Segunda, 28 de julho de 2014
Não era coberto por lona. Era telhado. Não era um
picadeiro, era um salão. Não era um espetáculo de circo ou teatro. Não havia
anão, pelo menos em termos físicos. Moralmente, se discute. Foram cenas reais
da campanha política candanga. Não era circo, mas que pareceu, pareceu.
Terça-feira (22/7), hora do almoço
no Restaurante Comunitário do Gama, contíguo ao Estádio Bezerrão e em frente ao
shopping da cidade. Candidato a governador do DF, acompanhado de pessoas da sua campanha,
entra no local, paga R$1, entra na fila e é servido. Senta, come, enche a
pança, conversa muito.
Barriga cheia, parte para sua
campanha dentro do restaurante. Cumprimenta um, abraça outro, aperta a mão de mais um. Bancários,
comerciários, operários, desempregados, aposentados, jovens, crianças e,
também, funcionários da empresa terceirizada responsável pelo restaurante. A equipe
do candidato, atenta, filma tudo, fotografa cada aperto de mão ou abraço, cada
sorriso franco ou dissimulado, imagens valiosas para a propaganda eleitoral que
vem aí na TV.
Com educação (segundo uma testemunha do ocorrido)
um funcionário da empresa que explora o restaurante se aproxima do grupo do candidato
a governador e solicita que não se faça filmagens ou se tire fotografias. Alega
que as normas do local não permitem tais procedimentos. Foi neste momento que o
candidato a governador esquecendo que se deve respeitar os outros, e em
especial pessoas mais humildes e que se encontrem numa situação de
vulnerabilidade em termos, no caso, de relação empregatícia, onde cumpria
apenas normas do patrão, explodiu, perdeu o prumo, e promoveu um dos
espetáculos de maior baixeza que poderá ocorrer nesta campanha eleitoral no DF.
Possesso, e para espanto dos
demais frequentadores do circo, ops!, do restaurante, mandou o servidor “tomá
no cu”, literalmente nestes termos. Não satisfeito por humilhar o empregado, esbravejou que seria o governador do DF e que aquele funcionário
seria o primeiro dali a “ir pra rua”.
Uma cena difícil de se imaginar que ocorresse naquele ambiente. É cena mais comun para as esquinas do Maciel, antiga zona do baixo
meretrício de Salvador. Ou da 'Boca do Lixo', em São Paulo. Ou do antes famoso “Quilômetro 7”, na saída do DF para
Minas Gerais.
Esbravejou, desrespeitou o
trabalhador, e disse o que queria. Não se sabe, contudo, se sua ex-excelência, ouviu
ou fingiu não ouvir o que disse um dos frequentadores do restaurante. Revoltado com o que presenciava, desabafou lembrando, talvez, de
cenas da Operação Pandora:
—
Antes ir pra rua do que ir pra Papuda!
Neste momento, o seu companheiro
de bandeijão, temendo certamente pela integridade física do amigo, o puxou pelo
braço e o retirou do picadeiro. Ops, do salão do restaurante. E lá
dentro do circo (ops, outra vez) o espetáculo de baixaria continuou ainda por mais alguns
instantes.
Até que...baixa o pano do espetáculo.
Até que...baixa o pano do espetáculo.