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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Sucessão e a família Carneiro

Sexta, 10 de dezembro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Tribuna da Bahia
      O apoio do ex-prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, não tem sido requisitado, até onde de se nota, por qual agrupamento de forças políticas disposto a disputar as eleições majoritárias na Bahia e isto não surpreende, pois ele não saiu da prefeitura com uma boa imagem de administrador ou político. Seu apoio seria útil em algumas áreas da periferia, mas esse benefício seria neutralizado, seguramente, pela percepção de um mau desempenho geral, sobretudo no segundo mandato.
No primeiro mandato, foi salvo pela entrada do PMDB em seu governo, com a viabilização de obras e de articulações políticas que resultaram em sua reeleição. Mas depois o prefeito reeleito e o PMDB se desentenderam, os peemedebistas deixaram a administração municipal e esta iniciou uma queda em parafuso que só parou quando o cargo foi transmitido para o novo prefeito, ACM Neto. Ou até se poderia dizer que a queda extrapolou o tempo do segundo mandato de João Henrique, afirmação que encontraria fundamento na rejeição sistemática de suas contas que haviam ficado por votar pela Câmara Municipal.
Isto inviabilizou legalmente a candidatura dele a deputado federal ou a qualquer outra coisa, daí que deverá apresentar a mulher, Tatiana Paraíso, ex-secretária de Saúde, como candidata a deputada federal. Ela será a representante dele, além de representar os eleitores que votarem nela. O ex-prefeito praticamente só faz política na capital. Outra é a história dos políticos do restante da família – o senador João Durval, do PDT, ex-deputado federal, ex-governador e duas vezes prefeito de Feira de Santana e seu filho, Sérgio Carneiro, deputado estadual e depois federal, candidato a prefeito de Feira de Santana e atualmente suplente de deputado federal.
Senador João Durval. Foto Senado
Na Câmara, Sérgio Carneiro, que está há tempo no PT, sempre foi um deputado prestigiado e destacado, tendo-lhe cabido, entre outras coisas, a importante relatoria do projeto para o novo Código de Processo Civil. Em Feira, tem seu nicho de votos em conjunto com o pai, João Durval. E este, aí está o problema, não é do PT, mas do PDT e ocupa a cadeira de senador que estará em disputa nas eleições de outubro na Bahia e para a qual o governismo já escolheu um candidato, o ex-governador e atual vice-governador Otto Alencar.
Acontece que dois fatos concorrem para uma complicação do quadro. Um deles é a disputa entre o PDT (Marcelo Nilo, presidente da Assembléia Legislativa) e o PP (Mário Negromonte, ex-líder nacional do partido e ex-ministro de Cidades, além de deputado federal, presidente estadual e vice-presidente nacional do PP) pelo lugar de candidato a vice na chapa governista. É a vaga que resta na chapa.
O outro fato complicador é que, do alto de seus 82 anos, o terceiro senador brasileiro em idade, João Durval faz saber (e não de agora, mas já de algum tempo) de sua disposição ou desejo de ser candidato à reeleição. E Durval deixou, entre as muitas coisas que fez no governo baiano, duas muito marcantes: o tratamento, que se pode chamar até de carinhoso, que deu aos servidores públicos estaduais, que se tomaram de um grande amor por ele; e, além da atenção dada a sua querida Feira de Santana, desdobrou-se em esforços para desenvolver o semiárido do nordeste baiano, a região do sisal, onde ninguém o esqueceu até hoje e onde muitos ainda o amam como governante que não falhou com a região.
Acontece que a vaga de candidato a senador já está ocupada na área governista e João Durval não cabe na vaga de candidato a vice. E ele é do PDT, assim como um dos candidatos a vice, Marcelo Nilo. Será, considerado o complexo e difícil cenário eleitoral baiano, uma estultície o governismo tirar João Durval de campo de uma forma que seja menos que respeitosa, honrosa e extremamente carinhosa. Mas o afastamento de Durval, do PDT, representa, sem dúvida, um reforço, sob o argumento de compensação, ao outro nome do PDT na batalha para entrar na chapa governista, o deputado Marcelo Nilo. Ao mesmo tempo que aumenta o stress pedetista caso o presidente da Assembléia não seja contemplado.
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Ivan de Carvalho é jornalista baiano.