Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 4 de janeiro de 2014

Essência do fogo-amigo — Polícia Federal: a governança maquiavélica dos recursos humanos

Sexta, 4 de janeiro de 2014




Em janeiro de 2013, o Ministério da Justiça tornou pública a pesquisa que demonstra o perfil profissiográfico e o mapeamento de competências dos cargos de instituições estaduais de Segurança Pública.



Segundo o estudo (disponível AQUI), nas palavras da Secretária Nacional de Segurança Pública Regina Miki, “os dados e as conclusões da Profissiografia e Mapeamento de Competências configuram-se em mais um instrumento para contribuir na reflexão e na  elaboração de políticas públicas voltadas para a promoção de uma atuação cada vez mais qualificada e na oferta de serviços que atendam às exigências de uma sociedade democrática como o Brasil”.




Mas, afinal, o que é a Profissiografia? Conforme a ótima publicação do Ministério da Justiça, o estudo profissiográfico é uma análise das tarefas executadas pelos ocupantes de cada cargo, os requisitos necessários para executá-las, assim como as condições de trabalho que podem facilitar ou dificultar a sua realização.



Conforme o Decreto Federal n. 6.944/09 (artigo 14, parágrafo 3º), tais estudos são obrigatórios, e não existe nenhuma previsão legal para o sigilo de tais análises. O citado decreto estabelece medidas organizacionais para o aprimoramento da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, dispõe sobre normas gerais relativas a concursos públicos, organiza sob a forma de sistema as atividades de organização e inovação institucional do Governo Federal, e dá outras providências.



Curiosamente, no âmbito da Polícia Federal, nunca houve transparência em relação ao perfil profissiográfico dos policiais federais. É sabido que tais estudos justificam a exigência do nível superior de escolaridade para os concursos públicos de todos os cargos policiais há muitos anos, mas quando os sindicatos solicitaram acesso a tais dados, a Direção-Geral do DPF classificou tais dados como sigilosos, e ameaçou com retaliações os servidores da ANP que vazassem tais pesquisas.



Até ações judiciais de habeas data foram intentadas, e o objetivo central dos sindicatos não é tornar públicas as análises comportamentais dos cargos. O foco é ter acesso aos estudos científicos que mapearam oficialmente as atividades dos cargos da carreira policial federal. E afinal, por que a Direção-Geral do DPF não gostaria que tais dados se tornassem públicos?



Justificar a falta de publicidade ao risco de comprometimento dos concursos públicos é uma imbecilidade sem tamanho, pois a publicação oficial do Ministério da Justiça prova o contrário, e o entendimento pacificado nos tribunais exige que os critérios dos testes psicotécnicos sejam tornados públicos justamente para garantir a objetividade, a impessoalidade e, sobretudo, a transparência da Administração Pública.



Porém, não bastasse a incoerência nesse misterioso sigilo do mapeamento das atividades comprovadamente exercidas pelos policiais federais, é perturbador perceber que a Direção-Geral do DPF utiliza como referencial das atividades de seus servidores policiais uma portaria emitida pelo Ministro do Planejamento há mais de duas décadas, a Portaria n. 523/89, que descreve atividades desatualizadas exercidas por cargos policiais que, à época, possuíam nível médio de escolaridade.



É uma análise bem simples e lógica: o ministro do planejamento não possui competência para definir através de portaria as atribuições dos cargos policiais da PF. Portanto, essa portaria não é vinculante. Mas, afinal, por que a Portaria n. 523/89 é citada nos editais de concursos públicos do DPF, e é transformada num referencial vinculante pela iniciativa da Direção-Geral em inúmeros documentos oficiais do órgão?



A resposta assusta: infelizmente interessa a quem detém o poder político da Polícia Federal vincular os seus atos a um desatualizado mapeamento de atividades realizado em 1989, onde agentes, escrivães e papiloscopistas exerciam somente atividades sem complexidade, em detrimento dos recentes estudos de perfil profissiográfico emitidos pela Academia Nacional de Polícia, que provam como todos os cargos policiais, sem exceção, atualmente exercem atividades complexas de nível superior.



Será que o crescimento profissional dos cargos policiais de agente, escrivão e papiloscopista é realmente visto como uma espécie de ameaça por aqueles que historicamente monopolizam o poder político dentro da PF, até entre os seus próprio pares?

Em relação a milhares de policiais federais que dedicam e arriscam suas vidas pelo bem comum, é perturbador imaginar o que já deve ter sido feito nos bastidores, encaminhado para os ministérios e decidido nos gabinetes de quem deveria representar seus subordinados.


DIRETORIA DA FENAPEF


Fonte: Agência Fenapef