Terça, 17 de dezembro de 2013
Por Celso Lungaretti
Tão logo tomei conhecimento da Carta aberta ao povo do Brasil,
corri a defender um posicionamento digno do nosso governo: que
abrigasse Edward Snowden e lhe permitisse continuar escancarando os
podres da espionagem estadunidense.
Sabia que dificilmente seria esta a decisão das autoridades brasileiras,
pois já haviam rechaçado pedido semelhante no passado, esquivando-se
com burocratices.
O dado novo era que, depois disto, os EUA foram flagrados espionando a
Petrobrás e até mesmo a nossa presidenta -a qual, para salvar sua imagem
junto ao público interno, teve de ir à ONU posar de vítima indignada.
Foi, falou, falou, falou e ninguém importante da parte criticada estava
lá para ouvir e contestar, numa demonstração inequívoca de desprezo por
Dilma e pelo Brasil.
O sapo não só foi engolido, como metamorfoseado em príncipe pela
propaganda oficial. Ser olimpicamente ignorada pelo Império tinha de
parecer um triunfo moral, para que a ninguém ocorresse cobrar-lhe uma
resposta efetiva aos EUA, à altura dos insultos recebidos.
Mesmo assim, nova chance surgiu e fiz tudo que estava ao meu alcance
para que o desfecho não fosse novamente pífio. Em vão: a decisão está
tomada e é a de não indispormo-nos com os donos do mundo por causa de um
Snowden qualquer.
Se fossem mais sinceras, as fontes do Itamaraty que comunicaram a
segunda negação de Cristo (ôps, quer dizer, de Snowden), poderiam ter
argumentado: "O que o Brasil ganharia dando abrigo a Snowden? Apenas
relações mais tensas com os EUA. A troco de quê?".
Palavras de Reinaldo Azevedo, o reaça mais exibido do Brasil, que tem todos os defeitos, menos um: não finge ser o que não é.
Ele qualifica Snowden de "traidor de sua própria pátria" (um conceito
tão embolorado só poderia mesmo vir expresso com as redundâncias
características da linguagem telenovelesca...) e aconselha: "Ele que vá
para Caracas".
Não duvido de que os hierarcas do Itamaraty, lá com seus botões, pensem exatamente assim. Só não assumem.
Chocante é vermos a mesma postura de constrangedora vassalagem sendo
adotada por quem um dia ousou pegar em armas contra a ditadura e o
imperialismo!
Por último, o esclarecimento da questão que levantei ("Chegou a hora da
verdade, Dilma! Agora saberemos quem você é e quanto vale.") veio mais
depressa do que eu supunha.
Quem é Dilma? Uma política profissional que tem passado mais ilustre que
a maioria dos seus pares, pois um dia foi revolucionária.
Quanto vale? O mesmo que os demais políticos profissionais, pois tal passado é imperceptível nas suas atitudes presentes.
Fonte: Blog Náufrago da Utopia