Domingo, 22 de dezembro de 2013
Em uma avaliação mais estrutural sobre os governos Lula e Dilma,
acrescenta ainda o sociólogo que “o lulismo é grave. É um movimento de
cooptação da classe trabalhadora, comandado pelo seu expoente máximo.
Como disse certa vez o velho gaúcho Leonel Brizola, com muita amargura,
mas precisão quase sociológica, ‘o lulismo é a esquerda que a direita
pediu’”.
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Escrito por Valéria Nader e Gabriel Brito,
da Redação do Correio da Cidadania.
“2013 deixa um sinal muito positivo”. Essas são as palavras do
sociólogo e professor aposentado da USP Chico de Oliveira nos momentos
iniciais da entrevista que concedeu ao Correio para a edição especial
retrospectiva de 2013.
A efervescência do mês de junho, com a massividade dos protestos
populares em todo o Brasil, faz de 2013 um ano, sem dúvida, bastante
singular. Uma população há anos esgotada com a precariedade e ausência
de serviços públicos, e assistindo erguerem-se à sua frente monumentais e
luxuosos estádios de futebol para atenderem à Copa do Mundo de 2014, se
pôs acesa pela bandeira da Tarifa Zero, levantada pelo Movimento Passe
Livre.
A renitência inicial dos governos federal, estaduais e municipais
rendeu-se à força dos movimentos; a tradicional criminalização de
protestos e manifestantes promovida pela grande mídia caminhou
rapidamente para a suavização do tom em um primeiro momento adotado.
Passados, no entanto, os primeiros e intensos meses de democracia
viva das ruas, governo e mídia reapropriam-se aos poucos de sua postura
de surdez face às demandas populares. A ortodoxia econômica a la
FMI do governo cresce a passos largos neste final de ano; já a mídia,
passou a linha auxiliar dos legislativos na tentativa de minar as
manifestações, criminalizando o que chama de radicalismos, que têm
justificado a edição e reedição de leis que permitem encarcerar
manifestantes.
Para Chico, nada muito surpreendente: “Qualquer governo tende à
repressão, às vezes muito violenta, como em 2013. Quem faz oposição não
pode se assustar. É assim mesmo e vamos em frente”. Assim como também
não se assusta face à surdez do governo e ao recrudescimento no
conservadorismo: “Esse é um dos pontos precisamente fracos dos governos
Lula, seguidos por Dilma: não tem política econômica para as áreas
sindical e trabalhista, é um repeteco um tanto desqualificado da própria
política econômica do FHC”.
Em uma avaliação mais estrutural sobre os governos Lula e Dilma,
acrescenta ainda o sociólogo que “o lulismo é grave. É um movimento de
cooptação da classe trabalhadora, comandado pelo seu expoente máximo.
Como disse certa vez o velho gaúcho Leonel Brizola, com muita amargura,
mas precisão quase sociológica, ‘o lulismo é a esquerda que a direita
pediu’”.
Para o futuro, Chico descrê de previsões específicas, que extrapolem a
observação dos fluxos e refluxos dos movimentos sociais. Este olhar
permite apenas dizer que as atuais movimentações certamente voltarão,
não se sabe quando e nem com qual intensidade.