Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Batman, Rolezinho e a Copa: Um retrato da história do Brasil

Sábado, 25 de janeiro de 2014

O vídeo amplamente divulgado pelas redes em que moradores do Leblon, bairro de elite do Rio de Janeiro, esbravejam contra manifestantes - em especial o Batman carioca - durante um "rolezinho" no shopping local me faz ter apenas uma certeza: Estamos diante do quadro mais perfeito do que é o Brasil.

Racista, preconceituoso, burro, elitista... E mostra a irônica, mas comum "aliança" entre os piores fascistas, olavetes descaradas, e gente que se diz de esquerda e engole o discurso oficial do governo do PT.  

O cidadão mais exaltado - aparentemente o fundador do bloco Simpatia é quase amor, Dodô Brandão -, que se revolta contra o Batman, por ser "símbolo do capitalismo americano", que chama o protesto de "factóide", não deixa a nada a dever aos discursos diários de #Zédia e outros fanáticos governistas. Ataca a "direita" a quem acusa de estar por trás das manifestações e, claro, defende a Copa.  

Ao acusar o "cara de direita", o "merdinha pago pelo Garotinho" (no caso, o Batman) deixa claro que é assíduo leitor da blogosfera governista. "Garotinho" é, depois de "Psolento" a desculpa oficial do petismo para defender todas as ações de Cabral e Paes, como se a oposição fosse pior. Lembrando que a Dilma quer o palanque do Garotinho nas eleições, mas este fato a "militância" esconde.  

Corta para uma senhora falando "o carnaval tá longe", em clara alusão ao único período do ano em que pretos e pobres tem acesso livre à região da elite carioca. O único período em que a favela pode descer sem ser perseguida pela PM, e pode se misturar a "gente de bem" do Leblon e do resto da Zona Sul.  

Mas só no carnaval. Tem que ter data marcada, senão é mistura demais e zona demais. Imagina se misturar com essa rafaméia diariamente!  

Então surge uma mulher exaltada, gritando "Manipulado!", pese claramente ser leitora de Olavo de Carvalho e Constantinos da vida. Sem medo de ser ridícula afirma de boca cheia que os manifestantes querem fazer uma "ocupação comunista". E diz com orgulho ser de direita - mas não fascista!
"Fascismo sim, mas de direita não porque eu sou de direita e não faria isso".
"Existe um plano de ocupação comunista, totalitarista no país. Será que ninguém vê isso?"

Enfim, direita e esquerda se juntando quando necessário para criminalizar o pobre, o preto, o periférico, o que se recusa a se isolar e não ficar no caminho da elite.
 
Mas o vídeo mostra algo mais: A aliança CLARA entre os setores mais radicais da direita com a suposta esquerda, a ex-querda governista para derrotar manifestações populares.
 
O racismo, o elitismo, a discriminação e o preconceito estão mais que claros, independentemente da suposta ideologia de cada um dos presentes. O absurdo é tanto que um repórter francês tenta entender o que se passa, pergunta sobre a discriminação, mas o senhor exaltado não consegue enxergar qualquer discriminação.
 
Preconceito? discriminação? No Rio? No Brasil? No País da Copa? ABSURDO!
 
O cara toma cerveja com pessoas que, ele alega, são de outra classe. Ele aceita dividir alguns espaços com quem não é "dos seus"! Mas tão querendo o braço inteiro.
 
Ele ganhou muito dinheiro, informa não sem algum orgulho, enquanto critica a FIFA, mas defende com unhas e dentes a Copa, fazendo um malabarismo digno de #Stanley, para sustentar seus pífios argumentos.
 
Após vaias dirigidas aos manifestantes, em repetição quase que em looping da história do Brasil, e gritos de "vai trabalhar", o exaltado senhor de bem encerra com "eu ganho bem pra caralho", para demonstrar como é diferente da "direita" que ele tanto despreza.
 
Apesar das razões aparentemente diversas - ao fundo ouve-se a olavete criticando a Copa enquanto o cidadão de bem a defende com unhas e dentes -, o que se vê é um encontro o repúdio ao direito à manifestação, no direito à ocupar espaços que a elite pensa ser seus. É o desejo da limpeza social, a incitação ao apartheid.
 
Tirando o carnaval - contra o qual nada podem fazer - a elite do Leblon e adjacências só se relaciona com negros quando estes saem do quartinho de empregada, ou quando vão lhes servir em um restaurante ou quando olha com cara feia para o gari ou para o segurança do shopping. Para eles é algo intolerável ver que há revolta entre quem devia continuar calado e servindo.
 
E isso transcende a suposta ideologia da figura. Numa coisa a olavete tinha razão, não é preciso ser de direita para ser fascista, o cidadão de bem com discurso governista posando de esquerda é tão fascista quanto ela.
 
Os protestos de junho deixaram governistas dias sem dormir. Não conseguiram até hoje entender o que significaram e se limitaram a ora atacar, ora fazer coro à repressão, ora organizar pequenos núcleos para tentar tomar a frente das manifestações. Em todos os casos fez (e faz) papel ridículo e vergonhoso. Agora, com os Rolezinhos, se juntou ao coro dos que odeiam manifestações a direita mais reacionária, afinal uma coisa são protestos em muitos casos contra governos do PT ou aliados (ainda que não só, pois foram generalizados), outra é violarem locais sagrados do consumo e, pior, em bairros de elite!
 
Direita a ex-querda, enfim, estão de braços dados contra quem toma as ruas. contra o "bando de filhos da puta" que ousa entornar o caldo da revolta social e que, segundo fanáticos, buscam dar um golpe no governo...
 
Se é verdade que os rolezinhos são um fenômeno social sem grande politização (ou mesmo sem nenhuma politização), por outro traz consequências políticas claras. Oras, os rolezinhos são o reflexo mais escancarado do Lulismo, do incentivo ao consumo desenfreado, em que a cidadania se faz ou se dá apenas e exclusivamente através do consumo.
 
É a base do "consumo, logo existo" que o PT vem incentivando há 11 anos. Surpreende que aqueles menos capazes de ascender pelo consumo busquem se tornar visíveis através de "rolês" e afins?
 
Este vídeo é sem duvida um quadro riquíssimo sobre a história do Brasil. Sobre o que é (ex)esquerda e o que é direita, sobre apartheid social e Copa do mundo.
 
Em tempo, #NãoVaiTerCopa.