Segunda, 28
de julho de 2014
Siro Darlan foi o desembargador do Rio de Janeiro que determinou a soltura dos ativistas presos na véspera da final da Copa do Mundo
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Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do RJ e Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia.
O comunista
O Papa Francisco conversava com jovens quando um deles
perguntou se o Papa era comunista. Rindo muito o Papa confirmou ser comunista
como deveriam ser os primeiros cristãos que compartilhavam tudo o que tinham
sem apegos materiais. Essa cena me inspirou a escrita de um artigo publicado em
O Dia sob o título “O Papa é comunista e eu também”. Na época o artigo não
causou tantos comentários, mas nesses últimos dias os comentários bombaram no
meu blog, a maioria deles muito raivosos condenando essa ironia.
Alguns mencionaram e transcreveram todas as Encíclicas da
Igreja condenando o comunismo e muitos me excomungaram. Outros, menos tolerantes,
me condenaram a arder no fogo do inferno. Ora desde que eu esteja acompanhado
do Papa Francisco irei feliz para qualquer lugar na certeza de que estarei
muito bem acompanhado. Não é sem motivos que se especula o perigo que corre Sua
Santidade por sua coerência cristã. Muitos são os que estão descontentes com
sua palavra coerente com a Sagrada Escritura de desapego aos bens materiais,
com seu exemplo de humildade e serviço. Houve até aqueles que indagaram se não
tinha medo de um atentado e a ameaça de que “vigaristas como você também morrem
sem saber”.
A Igreja que serve é a Igreja de Cristo e não aquela que
condena. A Igreja que acolhe é misericordiosa e não excludente e rica em
adornos. Evidente que a Igreja em seus primórdios foi uma Igreja mais fraterna
e solidária. Os cristãos perseguidos e martirizados eram comunistas na divisão
de tudo que partilhavam entre si e por isso sobreviveram e sedimentara uma
Igreja para sempre. O egoísmo e a ignorância da violência contra os semelhantes
têm seus dias marcados e perece com seus autores. Os cristãos eram conhecidos
pelo partir do pão, ato transformado em sacramento da Eucaristia, para lembrar
para sempre a obrigação de partilhar e ter os valores em comum.
Também foi num julgamento que a turba revoltada e insana
pediu a condenação de um Inocente. Talvez seja essa a razão de muitos Tribunais
terem retirado a imagem do Cristo de seus recintos, para que possam ser
realizadas “tenebrosas transações” sem o testemunho do Crucificado. A história
se repete e modernamente aqueles que antes gritavam “crucifica-O, crucifica-O”
continuam, mesmo sem conhecer a acusação, nem o que consta dos autos do
processo esbravejando “prende, prende”; “são bandidos e baderneiros”. O
raciocínio e a racionalidade de uma turba raivosa é perigosa porque não tem
limites. Constituição pra que? Devido processo legal, pra que? Vale o que diz o
jornal que serve o interesse daqueles que lhes pagam.
Nunca é demais lembrar que onze jovens manifestantes da
Palavra partiram da Palestina para divulgar a boa nova e foram perseguidos,
presos, humilhados e martirizados por semearem o Amor entre os gentios. Essa
mensagem foi taxada de subversiva, terrorista, infiel, mas sua semente brotou e
modificou muitos corações endurecidos e violentos.
Quero tranquilizar as viúvas dessa turba inflamada que
mesmo sendo comunista, jamais “comi, nem comerei criancinhas”. Apenas
continuarei aplicando o direito com toda fundamentação legal e sem me deixar
pautar pelas injunções que desejam impor-se às leis com pressões indevidas
sobre os julgadores. Assim como Salomão nada peço para mim e muito menos a
morte de meus inimigos, apenas que Deus me dê discernimento e um coração sábio
e inteligente para praticar a Justiça.
Fonte: Blog
do Siro Darlan
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