Sábado, 25 de janeiro de 2014 |
Escrito por Waldemar Rossi* |
Correio da Cidadania |
Alguns leitores do Correio da Cidadania têm reclamado de um suposto
pessimismo e má vontade em relação aos governos petistas. Tenho sido
acusado, em meus artigos, de nunca reconhecer os avanços obtidos nos
últimos 11 anos de governo. Entretanto, é de se crer, deveríamos
analisar todos os governos pela ótica da justiça social, e não dos
“favores” que a parcela faminta de nosso país espera dos políticos de
plantão, em troca da venda dos seus votos. O que se deveria esperar de
políticos que foram eleitos pelo povo – que neles votaram na esperança
das reformas de estrutura – era o cumprimento desses compromissos
assumidos com toda a população durante as campanhas eleitorais, pondo em
prática tais reformas, sempre prometidas, mas nunca cumpridas. Ou,
pior, quando postas em prática estão sempre a favor do capital,
portanto, em prejuízo do povo.
No ano de 2004, Lula se propôs a alterar, mais uma vez (FHC já havia
prejudicado os trabalhadores), as normas que vigoravam na Previdência
Social, em detrimento dos que dela dependem. Falava-se, como se fala
ainda hoje, que a Previdência estava deficitária, sem dizer que o
déficit é provocado pela criminosa sonegação praticada pelas grandes e
médias empresas, sobretudo. Naquela época, Guido Mantega (hoje Ministro
do Planejamento) justificava a medida dizendo que “o aposentado já não
precisa de dinheiro, porque não paga condução...”, entre outras
besteiras. Ou seja, tudo o que um trabalhador economizou
compulsoriamente durante anos, pode agora ser-lhe roubado. Não importa
se ele terá que viver na pobreza ou na miséria o que resta dos seus anos
de vida. O que importa é usar o seu dinheiro para cobrir o rombo
causado pela sonegação do capital. Com tal fala, tenta jogar sobre as
costas dos trabalhadores a culpa e o ônus dos podres frutos da sonegação
dos poderosos.
E o problema voltou à tona, nesses primeiros dias de 2014, sob o
pretexto de que o “Rombo da Previdência em 2013” foi de R$ 50 bilhões.
Duas observações importantes, que as percebe quem acompanha o noticiário
econômico:
1 – o déficit é resultado direto dos “incentivos” fiscais feitos às
montadoras, principalmente, mas a outros setores industriais também.
Além da eliminação do IPI, determinou-se a mudança na contribuição
previdenciária para aliviar a folha de pagamento, o que resultou em
sonegação oficializada da contribuição previdenciária.
2 – E o que propõe o governo Dilma? “Rombo da Previdência cresce e
governo quer apertar regras para benefícios” (*); “A Previdência busca
meios para apertar as regras de concessão de auxílios-doença e
invalidez” (*).
Ou seja, para atender a cobiça de maiores lucros pelas empresas e
para atender às suas obrigações com os estados e municípios – estancados
durante 10 anos com o dinheiro desviado para fins escusos – o governo
petista, mais uma vez, quer punir quem sempre trabalhou produzindo as
riquezas desse mesmo capital, por ele favorecido.
Enquanto maquina no calado das férias gerais – que param o país – e
articula os meios para ferrar seu povo, o governo atende de bom grado às
exigências estapafúrdias da gangue que domina a FIFA, gangue que
planeja eventos mundiais para impulsionar e favorecer economicamente um
sistema em vias de falência histórica. E os grandes favorecidos são a
indústria da construção civil (grandes empreiteiras), as indústrias do
aço, do cimento, do mobiliário, das máquinas, dos meios de transporte,
além de forçar avanço das privatizações de setores estratégicos, como
postos, aeroportos, ferrovias e estradas de rodagem. No bojo desses
favorecimentos, entram a hotelaria e o turismo, a prostituição e a
exploração sexual de crianças.
Nesse curto tempo de Copa do Mundo, alguns empregos são criados e
isto será, e é, usado como publicidade de uma política eficiente. O que
restará desse circo do futebol mundial? Elefantes brancos jogados às
traças, desemprego em vários setores desacelerados depois da Copa e, sem
dúvidas, um rastro de miséria humana.
Ao não analisar sob a ótica das reais necessidades do povo e do
potencial de desenvolvimento do país, estamos legitimando mais uma farsa
que compromete o futuro de inúmeras gerações e colabora para jogar,
ainda mais, nosso país nas garras das “aves de rapina” que controlam e
exploram a economia mundial.
Não temos o direito de permanecer cegos e calados diante dos crimes
que são praticados a cada dia no Brasil. No próximo artigo, procurarei
tratar de outros temas atuais e que, espero, ajudarão a melhor
compreender nossa dura realidade político-econômico-social.
(*) Estadão, 21 de janeiro de 2014 – Economia & Negócios – B1.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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