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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

'A despedida machuca', disse ontem a ministra Eliana Calmom ao receber homenagens no STJ; ela se aposenta nesta quarta (18/12)

Quarta, 18 de dezembro de 2013
Do STJ
Eliana Calmon recebe homenagens da Segunda Turma em seu último dia como ministra Em sua última sessão do ano, a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) se despediu nesta terça-feira (17) da ministra Eliana Calmon. Nesta quarta (18) ela se aposenta do cargo no Tribunal da Cidadania, onde atuou nos últimos 14 anos. 

Em um dos momentos mais marcantes da despedida, o ministro Mauro Campbell Marques deixou sua cadeira de presidente da Segunda Turma e foi à tribuna dos advogados para homenagear a ministra. 

“Estou aqui na tribuna como forma de reverenciar, em nome de meus pares na Segunda Turma, aquela que para nós é motivo de saudade, e para vós, motivo de júbilo”, afirmou. Ele disse que houve quem criticasse a ministra, mas sua coragem e capacidade de inovação devem ser copiadas. 

Campbell afirmou que a sessão desta terça-feira ficará marcada pela saudade. Ele fez uma retrospectiva da vida profissional e pessoal da ministra e lembrou o padre Antônio Vieira, para quem não existem palavras sem obras. Ter o nome de pregador ou ser pregador sem nome não importaria. São as ações, a vida, o exemplo, as obras que convertem o mundo. 

A ministra respondeu com um discurso emocionado. “A despedida machuca”, disse ela, “e vem em forma crescente que faz com que a gente se emocione sem querer se emocionar.” 

Eliana Calmon aproveitou a ocasião para lembrar passagens de sua carreira e agradecer o apoio silencioso de servidores, que a motivaram a prosseguir na luta por uma Justiça melhor. “Um gesto positivo aplaca o coração de quem está insegura”, afirmou.
 

Sapatos apertados 

Em nome do Ministério Público falaram as subprocuradoras-gerais da República Maria Sílvia de Meira Luedemann e Elizeta Maria de Paiva Ramos, que recorreram à literatura para enaltecer a trajetória da ministra no Poder Judiciário. 

Luedemann citou trecho da obra “Eles, os juízes, vistos por um advogado”, de Piero Calamandrei, e Elizeta Ramos recitou parte do poema “Tempo de Travessia”, de Fernando Pessoa. 

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares”, disse Elizeta Ramos à ministra. 

Eliana Calmon recordou o caminho que a fez chegar ao STJ, onde foi a primeira mulher a assumir o cargo de ministra, e concluiu que o destino conspirou a seu favor. 

Ela afirmou que se aposenta com roupas novas, mas sapatos apertados. “Faço a troca como alguém que troca de roupas, mas os sapatos ficam apertados”, disse ela, com a lembrança de que até as roupas novas se tornarão velhas um dia.  

Novos caminhos 

Durante a homenagem, em nome dos advogados falou o professor Arnold Wald, para quem a vida exemplar de Eliana Calmon engrandece todo o Judiciário. Para Wald, a ministra abriu novos caminhos no Poder Judiciário, tanto por suas ideias quanto por suas condutas. 

“Se formos enumerar suas qualidades utilizando três expressões, diríamos que sempre se caracterizou pela probidade intelectual, pela coragem cívica e pelo entusiasmo com a Justiça”, disse o professor. 

Pela advocacia pública, falou o procurador-geral da Fazenda Nacional José Pericles Pereira de Sousa. Segundo ele, a ministra ficará marcada na história da Justiça porque traduz o acolhimento dos tribunais superiores à sabedoria e ao destemor que caracterizam a alma feminina. Para o procurador, Eliana Calmon ficará no rol dos magistrados que mais souberam dignificar a toga.