Sábado, 29 de março de 2014
Mariana Jungmann - Repórter da Agência Brasil
Edição: José Romildo
Às vésperas do dia 31 de março, quando se completam 50 anos do golpe militar de 1964, o Congresso Nacional recebe a exposição Onde a Esperança se Refugiou,
para lembrar de 366 presos políticos desaparecidos e das práticas de
tortura, assassinato e exílio ocorridas ao longo dos 20 anos de exceção.
Considerada “impactante” pelo jovem professor de filosofia Gabriel
Andrade Bandeira, de 25 anos, a exposição começa com a entrada em uma
câmara escura, gradeada, onde se tem a impressão de estar em uma cela. A
partir daí, o visitante é levado a caminhar por instalações divididas
em cinco eixos que tratam do contexto político brasileiro e
latino-americano, da ditadura militar no Brasil, das vítimas, do
Movimento Justiça e Direitos Humanos, da transição política no Cone Sul
para a redemocratização e das políticas de memória.
No caminho, é
possível ver vídeos com depoimentos de ex-presos políticos. Numa das
instalações, o visitante é levado a colocar o rosto em um recorte na
parede para enxergar melhor as fotos dos desaparecidos do período
ditatorial. Na parede oposta, um espelho faz com que se veja o próprio
rosto entre as fotos. Em outro trecho da exposição, um telefone comum
das décadas de 1970 e 1980 pode ser acessado por quem passa para ouvir
histórias de pessoas exiladas contadas em cartas enviadas ao Movimento
de Justiça e Direitos Humanos por parentes e vítimas das ditaduras da
América Latina.
Para o professor Gabriel Andrade Bandeira, o
passeio é válido para entender a influência do passado recente na vida
política do país atualmente. Na opinião dele, a juventude tem pouco
contato com os fatos do período ditatorial, mas ainda assim é
influenciada pelo espírito de rebeldia daquela época. “Eu ouvia
histórias do meu pai. Ele teve pouco contato com os problemas daquela
época porque era sobrinho de militar, mas mesmo assim ele conta que ia
para a aula e de repente percebia que um colega tinha sumido. Ele sabia
que ele tinha sido levado pelo regime, não sabia se tinha sido morto, se
estava preso, em tortura, mas sabia que tinha sido o regime”, diz. O
professor vê reflexo dessas histórias nas fortes manifestações de junho
do ano passado. “Acho que ainda está recente essa coisa dos protestos e
[a resistência à ditadura] é o que a nossa geração tem de mais próximo”,
completa.
Acompanhando o professor na visita, a namorada dele,
Cristiane dos Santos Parnaíba, de 26 anos, concorda que a juventude
atual é inspirada por uma “nostalgia do que não viveu”. “Por considerar
válida a luta, eles se inspiram no que aconteceu antes”, diz a
jornalista e estudante de mestrado paulista.
Cristiane se disse
surpresa por ver a exposição montada no Salão Negro do Congresso
Nacional, onde disse que não esperava ver um “espaço de denúncia”. Ela
também faz um paralelo entre os protestos de junho do ano passado e a
luta pela redemocratização. As manifestações recentes são uma
continuação do processo iniciado com as Diretas Já. “A diferença é que
agora não há um outro lado declarado, como antes havia a polícia. Mas
também é uma manifestação de jovens. Antes conseguimos a democracia,
agora falta a cidadania”, definiu.
Atingir a geração de Gabriel e
Cristiane é um dos objetivos da mostra, segundo o produtor Iuri
Pereira. Além disso, ela busca fazer uma homenagem aos desaparecidos e
contar a história para “mostrar o que não fazer”, explica. “Essa
história, como ainda existem muitos desaparecidos, continua viva”, diz
Pereira.
De acordo com ele, a exposição também tem recebido
muitas visitas de pessoas que viveram o período da ditadura e que se
emocionam ao ouvir histórias conhecidas ou semelhantes às vividas por
familiares e amigos. É o caso de duas senhoras que perderam os maridos
durante o regime militar e que passaram mal, precisando ser socorridas
por brigadistas, após verem a mostra. “Isso é um projeto cultural para
contar um pouco dessa história. Há pessoas mais velhas que vêm e saem
muito emocionadas, agradecendo por contarmos para os mais jovens”, diz o
produtor.
A exposição Onde a Esperança se Refugiou está montada
no Salão Negro do Congresso Nacional em Brasília até dia 13 de abril. A
visitação pode ser feita todos os dias da semana de 9h às 17h com
entrada gratuita.