Terça, 29 de
julho de 2014
Fontes:
Tribuna da Imprensa e Revista Fórum
Segundo
reportagem da Folha de S. Paulo, Mikhail Bakunin, considerado um dos fundadores
do anarquismo, foi classificado como um “potencial suspeito” pela polícia
carioca, que investiga manifestantes e ativistas.
Reportagem
publicada nesta segunda-feira (28) no jornal Folha
de S. Paulo traz uma revelação no mínimo curiosa: o inquérito
de mais de 2 mil páginas, produzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que
responsabiliza 23 pessoas pela organização de ações violentas em manifestações
de rua, aponta o filósofo Mikhail Bakunin como um dos suspeitos. Morto em
1876, o russo é considerado um dos pais do anarquismo.
De acordo com a
matéria, Bakunin foi citado por um manifestante em uma mensagem interceptada
pela polícia. A partir daí, passou a ser classificado como um “potencial
suspeito”. A professora Camila Jourdan, de 34 anos, uma das investigadas,
menciona esse episódio para demonstrar a fragilidade do inquérito. “Do pouco
que li, posso dizer que esse processo é uma obra de literatura fantástica de má
qualidade”, descreve.
Essa não é a primeira
vez que intelectuais já falecidos figuram em autos das autoridades brasileiras.
Durante a ditadura militar, KarlMarx era um dos fichados no Departamento de Ordem Política e Social (Dops),
um dos principais órgãos de repressão aos movimentos políticos e sociais
identificados como “subversivos”.
Jourdan ficou 13 dias
presa no complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio. Conhecida pela
excelência acadêmica na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde
coordena o programa de pós-graduação em filosofia, ela diz sido alvo de uma
invenção dos investigadores. “Existe uma necessidade de se fabricar líderes
para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no papel de mentora
intelectual? A professora universitária. Caiu como uma luva, entendeu?”,
afirma.
Para contestar o
“papel de liderança” que lhe foi atribuído pela polícia, a professora se vale
das teorias do filósofo francês Michael Foucault. “Foucault diz que
os intelectuais descobriram que as massas não precisam deles como
interlocutores. Não tenho autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O
movimento não precisa de mim para este papel”, declara.