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(Millôr Fernandes)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Governo Agnelo: a poucos meses de terminar parece que nem começou

Domingo, 16 de fevereiro de 2014

c9f36-promessas-campanha-agnelo-queiroz-2010Por Chico Sant’Anna
Por Chico Sant'Anna
Todo candidato a governador precisa registrar na Justiça Eleitoral suas promessas de campanha, seu plano de governo. A medida é apenas simbólica, não tem efeito prático, pois não existe um procon eleitoral onde se possa ir reclamar o não cumprimento do prometido. Também não existe no Brasil o chamado “voto revogatório” ou, como preferem alguns, o “recall” de políticos eleitos de má qualidade, com defeito de fábrica, ou melhor, de urna.

Mesmo assim, credibilidade e eficiência administrativa são qualidades que marcam os homens públicos. Assim o foi com Juscelino Kubitschek. Disse que faria Brasília e o fez. Assim foi com Getúlio Vargas, quando decidiu criar a Petrobrás e garantir os direitos trabalhistas, via CLT.

Estas características não são, contudo, o forte do governador de Brasília, Agnelo Queiroz. Estamos nos últimos meses de seu governo e as promessas que fez na campanha, praticamente, não saíram do papel.


Agnelo teve como estratégia eleitoral de campanha apresentar folhetos com 13 promessas para cada segmento social do Distrito federal. Foi assim, com professores, pessoal da saúde e policiais, dentre outros. A idéia era conquistar o apoio dos diversos segmentos corporativos, mas hoje podem ser o tiro pela culatra em seus planos de reeleição.

Para refrescar a memória do (e)leitor, trazemos aqui apenas alguns dos compromissos assumidos, em 2010, pela campanha Agnelo/Filippelli.

  • Construir Unidades de Pronto Atendimento – UPA em todas regiões administrativas do DF, implantar o Saúde da Família em todo o DF e recuperar os hospitais públicos
  • Integrar o sistema de transporte público da cidade, implantar um sistema de bilhete único ágil e barato, completar a linha do metrô que chega a Ceilândia e estender o metrô até o fim da Asa Norte
  • Universalizar creches para as crianças de 0 a 3 anos e a educação para crianças de 4 e 5 anos; educação integral nas escolas públicas; criar a Universidade Distrital e ampliar escolas técnicas
  • Criar as rondas ostensivas e aumentar o patrulhamento das ruas do DF
  • Regularizar os condomínios residenciais e construir ao menos 100 mil unidades habitacionais 
Uma das principais críticas ao governo Agnelo/Filippelli é a morosidade da gestão governamental. Auxiliares próximos a ele dizem que na hora de tomar decisões, é um tanto claudicante. O governo federal tem ajudado com os recursos financeiros necessários e chegou a dar uma mãozinha extra (alguns chamam de intervenção branca), ao deslocar da Esplanada dos Ministérios para o Palácio do Buriti o atual secretário de Governo, Swedenberg Barbosa (então número 1 de José Dirceu, no Palácio do Planalto), que passou a ser o gerentão do governo, e o ex-secretário executivo do ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, para comandar a secretaria de Planejamento local.

Ao longo do governo, descontentes com a condução do GDF, os senadores Cristovam Buarque – PDT e Rodrigo Rollemberg – PSB deixaram a coligação que venceu as eleições de 2010 e que governava Brasília.
O GDF tem gasto rios de dinheiro em publicidade. A conta de propaganda em 2013 deve ter passado dos R$ 200 milhões. Tudo para tentar convencer a população que é eficiente e expedito e que muito fez.
Os fatos, contudo, revelam o contrário. Poderíamos gastar aqui dezenas de linhas para demonstrar como a máquina do GDF não anda. Saúde, Educação e Segurança andam pela hora da morte.

Na educação, 75 creches deveriam ter sido construídas em 2012 para atender 130 mil crianças de 0 a 5 anos. Até meados de 2013, apesar de possuir em caixa à época R$ 9 milhões, para a construção de creches, nenhuma tinha sido inaugurada. Em junho do mesmo ano, a meta foi ampliada para 100 creches até o fim de 2014. De certo,segundo o Correio Braziliense, o ano letivo, que começou dia 42, deixou de fora da rede pública de ensino do Distrito Federal cerca de 6 mil crianças de 0 a 5.  Considerando que cada creche recebe em média 100 crianças, pose se concluir que ainda faltam 60 creches para a promessa virar realidade.

