Segunda, 13 de agosto de 2012
Por Ivan de Carvalho
Segundo
relatou em seu blog o jornalista Ricardo Noblat, ele foi a uma festa em
Brasília, cumprimentando, “na chegada e na saída” – esta já na madrugada de
sábado – o ministro do Supremo Tribunal Federal, José Antonio Dias Toffoli.
Quando deixava a casa em que a festa se realizava, sentiu-se “atraído por
palavrões ditos pelo ministro em voz alta, quase aos berros”. Noblat relata na
nota que voltou e ficou em um ponto do terraço de onde podia ouvir, “com
clareza”, o que Toffoli dizia.
O
alvo dos palavrões – escreveu Noblat no blog e depois, no twitter, mencionou
testemunhas – era o próprio Noblat. “Esse rapaz é um canalha, um filho da puta”
e “ele só fala mal de mim” foram, pelo que postou o jornalista em seu blog,
apenas a ignição para o jato de palavrões que, de tão pesados, vou poupar os
meus leitores de lê-los aqui mais do que já leram. Poderão ser encontrados,
para os mais curiosos ou os que não quiserem confiar na imaginação, com uma
rápida ajuda do Google.
Até o início da
noite de ontem o ministro Toffoli não havia desmentido o relato de Noblat. E
não havia nenhum bando de jornalistas dando plantão em frente da residência do
ministro, à espera de um eventual desmentido. É claro que um desmentido de
Toffoli, verbal ou em nota oficial, pouco importa, ampliaria extremamente a
repercussão do caso. Iria fazê-lo transbordar da Internet para os demais meios
de comunicação, sem exceção. E assim muita gente que está alheia ao assunto
iria ter conhecimento do incidente, interessar-se e buscar mais informação.
De qualquer
maneira, essa ampliação da repercussão não é um dano a que ele deva
esquivar-se. A Lei Orgânica da Magistratura estabelece que ao magistrado cumpre
ter um comportamento incensurável tanto na vida pública como na vida privada, o
que inclui festas do tipo a que Toffoli e Noblat compareceram – junto a muitas
outras pessoas – em casa de “um amigo comum”, conforme o jornalista. Assim,
Toffoli, para tranquilizar a nação quanto ao comportamento de um ministro da
corte suprema, tem as opções de desmentir a chuva de palavrões ou processar o
jornalista Ricardo Noblat por difamação. Silenciar pode até ser a alternativa
menos incômoda (embora ainda assim muito incômoda), mas é a pior das três.
Bem,
permanecendo no assunto, mas mudando de rumo, ocorre-me uma questão pungente.
Note-se que um jornalista estava numa festa em que também estava uma das mais
altas autoridades do país e, mal ia saindo, foi, conforme seu relato, agredido
à larga com palavrões.
Fico imaginando
o drama em que, pelo menos de agora em diante vão estar permanentemente os
jornalistas brasileiros. Vão eles, por exemplo, a entrevista coletiva concedida
por uma autoridade e, terminada a sessão de perguntas e respostas, a bancada de
imprensa continua a postos. Não saem os repórteres às pressas para os seus
veículos de comunicação ou para os seus laptops ou para a próxima tarefa da
pauta do dia.
Ficam os
prudentes jornalistas ali, plantados, mais do que desconfiados, com profundo
temor de, ao virar as costas, serem xingados, juntamente com suas respectivas
mães, e agredidos com palavrões e com as mais indigestas sugestões. Se, no
final, resolverem retirar-se, andarão de costas – ou andarão normalmente mesmo,
mas de repente se voltarão, na esperança de flagrar as “declarações” mais
importantes, ainda que delas sejam alvos ou vítimas.
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Este artigo foi publicado originalmente
na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.