Segunda, 23 de dezembro de 2013
Camila Maciel, repórter da Agência Brasil
São Paulo – A exposição frequente a solventes exalados pela gasolina
podem provocar danos neurológicos em frentistas de postos de
combustível. É o que mostra uma pesquisa do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP) com 25 trabalhadores da capital. Foram
feitos testes visuais para identificar alterações em grupos de células
do cérebro. O pesquisador Thiago Leiros Costa destaca que houve
alterações significativas em todas as tarefas sugeridas.
“Usamos a visão para entender se o cérebro tinha sido alterado pela
exposição ao solvente. E vimos que a atividade cerebral pode ser afetada
de maneira maléfica”, disse Costa. Os testes mediram a discriminação de
cores, sensibilidade ao contraste e sensibilidade em diferentes pontos
do campo visual.
“Na maioria dos testes, o participante tinha que
discriminar o estímulo, de um fundo. O estímulo ia se misturando com o
fundo até um ponto em que o participante não consegue mais diferenciar.
Conseguimos entender como está a sensibilidade para esse tipo de
estímulo”, explicou.
Os voluntários passaram por exames oftalmológicos que descartaram
qualquer alteração estrutural na córnea, no cristalino ou no fundo do
olho. Mesmo assim, eles tiveram um desempenho inferior na comparação com
o grupo controle. Em quatro frentistas, a perda de sensibilidade para
cores foi tão significativa que foi necessário fazer um exame genético
para descartar a possibilidade de daltonismo congênito.
“Não é uma alteração na lente do olho. É uma alteração do nível
cerebral, seja na retina ou em outras áreas. O fato de a gente ter
encontrado alteração em todos os testes, que mediam atividades em
diferentes grupos de células do cérebro, podemos dizer que é uma perda
difusa e que provavelmente não se limita exclusivamente ao sistema
visual”, declarou o pesquisador.
Thiago Costa destaca que, quanto maior o tempo de exposição aos
solventes, maiores são os danos neurológicos. “O tipo de perda que
encontramos progrediu com o tempo”, apontou. De acordo com ele, os
principais meios de contato dos trabalhadores com os químicos são as
vias aéreas. “Mas também é possível que haja certo nível de intoxicação
pelo contato com a pele e das mucosas”, acrescentou.
Embora os resultados da pesquisa sirvam de alerta para os riscos da
profissão de frentista, o pesquisador esclarece que seria necessário
ampliar os estudos no campo da medicina do trabalho para definir se
equipamentos de segurança seriam eficazes na proteção aos trabalhadores.