Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Agora todos são black blocs no Estado autoritário de direito. Em ano reeleitoral e de copa, manifestantes e jornalistas presos tornou-se lugar comum na “República dos Banqueiros”

Terça, 25 de fevereiro de 2014
Daniel Mazola
Tribuna da Imprensa

Esses fatos e cenas estão se tornando rotina nas manifestações populares, lugar comum. Mais uma vez, manifestantes e policiais militares entraram em confronto sábado passado durante o protesto que começou na Praça da República, no centro de São Paulo, contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. 


A manifestação, como ficou nítida através das televisões que cobriram ao vivo o protesto, foi acompanhada desde o início por um contingente de mil policiais, dentre os quais, homens da "Tropa do Braço", com treinamento em artes marciais. Com esse “grupo de elite” o saldo só poderia ser esse: vários feridos, por sorte nenhum morto, dentre os quais cinco policiais, dois manifestantes e o fotógrafo do Portal Terra, Bruno Santos.


230 pessoas foram detidas e encaminhadas a distritos policiais da região central e dos Jardins, o maior número desde os protestos de junho do ano passado. Ao menos duas agências bancárias do Itaú, patrocinador oficial da Copa, foram depredadas no Centro da capital. Em meio ao tumulto, os repórteres Sérgio Roxo (O Globo), Reynaldo Turollo (Folha de S. Paulo) e Paulo Piza (G1) foram detidos suspeitos de integrar o Black Bloc, assim como dois fotógrafos freelancers.


A confusão teve início quando PMs cercaram em blocos jovens mascarados, em roupas pretas, ao que foram revidados com lixeiras e cones de sinalização. No tumulto, o fotógrafo do Terra teve o equipamento destruído por golpes de cassetete desferidos por policiais. Os golpes acertaram também suas costas. Santos caiu, torceu o pé e precisou ser encaminhado a um hospital. Um dos PMs saiu ferido, e uma mulher teve o braço quebrado.


Em meio à ação, policiais militares cercaram e prenderam dezenas de manifestantes na Rua Coronel Xavier de Toledo. No local, dezenas de agentes de segurança formaram um cordão de isolamento e ameaçaram jornalistas que se aproximaram. 


A PM foi questionada sobre a detenção dos profissionais da imprensa, e informou que os jornalistas detidos teriam adotado "práticas de manifestação típicas dos black blocs". "Quem não for (black bloc), será liberado na delegacia", informou a PM.


“Estado Autoritário de Direito”


Está muito claro que a ordem agora é endurecer, e muito. É ano reeleitoral presidencial e para governadores. Na “república dos banqueiros” vigora esse modelito de Estado Autoritário de Direito, e parece que não tem previsão de deixar de vigorar. Da mesma forma como tende a ficar inalterado o esquema de dirigismo da atividade econômica brasileira, em uma cínica parceria público-privada.


A maioria vive despolitizada e alienada, lamentavelmente são milhões de ignorantes, pessoas que não sabem ou preferem não tomar conhecimento daquilo que teriam obrigação de saber. Esse país é o lugar perfeito para um laboratório de manipulações midiáticas e safadezas ideológicas. Nosso cidadão médio, padrão, adora futebol e um “bom debate” de botequim.


A imensa maioria está sempre pronta a perder tempo com discussões inúteis. Nossos pretensos intelectuais, remunerados pelas classes dominantes, adoram jogar tempo fora discutindo um emaranhado de ideias fora do lugar, da realidade. É preciso confundir a massa sempre. Nossos políticos e juristas, na maioria, fazem o mesmo. Alguns se superam nesta arte escatológica. Outros mentem tanto e tão bem que acaba acreditando na própria mentira.


Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do Reich na Alemanha nazista ensinou, para o mundo, que qualquer coisa que for dito, de forma repetida, incansável, será aceito pela massa, pela sociedade. Assim, tudo é relativo. Tudo pode ser transformado em pretensa verdade ou suposta mentira, principalmente com essa máquina monopolista do jornalismo de mercado no Brasil. Basta que o discurso assim o proclame. É a lógica do “pensamento único”.


Lamentavelmente, quase sempre as ideologias são usadas pelos controladores sociais de plantão, como meros instrumentos para conquista, manutenção ou aumento de poder. A tática consiste em formar supostos consensos. Por tal princípio, todos devem sempre concordar com a maioria. Mesmo quando o forçado consenso se origina de uma minoria que, ativa em propaganda, consegue o triunfo de sua vontade, impondo-a goela abaixo de toda a sociedade. O tempo passa, o tempo voa, e tudo que foi antes imposto acaba sendo absorvido e repetido pela massa. 


