Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 19 de agosto de 2012

Políticos detectam migração


Segunda, 20 de agosto de 2012
Por Ivan de Carvalho     
Um estudo técnico não divulgado, mas conhecido em círculos muito restritos, recentemente realizado em Salvador, incluiu tendências quantitativas e qualitativas sobre o eleitorado de Salvador.
        
        Sobre as tendências quantitativas desse estudo, especificamente, já tratei neste espaço com os cuidados necessários a assegurar observância da legislação eleitoral, já que o estudo não se destinava à divulgação, mas à utilização reservada, e não houve, portanto, a preocupação de registrá-lo junto ao TRE.
           
         Cumpre assinalar que uma pesquisa feita para ser divulgada por interesse jornalístico, encomendada pela TV Bahia ao Ibope (como parte da política de realização e divulgação de pesquisas eleitorais da Rede Globo) apresentou resultados parecidos com aquele estudo de que falamos.       

           O índice de intenção de votos no democrata ACM Neto divergiu apenas em um ponto percentual, o que não é significante. O índice atribuído ao petista Nelson Pelegrino foi moderadamente abaixo do encontrado no estudo reservado. No caso do peemedebista Mário Kertész, a desvantagem na pesquisa divulgada, em relação ao encontrado no estudo reservado, foi muito relevante. Não dá para saber (aferições futuras poderão esclarecer) se uma delas errou aí ou se houve um movimento no eleitorado desfavorável a Kertész entre uma e outra.

No entanto, o que importa, para efeito do tema hoje abordado, são os resultados qualitativos (que os quantitativos só corroboram). Apurou aquele primeiro estudo que o eleitorado de Salvador está querendo algo novo e tira suas conclusões, que vou deixar ao próprio leitor-eleitor imaginar.

Bem, deixo de lado essas duas aferições, mas sem esquecê-las totalmente, porque dão algum suporte à tese que está se firmando nos meios políticos da Bahia. Essa tese é de que o eleitorado do PT, que surgiu e cresceu gradualmente na capital e algumas grandes cidades do estado, está migrando, nem seria para os médios, mas para os pequenos municípios – ou, numa linguagem um pouco de má vontade que alguns usam, para os grotões.

Na capital e grandes cidades, o que haveria? Difícil ser específico e incisivo. Sempre há fatores tipicamente locais. Mas não só. Talvez uma certa fadiga, um declínio um tanto vertiginoso do fascínio que o discurso petista exercia sobre um eleitorado exposto em seguida a uma realidade em alto grau não correspondente. Desgaste por desgosto, desilusão. E alguns fatos determinados que repercutem com mais força nos grandes centros urbanos – a greve da PM, a dos professores. Nos grandes centros do interior, como nos pequenos, a fragilidade da estrutura e serviços contra a seca.

Mas nos pequenos municípios, o poder petista maneja uma rede de instrumentos poderosos em pequenas comunidades. Alguns, bons. Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, cisternas (apesar da opção, difícil de entender, pelas de polietileno, mais caras, menos duradouras e alienígenas), as equipes do Programa de Saúde da Família.

E há as pequenas obras, relativamente baratas e de resposta eleitoral imediata. Pavimentação de ruas com paralelepípedo, limpeza de microbarragens particulares (até em detrimento dos grandes barreiros, o que, técnicamente, não seria a opção recomendável).

E alguns instrumentos duvidosos. ONGs recebendo dinheiro público e, às vésperas das eleições, fazendo campanha para o PT, legiões de agentes eleitorais de movimentos sociais, especialmente da CUT e MST, com surpreendente fartura de recursos.

A conjugação desses três tipos de instrumentos permite ganhar e segurar o eleitorado dos pequenos municípios.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.