Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 7 de dezembro de 2013

Mandela e Gandhi: Luminosas exceções num século sanguinário

Sábado, 7 de dezembro de 2013
Por Celso Lungaretti
Do Blog Náufrago da Utopia 
Mandela e Gandhi foram líderes admiráveis, com trajetórias muito parecidas, exceto no seu final. Mais afortunado, o primeiro terminou seus dias placidamente como merecia, enquanto o arauto da não violência deparou com a besta-fera que ninguém merece encontrar.  
Ambos enfrentaram inimigos odiosos, com os quais nenhuma pessoa decente poderia ser tolerante: o apartheid e o colonialismo.
Os dois chegaram a trilhar os caminhos da força, mas depois perceberam que a maior vulnerabilidade dos inimigos era a moral. E souberam tirar disto o melhor partido possível, para alcançarem seus objetivos com desperdício de vidas relativamente pequeno.
Tiveram sensibilidade para perceber o papel que uma grande liderança carismática pode desempenhar em luta deste tipo, granjeando simpatia para a causa no mundo inteiro. E, favorecidos por suas auras de martírio, incorporaram magnificamente tal figurino, Mandela com características laicas e Gandhi como um homem santo, segundo as tradições de seus respectivos povos. 
Vitoriosos, eles concluíram suas obras consolidando os novos governos sem os derramamentos de sangue que pareciam inevitáveis.  
Com sua coragem e imensa autoridade moral, Gandhi evitou uma guerra entre Índia e Paquistão ao dispor-se a jejuar até a morte se os distúrbios não cessassem. 
Com sua incrível intuição política, Mandela utilizou um campeonato de rúgbi para irmanar negros e brancos, estimulando o afloramento de uma consciência nacional em substituição aos rancores raciais.
Alguns companheiros gostariam mais deles se tivessem sido revolucionários. Nunca o pretenderam ser, portanto não enganaram ninguém. E é no mínimo discutível que, em países tão atrasados como a África do Sul e a Índia, eles pudessem ter ido mais longe do que foram. 
Outros destacam que a volta por cima de ambos só se tornou possível porque britânicos e holandeses hesitavam em executar opositores na cadeia, já que suas tradições civilizadas ainda lhes impunham alguns limites. Os estadunidenses, com seu pragmatismo impiedoso e com a desumanidade característica dos fanáticos religiosos aos quais remontam, certamente teriam eliminado o problema no nascedouro.
Mas, dentro do quadro em que atuaram, é indiscutível o mérito de haverem mudado a face dos seus países com muito menos violência do que líderes de outro tipo utilizariam ou provocariam.  Num período tão brutal como o século passado, foram luminosas exceções.