Quarta, 25 de setembro de 2013
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
#DireitosHumanos
Líder extrativista ameaçado de morte no sul
do Amazonas denuncia despreparo e abuso dos policiais enviados pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos para protegê-lo
“Fiquei doente e deprimido, quase tive um infarto. Para mim chega:
pedi a suspensão da escolta”. Antônio Vasconcelos, de 59 anos, é pastor
evangélico e principal liderança da unidade de conservação Reserva
Extrativista do rio Ituxi, localizada no município de Lábrea, no sul do
Amazonas. Único amazonense com direito à escolta do Programa de Proteção
de Defensores de Direitos Humanos, está cansado da “falta de preparo”
das guarnições destacadas para lhe proteger a mando da Secretaria
Especial de Direitos Humanos (SEDH). Por ter sofrido “agressão verbal e
autoritarismo”, diz Antônio, ele prefere “se arriscar” a ter que
continuar com a escolta. O pedido de suspensão da proteção policial foi
enviado no último dia 23 de agosto para a Secretaria. Na carta, Antônio
reclama de estar longe da sua comunidade, sem condições financeiras e
afirma “Eu não possuo mais condições emocionais para estar nessa
situação”
Hoje, o pastor sente-se abatido, deprimido e doente: meses atrás
precisou se internar em um hospital em Porto Velho (RO) por causa do
estresse. No início de setembro, esteve em Manaus para firmar uma
parceria com o Ibama. Veio sozinho, pois a escolta só lhe acompanha
dentro do limite de Lábrea, e conversou longamente com a Pública.
Até dois anos atrás, Antônio Vasconcelos era alvo permanente de
fazendeiros que ocupam irregularmente imensas extensões de terras
públicas em Lábrea, município localizado na região conhecida como Arco
do Desmatamento. No dia 23 de novembro de 2011, eles haviam decidido que
chegara a vez do pastor “tombar” – o mesmo que ser assassinado, no
vocabulário local. Naquele dia, segundo relatos, dois pistoleiros
estavam perto da sua casa, em um hotel da cidade, aguardando o momento
certo para disparar contra ele.
Os pistoleiros só não contavam com a coincidência da data. Também no
dia 23 de novembro, um grupo de 13 policiais da Força Nacional de
Segurança Pública chegava à cidade para iniciar a escolta do pastor. A
guarnição chegara subitamente; Vasconcelos só havia sido informado que
eles chegariam a qualquer momento. “Os policiais bateram na minha porta e
anunciaram o início da escolta. Me explicaram como seria e depois foram
se hospedar em um hotel”. E os pistoleiros? “Fugiram”. Ele conta que
soube da presença de seus possíveis assassinos por uma camareira do
hotel. “Ela ouviu a conversa deles. Quando viram que os policiais
chegaram, um deles pegou o celular e ligou para alguém, dizendo ‘sujou,
sujou, tem um monte de polícia aqui. Não dá mais para fazer o trabalho’.
Decidiram ir embora”.
Criando uma reserva e fugindo das balas