Gustavo, meu vizinho no famoso edifício Zacatecas,
“o suspense é de matar o Hitchcock”.
Se a gente acreditasse em teoria conspiratória, iria dizer que a onda
de greves, agora engrossada pelos caminhoneiros e pelos servidores do
Judiciário, já estaria sendo incentivada pelos banqueiros. Mas pode ser
apenas uma grande coincidência. De toda maneira, os banqueiros são
amorais e capazes de tudo. Representam o que há de pior no capitalismo.
Banco é serviço público, devia ser estatal. Simples assim.