Agnelo prometeu trem, metrô e VLT. Optou por trabalhar com ônibus articulado. Este tipo de transporte já foi utilizado em Brasília na década de 1970 e não deu vazão ao volume de passageiros. Cada composição de VLT transporta cerca de 400 pessoas por viagem, uma composição de metrô, cerca de 1.500. Os ônibus articulados têm capacidade para apenas 160 passageiros.

Mobilidade Urbana
No transporte público, na melhor das previsões, a única obra que Agnelo deixará pronta em 2014 é o sistema do BRT, entre Gama e Santa Maria e o Plano Piloto. Agnelo prometera ônibus híbridos (vide folheto ao lado) movidos com o uso de combustível não poluente, como energia elétrica ou gás natural, mas se rendeu ao bom e velho ônibus a diesel, montado sobre chassi de caminhões.
Obras das ciclovias da quadra 28 no Park Way foram abandonadas em agosto de 2013. Foto de Chico Sant'Anna
Obras das ciclovias da quadra 28 no Park Way foram abandonadas em agosto de 2013. Foto de Chico Sant’Anna


É verdade que vários quilômetros de ciclovias foram edificados, porém a qualidade das obras e os trajetos seguidos são bastante questionados pelos usuários. Na quadra 28 do Park Way, as obras das ciclovias foram abandonadas em agosto de 2013. Hoje elas estão mais adequadas ao bicicross do que as pedaladas tradicionais.
Na quadra 26 do Park Way, a ciclovia foi edificada abaixo do nível do solo. No período de chuvas, fica submersa. Foto de Chico Sant'Anna
Na quadra 26 do Park Way, a ciclovia foi edificada abaixo do nível do solo. No período de chuvas, fica submersa. Foto de Chico Sant’Anna


Ali próximo, na quadra 26, elas foram concluídas, mas com má qualidade. Elas foram feitas abaixo do nível do solo e, em período de chuvas, elas ficam submersas.

Possivelmente seja para o ciclista praticar uma nova modalidade de esportes, o aquaciclismo.

Ficou ainda no ar a promessa de criar “bicicletários seguros (com chuveiros e vestiários)”, bem como a integração com demais modais. Um ciclista que pensar em entrar com sua bicicleta em um ônibus terá que tomar cuidado para não ser agredido.
As setas em amarelo apontam para os três trechos de ampliação do metrô e também o trecho do BRT que atravessará a Candangolândia rumo a estação Asa Sul do metrô. Estas obras só ficarão prontas no próximo governo.
As setas em amarelo apontam para os três trechos em azul claro que representam a ampliação do metrô e também o trecho do BRT que atravessará a Candangolândia rumo a estação Asa Sul do metrô. Estas obras só ficarão prontas no próximo governo, possivelmente em 2017.

A implantação de Trem Regional, ligando o Entorno a Brasília, saiu das prioridades emergenciais. Já o VLT no Plano Piloto, bem como a ampliação do Metrô, na melhor das hipóteses, serão materializados em fins de 2017 ou meados de 2018.

Não precisa ser um pesquisador atento, para que se constate que as promessas não se materializaram. O metrô continua no mesmo lugar que se encontrava em 2010, o bilhete único nem sequer é comentado.

As obras do VLT e Metro, idealizadas ainda em 2009 e com recursos assegurados nos PAC da Mobilidade e da Copa devem – repito, devem – ter os editais de licitação lançados no mês de março. A ampliação do metrô em 7,5 km, chegando, numa ponta, ao Hran, na Asa Norte, e nas outras, no Setor O, da Ceilândia, e em mais duas estações em Samambaia, ficaria – se as novas promessas forem respeitadas – pronta no início de 2017.  

Saúde e Segurança 


Dois homicídios por dia. Seqüestros relâmpagos, furtos em comércio e residências, roubo de veículos. O brasiliense já tem medo de sair de casa e se sai, é em grupo e olhando para todos os lados.

