Entre 2009 e 2013, cerca de 20,3 mil famílias foram
removidas pela prefeitura do Rio na preparação para os megaeventos; comunidades
que resistem provam que um dos principais argumento do poder público para as
remoções – o de situação de risco – nem sempre é real
A 400 metros do Maracanã, as 700 famílias da comunidade do Metrô
Mangueira foram pressionadas pelo poder público a sair de suas casas sob
alegação de que estariam em situação de risco e com a promessa de que seriam
reassentadas em lugar próximo. Os que aceitaram deixar suas casas foram
transferidos para Cosmos, a 39 quilômetros de distância; os que resistiram
conseguiram vagas em conjuntos habitacionais próximos, mas parte deles teve
que aguardar as novas vagas entre os escombros das casas demolidas.
“Eles começam a remover, começam a demolir as casas, mesmo
sem ter terminado de negociar com todas as famílias, o que é grave pois a gente
sabe que nessas comunidades as casas são muito próximas umas das outras, parede
com parede. Quando você faz a demolição de uma casa e a outra continua de pé,
você acaba abalando essas estruturas e também abala psicologicamente a
mobilização dessa comunidade quando aqueles entulhos ficam ali. E no caso do
Metrô Mangueira se transformou em um caso de risco real.”
Mais do que isto, a história dos moradores do Morro da
Providência, a favela mais antiga do país, mostra que a alegação de risco por
parte do poder público nem sempre se sustenta. Ao resistir ao despejo planejado
pelo programa de urbanização de favelas Morar Carioca, um dos legados dos
megaeventos segundo a prefeitura, os moradores obtiveram revisões de laudos
técnicos que mostraram que das 515 remoções justificadas por situação de risco,
apenas 44 casos eram reais.