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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Comissão Nacional da Verdade recebe documento que comprova que ditadura argentina monitorava Jango

Sexta, 20 de dezembro de 2013
Luciano Nascimento, repórter da Agência Brasil
Parentes do ex-presidente João Goulart entregaram hoje (19) à Comissão Nacional da Verdade (CNV) documento que comprova que o ex-presidente era alvo de vigilância da Operação Condor.

No documento consta que o 3º Exército pede para o governo argentino monitorar atividades de Jango e outros brasileiros. Para os parentes do ex-presidente, o material reforça a tese de que o ex-presidente foi assassinado pela ditadura, na chamada Operação Condor. "Este documento nos ajuda a rever a história do Brasil. Vemos muitas informações distorcidas que dizem que a operação não existiu. Para nós [parentes] o documento caracteriza que o ex-presidente era sim vigiado pela Operação Condor", disse João Vicente Goulart, filho de Jango. 


João Goulart governou o Brasil de 1961 até ser deposto pelo golpe militar de 1964. Ele morreu em dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente de ataque cardíaco. A família suspeita que ele foi envenenado a mando da ditadura.

No documento, datado do dia 24 de março de 1976, o 3º Exército solicita a cooperação do governo argentino para vigiar os que chama de "subversivos brasileiros na República Argentina", entre eles o ex-presidente. "Ele [João Goulart] não recebeu da ditadura nem o tratamento de ex-presidente", disse João Vicente.  

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), integrante da Subcomissão de Memória, Verdade e Justiça do Senado disse que o documento ajuda a fazer uma "exumação da verdade", em referência à exumação do ex-presidente ocorrida em novembro para tentar esclarecer a causa da morte de Jango. "Documentos como este trazem a verdade, que é o que nós buscamos; sem revanchismo. Eles trazem luz para determinados acontecimentos e essas informações dão conta de que é preciso aprofundar as investigações sobre a Operação Condor", disse Rodrigues que também defendeu a prolongação dos trabalhos da CNV.

Para a integrante da CNV, Rosa Cardoso, que coordena o grupo de trabalho da comissão que estuda a Operação Condor, os documentos vão ajudar a sociedade brasileira a entender melhor o que aconteceu durante a ditadura militar. "Há uma parte da sociedade brasileira que não conhece esta história. E o documento [recebido hoje] mostra, para que não haja dúvidas de que estes fatos aconteceram, é que houve uma conexão repressiva coma Argentina, mesmo antes do golpe militar naquele país", disse.