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(Millôr Fernandes)

sábado, 27 de outubro de 2012

Véspera de eleição

Sábado, 27 de outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho
Estamos afinal na véspera do segundo turno das eleições para prefeito. Em Salvador, depois da pesquisa Ibope realizada de 17 a 19 deste mês e que deu oito pontos de vantagem ao candidato democrata ACM Neto sobre seu competidor, o petista Nelson Pelegrino – tanto nas intenções de voto considerando-se o total do eleitorado quanto em relação aos chamados votos válidos – não houve uma nova oportunidade de avaliação técnica da situação eleitoral.
             
              Claro que amostragens para consumo interno das campanhas, de modo a orientar suas estratégias ocorreram, mas foram mantidas sob reserva, de modo que têm muito pouco valor para análises de jornalistas e muito menos para o eleitorado em geral, ao qual delas nada lhe foi dado saber.
           
         Neste segundo turno, quatro fatores beneficiaram a campanha de ACM Neto. O primeiro deles foi o impacto psicológico da classificação para o segundo turno em primeiro lugar. Embora pela diferença mínima de 5.626 votos sobre o concorrente, primeiro lugar é primeiro lugar e isso tem força. Praticamente embutido neste primeiro fator está o fato de que o Ibope, único instituto a divulgar pesquisas eleitorais sobre as eleições de Salvador durante a campanha para o primeiro turno, apontava, desde 27 de setembro, o candidato do PT, Nelson Pelegrino, como vencedor, com uma vantagem crescente, que chegou a seis pontos percentuais no sábado véspera da eleição e a incríveis sete pontos na pesquisa de boca de urna, no domingo, 7 de outubro. Então abrem-se as urnas e, do começo ao fim das apurações, Neto se mantém à frente. Isso foi um anticlímax doloroso para a campanha do petista e um empurrão vigoroso na campanha de ACM Neto.
           
         O terceiro fator a beneficiar Neto, e muito, foi a lei, que estabelece condições iguais de tempo na propaganda eleitoral pela televisão e rádio para o segundo turno. Diferentemente do que aconteceu na campanha para o primeiro turno, quando a campanha de Pelegrino teve quase o triplo do tempo da campanha de Neto, este passou, no segundo turno, a dispor de tempo igual ao do adversário.
         
          O quarto fator benéfico foi a adesão do PMDB. Da mesma forma que para Pelegrino foram benéficas as adesões do ex-candidato peemedebista Mário Kertész e do ex-candidato do PRB, deputado bispo Márcio Marinho. Ah, Da Luz também aderiu. Claro que outro fator favorável à campanha de Pelegrino foram as visitas da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, que participaram de comícios.
        
        Saindo de fatores estritamente locais, há que registrar a permanente presença em toda a campanha eleitoral no país – como um ruído de fundo para toda a mobilização eleitoral – do julgamento do processo do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Um ruído de fundo muito desagradável para o PT, não especificamente em Salvador, mas em todo o país.
     
       Os eleitores curiosos poderão conhecer, na noite de hoje, a pesquisa do Ibope (a segunda do instituto neste segundo turno) que a TV Bahia divulgará. E talvez o Babesp, um instituto ligado ao presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo, também divulgue sua própria amostragem.

            Uma coisa, no entanto, é certa. Foi uma campanha difícil para os dois lados, dura, disputada voto a voto, no primeiro como no segundo turno, com muitos debates – somente na televisão foram quatro neste segundo turno, outro tanto durante a campanha para o primeiro turno.

            Depois disso tudo, deve ser hoje muito baixo o número de indecisos. Agora é ir às urnas e manifestar, nelas, a decisão que vai determinar como será a administração da cidade nos próximos quatro anos como a correlação de forças políticas na Bahia, além de contribuir significativamente para definir a correlação de forças no país, especialmente porque em São Paulo o PT deverá tomar a prefeitura.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.