Domingo, 1º de novembro de 2013
Agnelo Queiroz e Rafael Barbosa não mostraram
vontade política para as crianças cardiopatas. As chances de Rodrigo
sobreviver, por isso, são menores.
O drama do
pequeno Rodrigo comove todos que entram em contato com a história. É um bebê,
nascido em 03 de novembro de 2013, com síndrome de Down e uma grave cardiopatia
congênita. Esperou vários dias por um parecer cardiológico e outros tantos para
obter uma vaga de UTI, que só foi conseguida quando o caso se tornou público.
Quando Rodrigo foi transferido para o Instituto do Coração do Distrito Federal
seu estado já era muito grave. Ele luta contra a morte, mas a infecção não
cede, a luta é desproporcional. Mas a esperança persiste. Enquanto rezamos pelo
Rodrigo e por seus pais, é preciso analisar um aspecto cruel e dramático que a
batalha pela vida do Rodrigo nos revela.
Ele não é o
único que padece da moléstia do descaso do Estado com os mais carentes e
frágeis. Qualquer criança pobre que nasça em Brasília com alguma cardiopatia
não encontrará uma estrutura pública adequada para lhe dar o suporte
terapêutico necessário.
O Distrito
Federal é a unidade da federação que mais dispõe de recursos para investir na
saúde. O Governador do Distrito Federal, o Sr. Agnelo Queiroz é médico e deveria conhecer as agruras
a que os usuários da rede pública de saúde são obrigados a suportar. O
Secretário de Saúde, Sr. Rafael
Barbosa é o secretario mais forte dentre todos os secretários
de Estado do DF. É médico e também deveria conhecer os problemas e envidar
esforços para resolvê-los. Os dois são da mesma agremiação política da
Presidente da República, Sra. Dilma
Roussef e do Ministro da Saúde, Sr. Alexandre Padilha.
Ora, o
Distrito Federal é uma unidade da federação que arrecada muito bem e que ainda
conta com o Fundo Constitucional. É uma unidade federada alinhada com o governo
federal, a quem, inclusive, hospeda em seu território. Se é assim, por qual
razão não havia vaga de UTI para o Rodrigo? Por qual razão não há como se
tratar uma criança cardiopata com dignidade no Distrito Federal?
A resposta
às indagações acima são intuitivas: FALTA
VONTADE POLÍTICA. Logo, entretanto, surge outra pergunta, que
diabos significa VONTADE POLÍTICA?
É difícil
definir vontade política, por isso, talvez seja mais fácil exemplificar.
O Sr.
Governador Agnelo Queiroz,
resolveu que era prioritário construir uma arena esportiva para sediar jogos da
Copa do Mundo de Futebol. Não entraremos no mérito se construir ou não a arena
multiuso era prioritário para os brasilienses. Quando ele anunciou a intenção,
muitos disseram que seria impossível realizar obras tão complexas em tão pouco
tempo. Mas havia vontade
política de concretizar a obra e ela foi concluída. Como havia vontade política diversos projetos
de lei foram aprovados na Câmara Legislativa do Distrito Federal, alguns
retirando recursos de áreas estratégicas, para facilitar a construção das
obras. O Governador Agnelo Queiroz quis,
direcionou a tal vontade política
para o fim pretendido, qual seja, a construção do estádio. O Secretário de
Saúde Rafael Barbosa
quis implantar o ponto eletrônico para médicos e servidores. Enfrentou forte
oposição, mas, como havia vontade
política, o ponto eletrônico foi implantado. Quando o caso do
pequeno Rodrigo se tornou público, o Sr. Rafael
Barbosa, usando da tal vontade
política conseguiu, no dia seguinte ao caso ser exposto na
mídia, a vaga de UTI. A vontade
política surgiu da pressão midiática.
A
Presidente da República Dilma
Rousseff e o Ministro da Saúde Alexandre Padilha resolveram que deveriam trazer
médicos estrangeiros para atuar no Brasil, mesmo sem realizarem o exame de
revalidação dos diplomas. A comunidade médica se opôs à intenção de Rousseff e Padilha, mas havia a tal vontade política e os opositores do
programa Mais Médicos
foram atropelados pela força do governo, do poder dominante.
Dos
exemplos que pinçamos já é possível perceber que quando há vontade política as coisas se
transformam, elas acontecem. Por uma interpretação em sentido contrário, quando
as coisas não-acontecem é porque faltou
vontade política.
Então,
voltando a situação do pequeno Rodrigo, percebemos que a estrutura da rede
pública de saúde do Distrito Federal não é dotada de meios eficientes e
suficientes para tratar neonatos que tenham problemas cardiológicos congênitos,
ou seja, que nasçam com problemas cardíacos. Se não há vaga e se não há
estrutura, é porque faltou vontade
política para implantar um atendimento adequado.
A carência
de leitos de UTI no Distrito Federal é histórica e assim é porque falta vontade política para
resolver a questão. Certamente, interesses de monstra seriam contrariados com a
realização de investimentos na saúde pública. Não acredito que os médicos Agnelo Queiroz e Rafael Barbosa não tenham
implantado um atendimento adequado por pura maldade. Certamente, forças
políticas mais fortes do que o interesse da sociedade inibem os governantes de
agir.
O Sr. Agnelo Queiroz prometeu que em três
meses resolveria os problemas da saúde. Dizia que para tanto bastava investir
de forma correta. Afirmava que acumularia a Secretaria de Saúde e o Governo até
que os problemas mais graves fossem resolvidos. Passada as eleições, a
promessa, viu-se, não era acompanhada da vontade
política. Também não investiu em áreas essenciais e vitais como
a de acompanhamento cardiológico.
O resultado
da omissão, da inconstitucional omissão dos Srs. Agnelo Queiroz e Rafael Barbosa, respectivamente
governador e secretario de saúde, e que crianças com deficiência cardíacas
graves, aqui, não possuem muitas chances.
Se houvesse
o mesmo empenho em resolver os problemas da saúde do povo brasilense quanto
houve para construção do estádio, sem dúvida, a população sofreria menos.
Talvez, as chances de sobrevivência de Rodrigo fossem maiores.
Senhor
Governador Agnelo dos Santos Queiroz
Filho e Senhor Secretário de Saúde do DF Rafael Barbosa de Aguiar, o pequeno
e bravo Rodrigo pode vir a morrer. Se tivesse recebido o parecer cardiológico
de forma mais célere e se não houvesse esperado tanto por uma vaga na UTI (que
só surgiu depois que o caso se tornou público) talvez as chances de
sobrevivência fossem maiores. Se os senhores tivessem demonstrado a mesma
vontade política que
tiveram para edificar a arena multiuso para dotar o Distrito Federal de um
centro de referencia em cardiologia neonatal, as chances de sobrevivência de
crianças cardiopatas seriam maiores e não teríamos tantas famílias enlutadas.