Quinta, 20 de março de 2014
Helio Fernandes
Tribuna da Imprensa
Quando esse
projeto foi votado e aprovado no Supremo, satisfação geral, no Brasil inteiro.
Mas apesar de ter sido recebido com alegria e sinal de que as coisas estavam
mudando, havia uma dúvida, representada pela pergunta: “Valerá mesmo, os
corruptos ficarão fora de tudo?”.
Os que
duvidavam tinham razão, infelizmente acertaram. Os corruptos, presos, cassados
condenados, não ficaram fora de nada, quer dizer, ficaram FORA apenas da
cadeia. Mais ou menos há 30 dias estavam na Papuda, agora inscritos como
candidatos ao governo de Brasília.
Falo de Arruda e Roriz
Está
lançada, pública e abertamente, para disputar o governo da capital, a chapa
Arruda-Roriz. Os dois foram governadores, os dois senadores, não terminaram os
mandatos, no Executivo ou Legislativo. Arruda renunciou ao senado para não ser
cassado. (Tinha uma “inspiração” irrefutável, estudou na mesma escola na qual
Renan Calheiros foi professor).
Arruda com o próprio nome, Roriz
escondido atrás da filha
Ninguém
acreditava que Arruda sobrevivesse politicamente. Pois resistiu eleitoralmente, duas vezes.
Depois da renuncia no senado, de ter sido “apanhado em flagrante” recebendo
dinheiro, foi eleito governador. Reincidiu nas práticas corruptas, perdeu o
cargo, não perdeu a ambição eleitoral. Foi morar na Papuda, mas dizia a alguns:
“Serei governador novamente”.
O “companheiro” Roriz
Este tem a
mesma formação, ambição e insiste na tentativa de repetir o general MacArthur,
que quando saiu das Filipinas na Segunda Guerra Mundial, por ordem do
Presidente Roosevelt, retumbou: “Eu voltarei”.
Eleito
senador, acusadíssimo, antes de completar seis meses do mandato de oito anos,
renunciou. O suplente, ex-vendedor de carros usados, “exerceu” o mandato até
agora. Tendo certeza de que não ganha eleição, está acertando com o PT e Dona Dilma,
ser indicado para o Tribunal de Contas da União. De senador sem votos a Ministro
sem inspiração.
A “dupla” é para valer
Não tão
audacioso quanto Arruda, Roriz fez a composição da chapa, só que em vez do
próprio nome, colocou o da filha, também com grandes problemas na Câmara.
Perplexo, termino esta nota variando um pouco da forma como coloquei no título:
a ficha limpa não vale mais nada? Ou a supremacia voltou para a antiga e
insuperável “ficha suja?”.
O Supremo, a OAB, mínimo para
imposto de renda
Depois que aplaudi
a OAB, por “ter ressuscitado” e pedido ao Supremo que aumentasse o teto para
desconto de Imposto de Renda, dos mais pobres e que pagam mais imposto do que
os ricos, recebo perguntas e mais perguntas a respeito do comportamento do mais
alto tribunal do país.
Não quero
arriscar nem menos prezar o Supremo. Mas o que a OAB requer, através de uma
ADIN, (Ação Direta de Inconstitucionalidade) é justíssimo. Não vejo como o
Supremo pode negar. Meu único receio é que leve tempo demasiado. O que
significa a mesma injustiça.
A União empobrece os pobres
Na essência,
a OAB pede isto. Quem ganha salários de até 1.700,00 reais, está isento de
imposto de renda. A partir daí começa a ser taxado de forma aviltante. O pedido
é este: a isenção passaria a 2.800 reais, o cidadão aí entra no cálculo da
taxação.
A OAB
apresenta números impressionantes. Começando a cair na “fome” arrecadadora da
Receita, o que o trabalhador perde é uma fortuna. A OAB prova, que ficando como
está, quem recebe 4 mil mensais, será incluído na alíquota dos que pagam 27,5%
direto. Quer dizer: trabalha para receber 4 mil, mas deixa com o leão, mil e
200 reais.
Em suma: o
Supremo tem que se render à documentação da OAB. E o que vem sendo extorquido
do trabalhador a mais de 20 anos. O Supremo tem que acabar com esse “mensalão
da Receita e da União”.
O rejuvenescimento de FHC
Há muito
tempo, escrevi que o ex-presidente, conversando com Aécio Neves, teve que
responder à pergunta, “o que você quer ser no meu governo?”. Surpreendido,
respondeu com sinceridade, era mesmo o que desejava: “Gostaria de ser
Embaixador na ONU”. Nada a ver com a embaixada nos EUA, só discursos-conferências.
Mudou o Natal
Agora de
várias fontes cruzadas, surgem “vazamentos” de uma possível candidatura de vice
na chapa de Aécio. Até um jornalista que confessa para si mesmo, “gosto de
contar histórias”, apareceu de FHC a tiracolo.
