Quarta, 28 de novembro de 2012
Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
O modus operandi (modo de operação, maneira
de agir) dos irmãos Vieira – Paulo, Rubens e Marcelo, acusados de
comandar um esquema criminoso infiltrado dentro de órgãos federais, alvo
da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal (PF) – chamou a atenção da
procuradora da República Suzana Fairbanks, que coordenou a investigação
no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, em conjunto com a PF.
“A documentação dos autos é muito característica. Eles não param
de cometer crimes, a polícia até usa essa expressão quando pede as
prisões. O fundamento é: eles simplesmente não param de cometer crimes. E
foi o que a gente percebeu. É o tempo inteiro, é o modus operandi deles, está na vida deles, eles só fazem isso o tempo inteiro”, disse a procuradora ontem (27) à noite.
Os irmãos Paulo Rodrigues Vieira, ex-diretor de Hidrologia da
Agência Nacional de Águas (ANA); Rubens Carlos Vieira, ex-diretor de
Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac); e Marcelo Rodrigues Vieira, empresário, foram presos na última
sexta-feira (23), acusados de formação de quadrilha.
Segundo a procuradora, infiltrados nos órgãos públicos, eles
vendiam pareceres a grupos empresariais para os mais diversos fins. “O
processo do Tribunal de Contas da União que gerou toda essa investigação
era a concessão de áreas no terminal do Porto de Santos que não tinham
sido licitadas”, disse.
A investigação da Operação Porto Seguro começou com um inquérito
civil público para a apuração de improbidade administrativa. O
ex-auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Cyonil da Cunha Borges
de Faria Júnior revelou ao Ministério Público Federal e à Polícia
Federal que lhe foram oferecidos R$ 300 mil para que elaborasse um
parecer técnico a fim de beneficiar um grupo empresarial do setor
portuário que atua no Porto de Santos, a empresa Tecondi (Terminal para
Contêineres da Margem Direita), em um contrato com a Companhia Docas de
São Paulo (Codesp).
“Ele [Cyonil] é um corrupto que sofreu um golpe, porque recebeu
um calote do pagamento, não pagaram tudo e ele resolveu denunciar o
esquema. Eram R$ 300 mil [o prometido] e ele recebeu R$ 100 mil, e ficou
cobrando os outros R$ 200 mil”, destacou.
De acordo com Suzana Fairbanks, os irmãos Paulo e Rubens Vieira, núcleo
principal da quadrilha, entraram nas agências reguladoras com a ajuda
da ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo,
Rosemary Nóvoa de Noronha, com quem mantiveram contato, quase semanal,
desde 2009.
“Marcelo levava dinheiro, buscava documentos, pegava táxi para ir
lá em Santos buscar alguma coisa. O Marcelo era o executor e os outros
dois irmãos [Paulo e Rubens] eram os cabeças”.