Terça, 28 de janeiro de 2014
O jornal americano Washington Post, em sua edição de domingo
(26) denunciou as remoções que estão sendo feitas em diversas favelas no Brasil
por conta da Copa do Mundo nas cidades onde haverá jogos do mega-evento. A
matéria, assinada pela jornalista Donna Bowater, tem como exemplo a capital
gaúcha, Porto Alegre, que está promovendo várias remoções em comunidades carentes
para dar lugar a obras de infraestrutura.
“Onde antes havia um campo de futebol na cidade do sul do Brasil,
há uma auto-estrada. E onde havia casas, agora é um lugar degradado com pilhas
de madeira, tijolos e escombros de quem morava lá”, afirma a notícia.
Essas mudanças, segundo a matéria, são por conta da Copa do
Mundo, o mega-evento que neste verão, em uma dúzia de cidades brasileiras, está
gerando um frenesi de construção de estradas, reformas de aeroportos e outros
projetos.
O impacto está sendo sentido mais forte entre os cidadãos
mais pobres, diz o texto, incluindo moradores da maior favela de Porto Alegre,
que estão vendo o campeonato internacional de futebol como sinônimo de remoções
e demolições.
Ativistas entrevistados por Donna Bowater disseram que mais
de 250.000 pessoas em todo o país estão ameaçadas de despejo - apesar de alguns
desses esforços estarem em curso há anos e poderão se estender além da Copa. O
Brasil também está se preparando para sediar as Olimpíadas em 2016.
Algumas autoridades brasileiras, afirma a jornalista do
Washington Post, insistem que a maioria dos deslocamentos não estão ligados à
preparação para a Copa do Mundo. Pesquisadores independentes, no entanto, dizem
que os relatos não deixam dúvidas. Os moradores do bairro de Santa Teresa, em
Porto Alegre, como em outras áreas pobres da cidade, dizem que não há dúvida de
que os despejos estão em andamento, assim como os vizinhos que se mudam e os espaços
que são abertos nas favelas.
"Eles quebram um ciclo de amizade, um ciclo de costume",
disse o morador Antonio Daniel Knevitz de Oliveira , que vive em Santa Teresa,
onde ele cresceu e foi um dos entrevistados de Donna Bowater.
"O Brasil é de longe o campeão de remoções forçadas
", disse Christopher Gaffney , professor de geografia da Universidade
Federal Fluminense , no Rio de Janeiro. "Esta é claramente a Copa do Mundo
de maior impacto já visto, com um monte de projetos ambiciosos ", afirmou
ele.
Em algumas das cidades afetadas, segundo a matéria, a Copa
do Mundo e as Olimpíadas são as últimas justificativas utilizadas pelas
autoridades para limpar as favelas. Caracterizados como assentamentos
"irregulares", onde muitos não têm serviços básicos em suas
propriedades, há tempos são feitas tentativas para recuperar essas comunidades,
onde mais de 11 milhões de brasileiros vivem.
De acordo com o texto, a pressão adicional de sediar os dois
maiores eventos esportivos do mundo tem dado às autoridades o incentivo
adicional para agir.
A escala de remoções no Rio de Janeiro, segundo Donna
Bowater, levou a Anistia Internacional a lançar a campanha “Despejos Forçados”,
depois de ter encontrado evidências de violações de direitos de habitação na
cidade. A matéria afirma ainda que uma rede de ativistas brasileiros que
integram a “Coalizão Nacional de Comitês da Copa do Mundo do Povo”, tentou
chamar a atenção para o fato no ano passado por meio de um relatório num painel
de direitos humanos organizado pela ONU.
Esse grupo, segundo Donna Bowater, disse que até 32 mil
pessoas em Porto Alegre poderiam estar em risco de despejo por causa dos
projetos da Copa do Mundo, com mais de 1.500 famílias afetadas pelo projeto de
ampliação de estradas.
Porto Alegre é 10 ª maior cidade do Brasil, com uma
população considerável de imigrantes europeus e uma alta taxa de crescimento
econômico. Cerca de 13% dos moradores vivem em favelas , inclusive em Santa
Teresa, de onde foram despejados para que uma estrada próxima pudesse ser
ampliada para melhorar o fluxo de tráfego em torno do estádio de futebol.
O governo está compensando as famílias removidas, afirma Donna
Bowater, mas os programas de reassentamento são descritos por ativistas como
inadequados em um país onde os preços dos imóveis têm sido crescentes.