Não
esquecer que há pouco tempo, numa conversa pública sobre sucessão, FHC
lamentou: “AH! Se eu tivesse menos 10 anos”. Do ponto de vista político-eleitoral,
não sei o efeito de FHC com menos 10 anos. Na prática, estaria com 73 anos, a
mesma idade do Lula no seu projeto presidencial para 2018.
Potências do PT, contraditoriamente
iguais
Gilberto
Carvalho, poderosíssimo dentro e fora do Planalto não se incomoda de ser
convocado ou convidado a ir ao Congresso. Afirma: “Democracia é assim”. E
explicou: “Pressupõe o contraditório, divergência, diferença”. Foi elogiado por
todas as tendências internas.
Rui Falcão
sem nenhuma tranquilidade, quis dizer a mesma coisa, se embaraçou todo: “Dilma
é vítima de chantagem, e da tentativa do toma lá, dá cá”. Criticadíssimo é até
insultado, dentro e fora do PT.
Disseram na
frente dele: “Não devia tocar no assunto, com 32 partidos tem que haver
negociação e reivindicação”. Continua presidente do PT.
PS – O objetivo de todos, civis e
militares, era chegar ao Poder em 1965. Os civis tinham a data marcada.
Precisavam da vitória através de eleição, que deveriam se realizar em outubro
de 1965.
PS2 – Os generais não tinham
compromisso com datas. Podiam interromper o processo, o que acabaram fazendo
com 18 meses de antecedência. Os generais levavam outra vantagem sobre os
civis: podiam se reunir a “céu aberto”.
PS3 – Os civis não podiam se reunir, os
seis mais importantes, eram governadores e ao mesmo tempo candidatos a
presidente em 1965, numa eleição que acreditavam, supunham, admitiam que Jango
não faria.
PS4 – Esses seis, pela ordem de importância,
geográfica, política, econômica. Ademar de Barros, governador de São Paulo.
Tinha um partido, o PSP. Magalhães Pinto de Minas, não tinha partido, pertencia
à UDN, mas sabia que não teria essa legenda. Por isso apoiou o golpe antes de
todos, foi até chanceler.
PS5 – Carlos Lacerda, só pensava na
eleição. Era da UDN, dominava o partido, como mostrou em 1960. Levou a UDN a
apoiar Jânio, vetando Juracy Magalhães, presidente da UDN. Mauro Borges, Goiás,
tenente-coronel da reserva, apoiado por Sobral Pinto, acreditava que isso seria
favorável. Miguel Arraes, Pernambuco, candidatíssimo. Mas sendo abertamente
comunista, se retraía.
PS6 – Ney Braga, governador do Paraná,
major da reserva, também era candidato, mas não se expunha tanto. JK, que ao
passar a presidência a Jânio em 1961, lançara sua candidatura para 65. Não
conspirava, viajava, mas acompanhava tudo.
PS7 – Brizola um dos mais fortes,
deixou o governo do RS em janeiro de 1963, era deputado, fez logo declarações
confirmando que era candidato. Seus inimigos disseram, “não pode, é cunhado do
presidente João Goulart”. Liquidou imediatamente esses contrários à sua
candidatura, com a frase irrevogável, “Cunhado não é parente, Brizola pra
presidente”.
PS8 – Tudo isso era e foi
importantíssimo para a reafirmação de que Jango pretendia permanecer no poder.
Mas não com os comunistas, como disseram idiotamente. Jango não admitia dividir
o Poder com ninguém, principalmente os comunistas.
PS9 – Em maio de 63, Brizola pediu audiência
ao presidente. Fez a proposta textual: “Jango, você me nomeia Ministro da
Fazenda, com o aval do Marechal Lott. Se eu fizer alguma loucura, você me
demite, o Marechal garante a tua decisão”.
PS10 – Jango disse que ia pensar. Chamou
ao palácio, Roberto Marinho e o embaixador Lincoln Gordon, contou a proposta de
Brizola. Os dois, “fechadíssimos” com o golpe disseram imediatamente: “Se você
nomear o Brizola Ministro da Fazenda, não termina o mandato”. Não nomeou e não
terminou.
PS11 – Embaixador tinha a simpatia até
mesmo de janguistas, pelo fato de ser formado em Harvard. Era aquilo que o
frasista Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-lata”. Roberto Marinho,
muito mais objetivo recebeu um telefonema do próprio Jango, foi ao palácio,
ouviu, satisfeitíssimo: “Não vou nomear o Brizola Ministro da Fazenda”.
PS12 – Há uma foto de Roberto Marinho,
rindo com Jango, sentado na cama do próprio presidente. No dia seguinte, a recompensa.
Na página três do jornal, uma foto enorme de Jango, apenas o título: “O
estadista”. Também facílimo de verificar no arquivo.