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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Tomando o bonde errado. Como não existe transporte público eficiente, o favorecimento aos ônibus tende a instalar o caos na cidade

Quinta, 30 de janeiro de 2014

O prefeito Eduardo Paes pode ter à mão o poder discricionário que uma Câmara medíocre e dominada de cabo a rabo garante. Pode destruir a cidade e usar da perigosa política de adesão compulsória para encher a bola dos três ou quatro senhores das empresas de ônibus, eliminando as vans e tornando o trânsito insuportável para qualquer outra forma de transporte, mas não conseguirá evitar que aqui e ali uma voz mais lúcida se faça ouvir contra suas trapalhadas irreversíveis.
Mesmo medindo as palavras para não fugir à polidez, o economista Marcos Poggi, com vasta experiência em questões urbanas, afirmou a O GLOBO que a opção da prefeitura pelos ônibus é um erro.

— O sistema viário funciona como um sistema hidráulico: quanto mais opções de escoamento houver, maior é a fluidez. A prefeitura do Rio, em lugar de se associar a seus parceiros no governo do estado e no Planalto para ajudar a fazer mais metrô, que é o que resolve, e expandir na medida do possível o espaço viário, faz uma opção, errada na maior parte dos casos, por BRT e fecha ruas, fecha faixas, fecha acessos e retornos, e ainda derruba viadutos - disse com todas as letras.

Para o economista, especializado em planejamento de transportes, o engarrafamento visto nesta segunda-feira na cidade é uma prova do erro da prefeitura em apostar no ônibus como transporte viário da cidade.

Na avaliação de Poggi, que em 1992 foi coordenador do Projeto de Revitalização da Gamboa, há uma nítida estratégia da prefeitura de tentar forçar os cariocas a deixarem o carro em casa. Mas, como a população não conta com transporte público eficiente, poucos atendem a esse apelo.

— Há uma nítida aderência à visão do ex-prefeito Cesar Maia, que cunhou a expressão “santo engarrafamento”, uma variante do “quanto pior, melhor”. Trocando em miúdos, é mais ou menos o seguinte: “vamos tornar a vida de todos um inferno para forçar os donos de carros particulares a deixarem seus automóveis na garagem”, como se houvesse garagem para todos. Um achado em matéria de política pública! Isso em uma cidade que, ao contrário de outras grandes metrópoles que restringem o uso do automóvel, não tem alternativas minimamente suficientes e decentes de transporte público — afirmou Poggi, que foi integrante do Conselho de Logística e Transporte da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Para o economista, a tendência daqui para frente é piorar:

— Num contexto em que a frota de veículos cresce a uma taxa de 7% ao ano, já estamos sem a Perimetral e vamos ficar sem a Avenida Rio Branco. E o pior: com a previsão de outras mudanças no sistema viário e da construção de dezenas de torres com 30, 40 e 50 pavimentos na área do Porto Maravilha. Não é com VLT nem com BRT da Transcarioca e da Avenida Brasil que vamos resolver os problemas de mobilidade que vêm por aí.

Texto extraído do Blog Rio Urgente
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