Quinta, 27 de fevereiro de 2014
Do site de Luciana Genro, sobre o lançamento da chapa do Psol para as eleições presidenciais de 2014
(Transcrição da fala no ato de lançamento da chapa Randolfe/Luciana, 24 de fevereiro de 2014)
(palavra de ordem da militância) “A radical voltou, a radical voltou, a radical voltou oooô”
Uma correção nesta palavra de ordem, sobre a radical que voltou, porque eu não voltei, porque nunca fui, eu sempre estive aqui.
(palavra de ordem da militância) “A radical chegou, a radical chegou, a radical chegou oooô”
Eu não poderia começar sem antes agradecer, a oportunidade de junto
contigo Randolfe, compor essa chapa e ajudar a construir essa síntese do
PSOL, que é a nossa chapa Randolfe e Luciana. Mas que é mais que a
chapa Randolfe e Luciana, porque a síntese do PSOL é essa diversidade,
de quadros políticos, de militantes sociais, de lutadores que não temem
enfrentar os piores desafios, e os mais belos desafios para defender uma
ideia, pra defender a política como instrumento de transformação e não
como um balcão de negócios.
E esse processo de construção de uma síntese do PSOL, de construirmos
a unidade na diversidade, é muito importante neste momento político
histórico que nós vivemos. Vocês se lembram dessa frase, “um espectro
ronda a Europa, o espectro do comunismo”, se o Marx e Engels, fossem
escrever de novo o Manifesto Comunista nos dias de hoje, isso que eu vou
dizer agora não é de minha autoria, é do Bauman, disse o Bauman assim,
se eles fossem escrever de novo eles escreveriam assim: “o espectro
ronda o mundo, o espectro da indignação”, e eu não tenho dúvida que o
espectro da indignação ronda o mundo. As revoluções no mundo árabe, as
grandes mobilizações na Espanha, na Grécia, em Portugal, occupy nos
Estados Unidos, e chegou no Brasil.
Junho trouxe para o Brasil a indignação, ou melhor, junho eclodiu no
Brasil a indignação que já havia eclodido em tantos outros lugares do
mundo, e junho foi um acontecimento, pra nós, para o PSOL, um
acontecimento extremamente importante, ao qual nós devemos fidelidade. E
o que é ser fiel a junho? Ser fiel a junho é, defender, aproveitar
todas as oportunidades que a gente tem, para defender as bandeiras de
junho. E aqui eu quero trazer um pensamento do Sartre, que eu acho que é
muito útil para esse momento, que ele disse assim, em uma entrevista lá
em 1964: as posições de esquerda justamente por serem posições que vão
contra o que se pretende inculcar na cabeça das pessoas, de toda a
sociedade, elas são muitas vezes consideradas escandalosas. E diz o
Sartre então, nós não devemos buscar o escândalo, porque isso é
ridículo, ineficaz, mas nós também não podemos temer o escândalo. E as
posições de esquerda consequentes, e ser fiel as bandeiras de junho, é
não temer o escândalo, porque para a classe dominante, é um escândalo
nós defendermos a auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública, é
um escândalo afrontar os mercados, é um escândalo defender o imposto
sobre as grandes fortunas, e dizer que é possível sim, fazer a taifa
zero, e ter a saúde e a educação, padrão FIFA, cobrando mais dos ricos,
do 1% que suga o sangue e o suor dos 99%, da nossa sociedade.
É um escândalo que nós não tememos, defender, como tem feito o Jean, e
vários dos nossos dirigentes parlamentares lutadores, o casamento
igualitário, o aborto, não nos calar com a hipocrisia da criminalização
do aborto, quando a gente sabe que as mulheres que tem dinheiro, fazem
aborto com segurança, e as pobres morrem perfuradas com agulhas de
tricô, é não temer o escândalo de defender a descriminalização da
maconha, porque nós não aceitamos a criminalização da pobreza, porque
nós não aceitamos que siga se encarcerando, milhões de jovens negros,
pobres, para que os grandes traficantes sigam lucrando, as custas da
miséria alheia.
Nós não tememos o escândalo, pra defender a necessidade de se
construir uma nova ordem, porque junho mostrou que nós necessitamos de
uma nova ordem, que esse sistema, que esse regime político, não
representa, não nos representa, não representa os milhares de jovens que
foram as ruas em junho, que é preciso uma verdadeira transformação, nas
estruturas de representação política do nosso país.
O PSOL tem a obrigação nesse processo eleitoral, e eu não tenho
dúvida Randolfe, de que tu como nosso candidato, vai ser a expressão
fiel desta necessidade, da necessidade de nós construirmos um partido
que não é socialista só no nome, de um partido que sabe que nós não
vamos conquistar o socialismo em um processo eleitoral, até porque não
se faz socialismo pela via eleitoral, mas que se faz sim, que se pode
fazer sim, um processo de acumulação de forças, com medidas de transição
que enfrentem verdadeiramente os interesses do capital, que medidas de
transição verdadeiramente apontem na necessidade de se se acabar com a
exploração da classe trabalhadora, de se acabar com a lógica da
mercadoria se sobrepondo ao interesses da humanidade.
(…) e a luta contra essa lógica, vai permear a nossa batalha
eleitoral, mostrando que é preciso enfrentar os interesses deste
sistema, e mostrando que é preciso enfrentar os interesses deste regime
político, desta democracia burguesa degenerada, onde a política é um
balcão de negócios, onde as instituições apodrecidas não representam os
interesses do povo, e só são permeáveis as reivindicações do povo,
quando o povo vai às ruas e se mobiliza.
