Quinta, 31 de julho de 2014
É impressionante como
as pessoas tem dentro delas um mecanismo de legitimação da violência estatal.
Se é o Estado que
agride então é legítimo. Reclamar não pode e, se puder, só vale gritar enquanto
apanha.
Reagir é crime. Estou
longe de me alinhar automaticamente à tática Black Bloc ou de negar minhas
infinitas críticas a seu uso - já deixei claro que defendo o uso da tática em
termos defensivos e em casos específicos -, mas me impressiona o repúdio que
pessoas ditas intelectuais expressam pelo seu uso.
Não faltam palavras
para qualificar o absurdo e o horror que é pessoas se organizarem para se
defender do Estado, mas faltam palavras para condenar uma polícia armada até os
dentes, que assassina milhares de pessoas nas favelas e que, no asfalto, se
contenta "apenas" em cegar jornalistas e brutalizar quem passar pela
frente.
Temos 23 perseguidos
políticos no Rio, temos o Fabio Hideki, temos o Rafael Braga e centenas, quiçá
milhares de outros exemplos de pessoas presas - em geral pretas e pobres - ou
mortas pela polícia sem direito à defesa. Atacados com armas letais ou
"menos letais" e frente a tudo isso devemos nos limitar a gritar
enquanto apanhamos ou a buscar as estruturas do mesmo Estado que criminaliza.
Mas reagir? Jamais.
E as razões desses
críticos não são na base do "reagir com violência é burro porque atrairia
uma resposta maior do Estado e não temos condições de vencê-lo no jogo da
violência", que até faz sentido, mas sim no jogo do respeito à
instituições falidas.
Realmente eu não
entendo.
Por vezes estas
pessoas me soam como legitimadoras da violência estatal. Se arrepiam ao
imaginar um coquetel molotov, mas não vêem nada demais com balas de borracha. O
Estado, dizem eles, pode. alguns até dizem que tem o dever de agir contra
"arruaceiros" e "vândalos".
Claro, há os que se
revoltam com a violência do Estado, mas se juntam ao coro dos protofascistas
para dizer que devemos apenas e unicamente recorrer ao mesmo Estado esperando
sentados pela cega e perdida justiça.
No fim isto apenas
legitima a violência do Estado, ao encará-la como normal, como parte do jogo,
ao passo que a reação é criminalizada. E este tipo de legitimação serve a quem?