Sábado, 26 de abril de 2014
Conflitos no Pavão-Pavãozinho reacenderam dúvidas sobre capacidade do Brasil de organizar megaevento
O jornal espanhol El País abordou, em matéria desta sexta-feira (25), a crise na área de segurança pela
qual o Brasil estaria passando em um momento no qual faltam apenas dois meses
para a Copa do Mundo.
O jornal diz que, faltando 50
dias para o início da Copa do Mundo, as autoridades estaduais e federais não
imaginavam que imagens dos conflitos de terça-feira (22) no Rio de Janeiro seriam amplamente
divulgadas pela imprensa internacional, lançando uma nova sombra de dúvidas acerca
da capacidade de o Brasil organizar um evento de grandes proporções sem
incidentes. Os conflitos abordados na matéria aconteceram por volta das 18h
desta terça-feira, quando uma manifestação tomou conta do entorno da comunidade
Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio. O protesto teve carros queimados, ruas
foram fechadas e o dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira foi encontrado
morto.
Na matéria, o jornal diz também que
armas de guerra voltaram a se disseminar nos subúrbios cariocas em
paralelo ao sentimento de insatisfação nas comunidades com a
ineficiência das Unidades de Polícia
Pacificadora, que seriam vistas como uma versão romantizada da Polícia
Militar
– conhecida pelos altos índices de corrupção "até a medula" e
truculência, de acordo com a reportagem.
A
afirmação do jornal espanhol está até o momento sem resposta por parte
das autoridades do Estado do Rio. Nem do atual governador, Luiz Fernando
Pezão, nem de Sérgio Cabral, que deixou o governo após dois mandatos e
hoje se encontra em Boston. O que torna a afirmação ainda mais grave.
O El País
chama atenção ainda
para dois fatores que colocariam o Brasil em uma situação bastante
delicada. O
primeiro seria um forte ressentimento acumulado pelos moradores das
favelas por
terem sido tradicionalmente tratados pela sociedade e pelos governantes
como "cidadãos de segunda categoria". Por conta disso,
os moradores dessas comunidades estariam se sentindo ainda mais
estimulados pelos
protestos que estouraram no país todo em junho de 2013 e hoje em dia
estariam
se manifestando com ainda mais fúria. As favelas estariam mais propensas
a atacar as unidades policiais que eles acusam de violação de direitos,
incendiar veículos, fechar ruas e avenidas em manifestações.
O segundo fator que o jornal
espanhol enfoca são as recentes tensões policiais terem acontecido justamente no bairro de Copacabana.
Considerado pelo jornal a parte mais turística do Rio, o bairro foi palco de um
aumento da criminalidade, de operações policiais e, desde setembro
de 2013, de tentativas de integrantes do Comando Vermelho em retomar o controle do poder
paralelo dentro da favela do Pavão-Pavãozinho .
O jornal diz que controlar as
mais diversas manifestações será o grande desafio do governo brasileiro nos
próximos meses. Segundo o jornal, as promessas feitas pela presidente Dilma
Rousseff para acalmar as manifestações de junho de 2013 nunca chegaram a ser
efetivamente colocadas em prática e isso está criando uma situação de
insatisfação que pode complicar a vida dos governantes e da própria Fifa nesse
momento.