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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O aborto é racista

Terça, 14 de janeiro de 2014
 Imagem da internet
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Por Ivan de Carvalho
      Na sua mensagem de início de ano aos diplomatas que representam seus países no Vaticano, o papa Francisco fez, ontem, o que foi até aqui a sua mais dura mensagem contra a prática do aborto. Como é de seu caráter, ele não dissimulou o conteúdo com uma embalagem suavizante. Foi direto ao ponto: “Causa horror o simples pensamento de que existam crianças que jamais poderão ver a luz do dia, vítimas do aborto” e do que chamou de uma “cultura do descarte”.
      Desfazendo a impressão equivocada de alguns de que, sem qualquer revisão de sua posição doutrinária absolutamente contrária ao aborto, a Igreja tenderia a reduzir a atenção que dá ao tema, ante muitos outros também de grande importância, o papa Francisco foi incisivo o suficiente para tirar qualquer dúvida quanto à extrema relevância e a enérgica oposição e condenação que ele e a Igreja Católica dão ao tema do aborto. “Infelizmente – disse ele – objetos de descarte não são apenas os alimentos e os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos”.
      Em verdade, o papa, no que foi até agora o seu principal documento doutrinário, a exortação apostólica “Evangelii Gaudium” – Alegria do Evangelho –, divulgada em novembro, já afirmara que “a defesa da vida por nascer está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano”. E dessa afirmação não há que pedir explicação alguma, tal sua clareza: quando se nega a um ser humano o direito de nascer, negam-se-lhe juntos todos os outros direitos humanos. Inclusive o direito à ampla defesa e ao “devido processo legal” antes do sacrifício pela pena de morte aplicada antes mesmo do nascimento e sem existência de qualquer delito praticado pelo condenado.
      Nesta questão do aborto, algumas outras coisas não devem deixar de ser lembradas. Certas fundações de atuação mundial, a exemplo, dentre outras, da Fundação Rockfeller, da Fundação MacArthur, da Fundação Ford tem dado indícios muito consistentes – devido aos projetos, entidades e movimentos que financiam generosamente – de que podem estar engajadas em um plano global de redução da população mundial.
      Uma área prioritária para essa redução – já que as mais poderosas fundações dessa natureza têm suas fundações (sem pretensão de trocadilho) nos Estados Unidos – é a América Latina. Outra área, evidentemente, é o território dos próprios Estados Unidos. Claro que essas prioridades não excluem outras partes do mundo. E claro, também, que, além de outros “métodos”, a disseminação da prática do aborto (agora já até com a facilidade da pílula do dia seguinte, que, como o DIU, é abortiva) é um dos instrumentos mais importantes.
      Nos Estados Unidos, desde 1973 o aborto é legalizado até o nono mês de gravidez. Isso significa que a qualquer momento a mulher pode matar o filho que abriga no ventre. Essa facilidade tem estimulado a prática do aborto entre as norte-americanas e também entre imigrantes e um dos fatos essenciais a observar é que a concentração de clínicas de aborto é muito maior em comunidades pobres e de densidade populacional de negros do que em outras. Isto significa que há uma matança bem maior de nascituros pobres e negros. Visto desse prisma, o aborto lá é discriminatório contra os nascituros filhos de mulheres pobres e é também racista. Se descriminalizado no Brasil (como tanto se tenta e como a presidente da República, antes de ser eleita, disse que acha que deve acontecer), o aborto ganharia também significado racista e atingiria mais os nascituros pobres – que são sempre muitos.
      A importância do aborto para o não nascimento do ser humano vivo no ventre materno vem principalmente do fato de que ele é a “solução” quando os outros “métodos” não foram aplicados ou falham. O aborto está para o nascituro assim como a “solução final” que os nazistas tentaram dar aos judeus que levavam para os campos de concentração. No caso dos nazistas, a criminosa e horrenda “solução final” foi largamente aplicada, mas não teve êxito – os nazistas perderam e os judeus estão aí. Creio que se deve fazer todo o esforço possível para impedir que a solução final representada pelo aborto atinja seus objetivos.

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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.