E é isso que nós vamos dizer aos brasileiros, que é possível sim,
fazer as transformações que o povo reivindicou ao longo do mês de junho,
e que segue reivindicando agora. Junho foi uma fratura neste regime,
junho foi um momento de ruptura onde ficou claro que o PT já não
controla mais a classe trabalhadora e a juventude, e essa foi a primeira
mobilização em muito tempo, que não é controlada pelos partidos
tradicionais que não é controlada pela esquerda tradicional, que já não é
mais esquerda porque se rendeu, e isso é de uma importância ímpar.
Se junho teve deficiências por falta de uma direção, e teve
deficiências por falta de uma direção, por falta de uma referência
política que pudesse organizar essa indignação, mas teve esse grande
mérito de mostrar que as forças populares estão livres dos grilhões,
livres dos grilhões da institucionalidade tradicional, que foi renegada.
Por isso, quando os jovens diziam não aos partidos, nós entendíamos que
eles estavam negando esses partidos tradicionais. E o nosso grande
desafio é mostrar que o PSOL é diferente, que não adianta a gente só
dizer que é diferente, a gente vai ter que mostrar que a gente é
diferente, as nossas histórias mostram um pouco disso. A história do
Randolfe mostra que ele não se vendeu ao sarneisismo do Amapá, a
história de cada um que está aqui hoje, do Marcelo Freixo que tem a sua
vida ameaçada pelos milicianos e, é obrigado a andar permanentemente com
seguranças, mostra que a gente não se rendeu.
E isso significa que nós temos as condições de empalmar com esse
processo de indignação, de capitalizar na construção de um projeto
político novo, esse processo de indignação. Por isso, que eles nos
atacam, e nós não temos medo do escândalo de dizer, que a rede globo é o
maior partido do sistema, e é por isso que atacou Marcelo Freixo. Para
defender o sistema eles precisam atacar as mobilizações, eles precisam
atacar o PSOL, eles precisam atacar as expressões públicas do PSOL, como
é Marcelo Freixo no Rio de Janeiro.
Então nós temos uma grande oportunidade nas mãos neste processo
eleitoral, e o desafio de conseguir fazer com que o povo brasileiro,
olhe para o PSOL, veja o PSOL. Por que, Dilma pode estar na frente nas
pesquisas, mas eu tenho a absoluta certeza, de que ela não está na
frente no coração das pessoas que querem mudança, como uma vez o PT já
esteve. Não está mais, o PT está de costas para o futuro. Aécio nem se
fala, Eduardo Campos junto com Marina, não passa de mais do mesmo, não
passam de uma repetição enfadonha da mesma ladainha, e da mesma
competição, pra ver quem mais agrada os mercados e o capital financeiro,
quem é mais eficiente na aplicação do tripé de interesses dos mercados
financeiros.
Por isso, que o nosso desafio, que eu espero que possamos construir
junto com o PSTU e o PCB, a Frente de Esquerda, é ser o partido que vai
mostrar, que existe um outro caminho, que existe uma outra
possibilidade, que não é um mero sonho utópico, que é uma utopia
concreta, que é uma utopia no sentido de que são possibilidades reais,
que não foram realizadas, mas que estão latentes, e que podem se
realizar, e dependem não só de nós, dependem mais do que tudo, da luta
do nosso povo.
E junho, mostrou que essa luta está acontecendo, segue acontecendo,
agora não mais como em junho, mas com um junho das categorias, como um
junho das escolas, das universidades, como nós tivemos em Porto Alegre
na greve dos rodoviários, como tivemos tantas outras lutas que se
espalharam por aí, como a própria luta para que fosse esclarecido o
crime cometido contra o Amarildo, e na pessoa dele milhares de jovens
negros, e pobres que são assassinados pela polícia diariamente no nosso
país, onde há sim pena de morte, para negros e pobres das favelas.
Então, nós temos um grande desafio nas nossas mãos, e eu acredito que
nós temos plenas condições de nos apresentar como esse partido, que
quer organizar a indignação, que quer mostrar para o Brasil, que é
possível romper com o capital financeiro, que possível fazer com que os
ricos paguem mais, que é possível construir um processo de luta do nosso
povo, que resgate a dignidade daqueles que são explorados e oprimidos. E
pra isso nós precisamos mais do que tudo, de vocês.
Eu, e o Randolfe, seremos apenas a ponta de lança deste processo,
porque é cada um de vocês, a militância do PSOL, que vai começar, que já
começou, que nunca saiu das ruas, e que vai começar agora o nosso
processo de debate do nosso programa de governo, e que vai iniciar a
nossa campanha eleitoral nos próximos meses, pra mostrar que nós temos
condições de construir um outro Brasil, um Brasil que seja voltado para
os interesses da grande maioria, e não, para as elites que dominam e que
sufocam o nosso povo. Então, nós contamos com vocês nessa enorme tarefa
da qual eu tenho muito orgulho de ser parte, e de assumir ao lado do
Randolfe, como vice do Randolfe, essa tarefa de ser a porta voz junto
com ele, da nossa luta e das nossas propostas para mudar o Brasil.
Muito Obrigada
(Transcrição da fala no ato de lançamento da chapa Randolfe/Luciana, 24 de fevereiro de 2014)