Agnelo prometeu em 2010, criar a reintroduzir as rondas ostensivas (muito utilizadas no governo de Cristovam Buarque) e a aumentar o patrulhamento das ruas do DF. Além disso, 13 promessas foram feitas aos servidores da segurança pública. Não cumpriu a palavra e quem pagou o pato foi a população. Diante da Operação tartaruga da Polícia Militar, cresceram os casos de danos e perdas materiais e o que é pior, a perda de entes queridos.

Fica evidente que promessas geram uma expectativa e quando não são cumpridas, ou são feitas em vão, trazem prejuízos sérios à comunidade.

Na Saúde, é a própria propaganda oficial do GDF que informa que são quatro as UPAs, longe, portanto de uma UPA em cada cidade do Distrito Federal, como prometeu no panfleto eleitoral de Agnelo.

Os hospitais que deveriam ter tido seus problemas resolvidos em 90 dias, ainda são motivos para o calvário do brasiliense.

Embora tenha prometido aos profissionais de saúde (vide folheto) que não iria privatizar a Saúde, a palavra chave no setor tem sido as PPPs – Parceria Público Privada. É assim no Instituto do Coração e no Hospital da Criança, mantidos com recursos do GDF, mas geridos por instituições privadas. E a experiência deve se alastrar, pois a secretária de Saúde cogita em privatizar os serviços de exames médicos, um hospital inteiro no Gama e o setor de traumatologia do Hospital de Base.

A população perdeu confiança na palavra de Agnelo.
Seu governo concentrou esforços na construção de um estádio bilionário e esqueceu o resto da cidade. Em março de 2012, o canal de TV ESPN (vide o vídeo) já denunciava esta situação. Muito dinheiro para o Mané Garrincha e abandono da cidade e das demais promessas a Fifa.


O VLT do DF foi o primeiro dos compromissos assumidos pelo Brasil que tiveram que sair da lista apresentada à FIFA. O BRT, com atrasos em sua execução, se tudo correr bem, vai funcionar às vésperas da abertura da Copa e, mesmo assim, parcialmente, pois as obras de reforma da Estação Rodoviária, no centro de Brasília, não deverão estar conclusas. Também a perna da via expressa que atravessará a Candangolândia, rumo a Estação do Metrô Integração Asa Sul (próximo ao Zoológico) não ficará pronta à tempo (veja mapa).

Como a própria ESPN afirma, o futuro do estádio é uma incógnita. O governo do Distrito Federal defende a tese de que o futebol não será o que vai sustentar a nova arena e que ela será responsável por promover eventos para tentar torná-la rentável.

Veja abaixo o vídeo da ESPN, no qual o GDF reafirma suas promessas
 

Como a própria ESPN afirma, o futuro do estádio é uma incógnita. O governo do Distrito Federal defende a tese de que o futebol não será o que vai sustentar a nova arena e que ela será responsável por promover eventos para tentar torná-la rentável.

A cada chuva mais forte que cai em Brasília, os kotoristas ficam apavorados com as vias inundadas. Em novembro de 2012, a Avenida W.3 Norte, na altura da 511, virou um grande rio. Foto: Jackeline Morais

Até o momento, o Mané Garrincha vem se transformando numa eficiente máquina de fazer o dinheiro sair de Brasília. Em 2013, com a realização de 27 eventos, o GDF arrecadou com o estádio R$ 3 milhões aos cofres públicos. Essas partidas do Campeonato Brasileiro realizadas na Capital Federal somaram a renda de R$ 25.638.225.

Ou seja, o Mané Garrincha exportou via clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, uma bagatela de R$ 22 milhões da poupança do brasiliense.

Enquanto só tem olhos para os preparativos da Copa, Agnelo é visto como quem abandonou o Distrito Federal. Pelas redes sociais fotos e vídeos são disseminados mostrando o caos em que se encontra a cidade. Com as chuvas, a situação piorou, pois a Capital Federal nunca tinha experimentado tantas vias inundadas como agora. A diminuição de áreas verdes devido a urbanização de áreas verdes, como o Noroeste, e a não ampliação da rede de drenagem têm provocado inundações na Capital Federal.