A tentativa de construção de uma Democracia Real vem sendo bloqueada e destruída assim. Financiada pela “república dos banqueiros” e associados, a propaganda impõe interesses de grupos hegemônicos como se fossem as únicas “verdades” a serem seguidas. Assim elaboram leis sem legitimidade, pela “maioria parlamentar” para serem compulsoriamente aceitas por todos.


Com a massa despolitizada e forjada culturalmente pelos interesses dominantes, imposto à sociedade pela ditadura do “pensamento único”, a grande maioria, precisa voltar para as ruas, mas continua refletindo e reproduzindo interesses de grupos hegemônicos. Facilitando assim a provável aprovação dessa aberração democrática chamada de lei antiterror (que precisamos barrar), e a manutenção do Estado Autoritário de Direito para alegria e felicidade geral da “república dos banqueiros”, associados e agregados.


Cidadãos, manifestantes, contribuintes, trabalhadores, eleitores, desempregados, lutadores, militantes, ativistas, mulheres, homens, crianças, idosos, foliões, deficientes, torcedores, arquibaldos e ex-geraldinos, UNI-VOS!


Jovem ferido relata abuso da PM


Um técnico de manutenção de 25 anos, está revoltado com o que sofreu na noite de sábado durante a manifestação em São Paulo. Ele foi detido e ferido na testa por policiais no momento em que protestava, segundo ele pacificamente, ao lado da noiva.

“Eu levei, junto com minha noiva, golpes de cassetete na cabeça e fiquei lá sangrando. Isso por volta das 18h30m. Apenas duas horas depois é que fui levado para o hospital, deram os pontos e, de lá fomos para a delegacia. Para mim tudo foi premeditado para nos afastar das ruas. Mas isso só vai fortalecer os protestos. Não entendo porque fazer isso com gente inocente, com jornalistas que estavam fazendo o seu trabalho”.


“Eu vi muita gente desarmada, que não estava fazendo nada demais, ser agredida. Eu, além de ficar detido por mais de duas horas, levei quatro pontos na testa. A noiva ficou em estado de choque. Demoraram muito para levar a gente até o hospital”, relatou.


“De lá, fomos para a delegacia e ainda queriam fazer um B.O. contra a gente por estarmos na manifestação. Aí o próprio escrivão falou para o policial que fichar a gente não fazia sentido, pois estávamos desarmados e estávamos apenas cantando, em protesto, quando a confusão começou”, explicou.


“Quiseram nos deter para criar um clima de pânico. Meteram o cacete em todo mundo. Vi um monte de adolescente ser arrastado, apanhar mesmo. As autoridades precisam se pronunciar sobre isso”, exigiu o técnico.


Fotos impressionantes




Recomendo! Fotografias de manifestações, guerras e conflitos urbanos, um prato cheio. Material muito bom da recente batalha de Kiev, em mais de 70 fotos impressionantes: http://www.bitaites.org/fotografia/batalha-de-kiev-em-10-fotos


Tesoura revanchista


E assim caminha a humanidade, digo o desgoverno. Sabe qual foi o ministério que teve o maior corte orçamentário na tesourada dada pelo ministro Guido Mantega, na semana passada?


O da Defesa: perdeu R$ 3,5 bilhões. A dotação aprovada para os militares caiu de R$ 14,79 bilhões para R$ 11,29 bilhões.


Em termos de penúria, tudo ainda fica pior que dantes no quartel do Abrantes. As dívidas públicas continuam sendo pagas religiosamente. Na “república dos banqueiros” é assim, “vivemos” e nos sacrificamos em nome do “superávit fiscal”.


Barrigada luxuosa


A turma foi precipitada. Realmente não procede a informação de que a Presidenta Dilma tenha comprado a mansão da foto acima por R$ 5 milhões.


Situada na Avenida Copacabana, 41, bairro Tristeza, em Porto Alegre, a propriedade pertence ao publicitário Hugo F. Hoffman. Dilma tem um apartamento no mesmo bairro, onde fica quando está na capital gaúcha.


Caso a presidente venha a comprar qualquer imóvel nesse valor, é necessário comprovação dos recursos. Mesmo com a bolha imobiliária rondando a “república dos banqueiros”, e com um salário muito acima da média do brasileiro, o que a presidente ganha não proporciona esse luxo. Ou estou errado?


*Com informações do Coletivo Mídia Informal.