Segunda, 10 de fevereiro de 2014
Por Raquel Paris
No dia 06 de fevereiro de 2013, ás 15h, na Rua Bárbara de Alencar, centro comercial do Crato, Francisco do Nascimento foi amarrado a um poste e assim permaneceu durante duas horas. O motivo: em surto, teria quebrado vidraças de lojas.
Francisco do Nascimento, morador do bairro São Miguel possui histórico de outros atentados, como pôr fogo no carro de um vizinho. Ele também possui diversas entradas no Hospital Psiquiátrico Santa Tereza. Segundo a sobrinha, a família não sabe mais o que fazer com Francisco do Nascimento: no hospital não há vagas e ele se torna cada vez mais violento.
Durante as duas horas em que ficou amarrado, algumas pessoas tentaram libertá-lo, ato que foi violentamente rechaçado pelos dois homens que o prenderam. No mais, a multidão, estonteada, admirava estupidamente o espetáculo do homem que gritava, rugia e pedia por socorro. Diversas autoridades estiveram no local, a exemplo de soldados do Ronda.
Mas há um outro histórico que pesa sobre Francisco do Nascimento: nasceu negro e pobre. E pior: necessita de acompanhamento psiquiátrico. Dessa forma, por ser negro, pobre e louco, Francisco Nascimento pôde ser amarrado, exposto a ridicularização pública e violentado em sua dignidade humana , tal qual seus ancestrais.
De minha parte, só não podia acreditar que, após tantos séculos, ainda iria presenciar um negro sendo imolado em praça pública.
Viva o Crato! Viva o Brasil!
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OUTRO HOMEM NU APARECE AMARRADO SOB SOL FORTE NA ZONA SUL DO RIO
Do Correio do Brasil
O homem nu, que aparece na foto, teria sido vítima da agressão de ‘justiceiros’ que agem nos bairros de classe média da Zona Sul do Rio |
Mesmo
após a série de protestos contra os responsáveis por algemar um jovem
pobre e preto, completamente nu, pelo pescoço, a um poste no bairro do
Flamengo, a foto de um outro homem também sem roupas, amarrado a
um cano na calçada em frente à sede da empresa norte-americana IBM, no
bairro de Botafogo, também na Zona Sul do Rio, voltou a circular nas
redes sociais. O fato ocorreu em 2010, mas a foto voltou a ser publicada
em um site na internet, apócrifo, que presta algum tipo de homenagem ao
filme Tropa de Elite, com o título Faca na Caveira Oficial. O Correio do Brasil não
pode confirmar, com fontes oficiais ou independentes, a autenticidade
da atual fotografia mas o fato teria sido publicado no diário popular
carioca O Dia, à época.
No site, que intitulou a foto como “Ladrão amarrado em frente a IBM, em Botafogo”, também não há detalhes de quando a foto foi tirada ou sobre a identidade do homem amarrado à
calçada, sob um sol escaldante. Os comentários que o assunto gerou, no
entanto, confirmam o caráter fascista de fatos que indicam a existência
de grupos de ‘justiceiros’, em ação nos bairros de classe média da
cidade.
“Só
vai ter o meu respeito quando pararem de amarrar esses fdp e multilarem
esses fdp, tem que cortar as mãos, para não fazer isso de novo!”, disse
um dos comentaristas, que não se identifica. Outro, que parece ter
escrito o comentário a partir da Escola Alemã Corcovado Deutsche Schule, foi ainda mais sarcástico:
“Ah, tranquilo. Tava só curtindo um bronze sem sunga pra não deixar marca. Hahahaha”.
Este foi seguido de mais um, que diz trabalhar “na empresa Marinha do Brasil”:
“Haha, essse ficou melhor que o da semana passada, no sol torrando”.
A
existência desses grupos foi assunto para a apresentadora de
ultradireita Rachel Sheherazade, âncora de um telejornal no canal SBT. A
jornalista foi acionada, judicialmente, por parlamentares e
instituições da sociedade civil, por incitação ao crime e racismo. Ela
respondeu às críticas, no ar, após receber uma reprimenda dos próprios
colegas da emissora.
“A
única coisa que faço é usar esse privilégio da liberdade de expressão
todos os dias. Se fosse pautar meus comentários pela aprovação da
maioria não teria opinião própria, seria uma marionete de outros
interesses. Isso não sou”, declarou a apresentadora. Um grupo de
funcionários do SBT estaria fazendo uma campanha contra os comentários
feitos por ela no jornal noturno SBT Brasil.
Funcionários da emissora, entre eles vários artistas, teriam criado um
abaixo-assinado declarando que “Rachel não nos representa”, no qual
afirmam ser Sheherazade “conservadora” em suas opiniões sobre política e
religião.
Direitos Humanos
O
adolescente espancado e preso a um poste por uma trava de bicicleta,
nu, na noite de sexta-feira passada, na Av. Rui Barbosa, Flamengo, teria
sido atacado por um grupo de três homens. Coordenadora do Projeto Uerê,
a artista plástica Yvonne Bezerra de Melo, de 66 anos, defensora dos
Direitos Humanos, foi chamada por vizinhos que flagraram a cena e
registrou a situação.
–
Eu não quero saber se ele é bandidinho ou bandidão, você não pode
amarrar uma pessoa no meio da rua. Aquela área do Flamengo teve um
aumento muito grande de violência e roubos recentemente. Como as coisas
não melhoram, um bando de garotões se juntam e começam a fazer justiça
pelas próprias mãos. Sei que tem muita marginalidade e a polícia é
ineficaz, mas você não pode juntar um grupo e começar a executar
pessoas. Eu perguntei a ele quem tinha feito aquilo e ele disse que eram
os “justiceiros de moto”. Ele foi espancado, levou uma facada na
orelha, arrancaram a roupa dele e prenderam pelo pescoço. E ninguém na
rua faz nada para impedir – protesta Yvonne.
A artista plástica já chegou a receber ameaças por ajudar e defender o rapaz:
–
Eu recebo ameaças por defender, mas estamos falando de seres humanos.
Recebi no Facebook a seguinte mensagem: “Pra mim essa raça tem que ser
exterminada com requintes de crueldade”. De um rapaz jovem, que não deve
ter nem 20 anos. Se o Estado não toma providências para resolver o
problema da violência, os grupos nazistas, neonazistas se unem e essa
mentalidade toma conta – concluiu.