Domingo, 12 de janeiro de 2014
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por Eliane Brum
Os novos “vândalos” do Brasil
O
rolezinho, a novidade deste Natal, mostra que, quando a juventude pobre
e negra das periferias de São Paulo ocupa os shoppings anunciando que
quer fazer parte da festa do consumo, a resposta é a de sempre:
criminalização. Mas o que estes jovens estão, de fato, “roubando” da
classe média brasileira?
O
Natal de 2013 ficará marcado como aquele em que o Brasil tratou garotos
pobres, a maioria deles negros, como bandidos, por terem ousado se
divertir nos shoppings onde a classe média faz as compras de fim de ano.
Pelas redes sociais, centenas, às vezes milhares de jovens, combinavam o
que chamam de “rolezinho”, em shopping próximos de suas comunidades,
para “zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras” ou “tumultuar, pegar
geral, se divertir, sem roubos”. No sábado, 14, dezenas entraram no
Shopping Internacional de Guarulhos, cantando refrões de funk da
ostentação. Não roubaram, não destruíram, não portavam drogas, mas,
mesmo assim, 23 deles foram levados até a delegacia, sem que nada
justificasse a detenção. Neste domingo, 22, no Shopping Interlagos,
garotos foram revistados na chegada por um forte esquema policial:
segundo a imprensa, uma base móvel e quatro camburões para a revista,
outras quatro unidades da Polícia Militar, uma do GOE (Grupo de
Operações Especiais) e cinco carros de segurança particular para montar
guarda. Vários jovens foram “convidados” a se retirar do prédio, por
exibirem uma aparência de funkeiros, como dois irmãos que empurravam o
pai, amputado, numa cadeira de rodas. De novo, nenhum furto foi
registrado. No sábado, 21, a polícia, chamada pela administração do
Shopping Campo Limpo, não constatou nenhum “tumulto”, mas viaturas da
Força Tática e motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de
Motocicletas) permaneceram no estacionamento para inibir o rolezinho e
policiais entraram no shopping com armas de balas de borracha e bombas
de gás.