Quinta, 16 de janeiro de 2014
'Milhares de pessoas choraram pela morte de Mandela e agora defendem a ação da
PM contra os rolezinhos nos shoppings de São Paulo'
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Shopping Leblon, situado em um lugar privilegiado da cidade,
em um dos lugares com metro quadrado mais caro do mundo, e frequentado pela
elite carioca, com dezenas de lojas de grifes. Nada seria mais perturbador que
a presença dos jovens de periferia que estão se organizando nas redes sociais
para dar o famoso “rolezinho” no próximo domingo, o evento já conta com mais de
cinco mil participantes.
Para quem vê do alto, com nariz empinado pode até considerar
uma atitude de baderna e marginalização, e pode até ser que alguns
frequentadores tenham objetivos que não sejam positivos. No entanto, considero
que este novo movimento em nossos pais seja a forma que a população tratada
como invisível discriminada e que é vista sob o olhar preconceituoso das elites
tenha encontrado para mostrar sua força e sua existência.
Qual favelado que nunca entrou no shopping e se sentiu
coagido, ou perturbado com a presença de um segurança o seguindo sem nem mesmo
disfarçar. Quantos negros e pobres que são despercebidos e ignorados por
vendedores treinados para desprezarem os que não se apresentam vestidos da
forma que a sociedade exige.
“Os rolezinhos são consequência dos protestos de 2013. Ano
passado lutamos por transparência política e transporte de qualidade. Agora a
juventude nas favelas está lutando por maiores opções de lazer. Na favela temos
pouco lazer. Não adianta reformar apenas quadras esportivas. Queremos a
construção de um cinema ou um teatro. Infelizmente estamos vivenciando muitas
discriminações o que nos leva a discutir a segregação entre classes sociais.
Milhares de pessoas choraram pela morte de Mandela e agora defendem a ação da
PM contra os rolezinhos nos shoppings de São Paulo”. Defende Michel Silva, 19
anos e liderança comunitária na Rocinha.
Então, qual é o lugar do pobre?
A onda do rolezinho chegou à Zona Sul e começa a assustar,
principalmente pelo shopping escolhido está localizado nas proximidades da
Rocinha, Vidigal e vizinho da Cruzada, comunidades com grande população. Afinal, ninguém quer ver pobre se divertindo.
Muitas pessoas, e não são poucas consideram mesmo é que lugar de pobre é atrás
do balcão fritando hambúrguer, limpando as mesas e fazendo serviços braçais.
Os rolezinhos devem continuar, é uma chance que os menos
favorecidos têm para se expressarem e mostrarem quem tem direitos de
comparecerem a um shopping que é aberto ao publico. A diferença de o pobre ir
com 5 mil pessoas não existe, já que quando ele vai sozinho ao shopping com
uma roupa qualquer é descriminalizado da mesma forma.” Jefferson Barbosa, 17
anos, líder estudantil da Juventude e
Movimento.
Se devem ou não serem proibidos a justiça irá decidir, a lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
estabelece que é crime "recusar ou impedir acesso a estabelecimento
comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou
comprador". Se vão continuar eu não sei, mas já considero uma grande
transformação e evolução a inquietação
dos jovens em se indignarem e protestarem contra o preconceito instaurado em um
pais de cultura diversificada e formado por raças e etnias diversas.
*Davison
Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em
desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio,
membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu,
professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade,
funcionário da PUC-Rio.