Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

É a luta de classes, idiota

Terça, 18 de fevereiro de 2014

As coberturas internacionais de nossa chamada grande imprensa têm duas características principais: são superficiais e tendenciosas. Os fatos são tratados com ligeireza, lugares-comuns e nítido posicionamento ideológico. Há gradações nisso, dependendo do veículo e de outros fatores, mas essa é a regra geral. E, afinal, a preguiça de fazer cobertura de rua, olhar nos olhos dos entrevistados e ouvir os dois lados (e publicar o que dizem) é uma tendência contemporânea de boa parte dos jornalistas.

Por isso é interessante ler o que escreveu o jornalista Andrew Cawthorne, da agência Reuters, e que está publicado na Folha de S. Paulo de hoje. Ele diz que não há nenhum sinal de que a maioria dos venezuelanos pretenda aderir aos protestos de rua e que “as manifestações da oposição têm um tom mais de classe média e uma presença mais branca que os comícios chavistas”.


Cawthorne conta parte do que a imprensa tem procurado não mostrar, ou esconder em meio a denúncias fáceis de violências e perseguições: os protestos têm como objetivo declarado derrubar o presidente Nicolás Maduro antes das eleições de 2019 e são fortes em bairros da elite venezuelana; os estudantes nas ruas são majoritariamente das classes mais altas e a embaixada estadunidense incentiva abertamente os opositores (como se isso fosse uma grande novidade…).

O líder das manifestações é o ultradireitista Leopoldo López, de uma família de milionários, tido como garotão mimado e playboy. Seus principais apoiadores também são da direita radical, o prefeito de Caracas e uma deputada.

O que há hoje na Venezuela é luta de classes mesmo. A direita derrotada em sucessivas eleições tenta dar mais um golpe com o apoio dos Estados Unidos.