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(Millôr Fernandes)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Agnelo Queiroz, Dilma Roussef, Alexandre Padilha e Rafael Barbosa não mostram vontade política em favor de crianças cardiopatas

Domingo, 1º de novembro de 2013
Agnelo Queiroz e Rafael Barbosa não mostraram vontade política para as crianças cardiopatas. As chances de Rodrigo sobreviver, por isso, são menores.

Rodrigo
O drama do pequeno Rodrigo comove todos que entram em contato com a história. É um bebê, nascido em 03 de novembro de 2013, com síndrome de Down e uma grave cardiopatia congênita. Esperou vários dias por um parecer cardiológico e outros tantos para obter uma vaga de UTI, que só foi conseguida quando o caso se tornou público. Quando Rodrigo foi transferido para o Instituto do Coração do Distrito Federal seu estado já era muito grave. Ele luta contra a morte, mas a infecção não cede, a luta é desproporcional. Mas a esperança persiste. Enquanto rezamos pelo Rodrigo e por seus pais, é preciso analisar um aspecto cruel e dramático que a batalha pela vida do Rodrigo nos revela.

Ele não é o único que padece da moléstia do descaso do Estado com os mais carentes e frágeis. Qualquer criança pobre que nasça em Brasília com alguma cardiopatia não encontrará uma estrutura pública adequada para lhe dar o suporte terapêutico necessário.

O Distrito Federal é a unidade da federação que mais dispõe de recursos para investir na saúde. O Governador do Distrito Federal, o Sr. Agnelo Queiroz é médico e deveria conhecer as agruras a que os usuários da rede pública de saúde são obrigados a suportar. O Secretário de Saúde, Sr. Rafael Barbosa é o secretario mais forte dentre todos os secretários de Estado do DF. É médico e também deveria conhecer os problemas e envidar esforços para resolvê-los. Os dois são da mesma agremiação política da Presidente da República, Sra. Dilma Roussef e do Ministro da Saúde, Sr. Alexandre Padilha.

Ora, o Distrito Federal é uma unidade da federação que arrecada muito bem e que ainda conta com o Fundo Constitucional. É uma unidade federada alinhada com o governo federal, a quem, inclusive, hospeda em seu território. Se é assim, por qual razão não havia vaga de UTI para o Rodrigo? Por qual razão não há como se tratar uma criança cardiopata com dignidade no Distrito Federal?

A resposta às indagações acima são intuitivas: FALTA VONTADE POLÍTICA. Logo, entretanto, surge outra pergunta, que diabos significa VONTADE POLÍTICA?

É difícil definir vontade política, por isso, talvez seja mais fácil exemplificar.

O Sr. Governador Agnelo Queiroz, resolveu que era prioritário construir uma arena esportiva para sediar jogos da Copa do Mundo de Futebol. Não entraremos no mérito se construir ou não a arena multiuso era prioritário para os brasilienses. Quando ele anunciou a intenção, muitos disseram que seria impossível realizar obras tão complexas em tão pouco tempo.  Mas havia vontade política de concretizar a obra e ela foi concluída. Como havia vontade política diversos projetos de lei foram aprovados na Câmara Legislativa do Distrito Federal, alguns retirando recursos de áreas estratégicas, para facilitar a construção das obras. O Governador Agnelo Queiroz quis, direcionou a tal vontade política para o fim pretendido, qual seja, a construção do estádio. O Secretário de Saúde Rafael Barbosa quis implantar o ponto eletrônico para médicos e servidores. Enfrentou forte oposição, mas, como havia vontade política, o ponto eletrônico foi implantado. Quando o caso do pequeno Rodrigo se tornou público, o Sr. Rafael Barbosa, usando da tal vontade política conseguiu, no dia seguinte ao caso ser exposto na mídia, a vaga de UTI. A vontade política surgiu da pressão midiática.

A Presidente da República Dilma Rousseff e o Ministro da Saúde Alexandre Padilha resolveram que deveriam trazer médicos estrangeiros para atuar no Brasil, mesmo sem realizarem o exame de revalidação dos diplomas. A comunidade médica se opôs à intenção de Rousseff e Padilha, mas havia a tal vontade política e os opositores do programa Mais Médicos foram atropelados pela força do governo, do poder dominante.

Dos exemplos que pinçamos já é possível perceber que quando há vontade política as coisas se transformam, elas acontecem. Por uma interpretação em sentido contrário, quando as coisas não-acontecem é porque faltou vontade política.

Então, voltando a situação do pequeno Rodrigo, percebemos que a estrutura da rede pública de saúde do Distrito Federal não é dotada de meios eficientes e suficientes para tratar neonatos que tenham problemas cardiológicos congênitos, ou seja, que nasçam com problemas cardíacos. Se não há vaga e se não há estrutura, é porque faltou vontade política para implantar um atendimento adequado.

A carência de leitos de UTI no Distrito Federal é histórica e assim é porque falta vontade política para resolver a questão. Certamente, interesses de monstra seriam contrariados com a realização de investimentos na saúde pública. Não acredito que os médicos Agnelo Queiroz e Rafael Barbosa não tenham implantado um atendimento adequado por pura maldade. Certamente, forças políticas mais fortes do que o interesse da sociedade inibem os governantes de agir.

O Sr. Agnelo Queiroz prometeu que em três meses resolveria os problemas da saúde. Dizia que para tanto bastava investir de forma correta. Afirmava que acumularia a Secretaria de Saúde e o Governo até que os problemas mais graves fossem resolvidos. Passada as eleições, a promessa, viu-se, não era acompanhada da vontade política. Também não investiu em áreas essenciais e vitais como a de acompanhamento cardiológico.

O resultado da omissão, da inconstitucional omissão dos Srs. Agnelo Queiroz e Rafael Barbosa, respectivamente governador e secretario de saúde, e que crianças com deficiência cardíacas graves, aqui, não possuem muitas chances.

Se houvesse o mesmo empenho em resolver os problemas da saúde do povo brasilense quanto houve para construção do estádio, sem dúvida, a população sofreria menos. Talvez, as chances de sobrevivência de Rodrigo fossem maiores.

Senhor Governador Agnelo dos Santos Queiroz Filho e Senhor Secretário de Saúde do DF Rafael Barbosa de Aguiar, o pequeno e bravo Rodrigo pode vir a morrer. Se tivesse recebido o parecer cardiológico de forma mais célere e se não houvesse esperado tanto por uma vaga na UTI (que só surgiu depois que o caso se tornou público) talvez as chances de sobrevivência fossem maiores.  Se os senhores tivessem demonstrado a mesma vontade política que tiveram para edificar a arena multiuso para dotar o Distrito Federal de um centro de referencia em cardiologia neonatal, as chances de sobrevivência de crianças cardiopatas seriam maiores e não teríamos tantas famílias enlutadas.