Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 31 de março de 2014

A "Governabilidade" da falcatrua

Segunda, 31 de março de 2014
Do Blog do Salin Siddartha
Os gregos, na Antiguidade Clássica, já diziam que o sustentáculo fundamental da democracia e da cidadania é a res publica. O que se destina à Nação, em toda a sua abrangência, tem que ser valorizado pelo seu caráter público, principalmente pela classe política do País. É da essência republicana o sentimento cidadão do respeito aos poderes constituídos, a confiança no equilíbrio existente na divisão tripartite entre quem legisla, quem executa e quem julga.
 
Na contramão do que deveria ser republicano, há uma máfia articulada com setores governamentais e com grandes corporações, visando parasitar as contas públicas. O que existe, atualmente, é a “governabilidade” da falcatrua (uma espécie de conspiração entre criminosos associados para achacar os cofres públicos). Utilizam-se os aparelhos do Estado para garantir a mafiosos seus próprios “negócios” com o dinheiro público e perverter a democracia, alojando, nas instituições, os membros dos “esquemas”.
A corrupção passou a ser condição da governabilidade. A “governabilidade” baseada nesses métodos serve a interesses antidemocráticos e antipopulares – exemplo disso é o descaso com a ordem urbanística, a saúde, a segurança pública, a educação, o transporte e, até mesmo, com o lazer da população, no DF. Mas esse não é um problema apenas local.
 
A crise moral que afeta o governo liga-se aos problemas que aparecem em outros Estados e é mais um exemplo da situação geral das instituições no País. São essas as instituições que sustentam a destinação de grande parte do orçamento para a especulação financeira em prejuízo das reais necessidades da população e preservam o sistema eleitoral e institucional que se retroalimenta do poder econômico.
 
As práticas escusas passaram a ser pilares das próprias instituições. E a máfia instalada nas instituições públicas do DF continua ativa. Ela garante seus próprios “negócios” com o uso de dinheiro público. Parte desse dinheiro é utilizada para o “financiamento de campanhas”, milionárias, que pervertem a democracia alojando nas instituições, com poucas exceções, os membros dos “esquemas”. É assim que a coisa funciona – e não é apenas no Distrito Federal, mas em todo o País.
 
Há uma equação maléfica entre Estado, corrupção e fonte de lucros para investidores; porém de nada adianta derrubar os corruptos de hoje se as portas ficarem abertas para a corrupção de amanhã. É preciso varrer os corruptos, mas também a sua política e as instituições que os acobertam e que alimentam seus crimes.
 
Há Política e política. Política com P maiúsculo e política com p minúsculo. No momento em que se aproxima o período de renovação eleitoral na Capital da República, é necessário refletir que estamos em uma etapa histórica em que o Distrito Federal precisa, como nunca, de estadistas. A cidade carece de lideranças que tenham uma serena obstinação e que sejam servidas por uma firme coragem moral. E que venham a ajudar para que nossos ideais de justiça e governabilidade não se esmaeçam no processo da construção das táticas e estratégias. Mas, acima de tudo, o DF precisa de líderes que saibam que a política não é um projeto individual ou de um pequeno grupo, e sim um projeto coletivo com dimensão de Estado.