Terça, 11 de fevereiro de 2014
Por Davison Coutinho*
Do Jornal do Brasil
A maioria dos brasileiros vibrou de emoção quando o Brasil
foi escolhido para sediar a copa do mundo de 2014. Afinal, o país do futebol
foi selecionado para sediar o maior evento esportivo do gênero.
Para essa realização o país sofreu uma série de obras, casas
e famílias foram removidas, e muito dinheiro dos cofres públicos tem sido
investido para criar estádios com o padrão exigido pela Fifa. No entanto,o
Brasil é um país precário em serviços básicos e necessita de muitos
investimentos em áreas prioritárias: saúde, educação, habitação, segurança,
infraestrutura.
O velho argumento para todos os problemas é sempre a falta de
dinheiro. O que nos revolta é saber que
se há dinheiro para construir estádios, por que não há para obras de saneamento
básico, casas populares, postos de saúde, creches, escolas, e melhorias nas
favelas?
Enquanto todos esses bilhões são desperdiçados, o nosso Brasil
ocupa a 84ª posição entre os 187 países avaliados no Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e possui quase 10% da população analfabeta. Todo esse dinheiro deveria
ser investido para solucionar as nossas demandas mais urgentes.
“O país gasta rios de dinheiro com copa do mundo em um lugar
onde não tem sequer as necessidades básicas e deixa de lado as coisas mais
importantes que são a saúde e a educação”, afirma Gabriel Figueiredo, profissional de
Educação Física e Morador da Rocinha.
A copa da elitização – O que mais entristece é que todo esse
investimento não é para a grande parte da população brasileira, a classe
trabalhadora e moradores de comunidades onde nascem os craques que brilham na
copa do mundo foram excluídos do mundial que vende ingressos a preços
impossíveis de serem comprados. Ou seja, a parcela mais pobre da sociedade é
impossibilitada de acompanhar os jogos do esporte mais popular do Brasil.
Não é novidade para ninguém que nós Brasileiros somos
fanáticos por esse esporte chamado futebol, sem dúvida esperamos muito por
esse momento, a “Copa do Mundo”, na expectativa de acompanhar nossos jogadores nas
partidas. Mas infelizmente, nem tudo são flores e a grande decepção são os
altos investimentos para um evento que não oferecerá solução para os nossos
problemas de saúde, educação, emprego, violência, entre inúmeros outros. Além de todos os fatores negativos, grande
parte dos torcedores será obrigada a assistir as partidas de dentro de suas
casas, com os preços dos ingressos tão abusivos será inviável o acesso aos
estádios. "É realmente lamentável", afirma Romario Santos, músico e morador da Rocinha.
É um absurdo considerar que um evento esportivo seja mais
importante que ver todas as crianças com a possibilidade de estudar e trilharem
seus futuros. Não há como aceitar que esse dinheiro poderia salvar vidas nos
péssimos hospitais das cidades brasileiras ou oferecer casas dignas a tantas
famílias pobres. E tudo isso para quem?
Para as construtoras, para garantir a reeleição dos nossos atuais governantes,
para agradar os turistas e a elite brasileira.
Que postura é essa discriminadora que não permiti ao menos
que a cultura do povo iluda a vida precária que o país oferece?
*Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o
nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em
Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e
Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na
Comunidade, funcionário da PUC-Rio.