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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Caso Amarildo: MPRJ denuncia quatro policiais por crime militar; eles são acusados de corrupção ativa de testemunhas

Quinta, 11 de dezembro de 2014
 amarildo
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Do MPE-RJ

Caso Amarildo: MPRJ denuncia quatro policiais por crime militar

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Estado do Rio De Janeiro (MPRJ) e a 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria Militar denunciaram quatro PMs, por crime militar, no caso do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, ocorrido em 14 de julho do ano passado. Eles são acusados de corrupção ativa de testemunhas. O crime foi praticado duas vezes durante as investigações sobre o desaparecimento do pedreiro, torturado e morto por integrantes da UPP da Rocinha.

Também foram pedidas as prisões do major Edson Raimundo dos Santos e do tenente Luiz Felipe de Medeiros, na época comandante e subcomandante da UPP, respectivamente. Além desses dois, atualmente presos cautelarmente por decisão do juízo da 35ª Vara Criminal da Capital, foram denunciados pelo mesmo crime os soldados Newland de Oliveira e Silva Júnior e Bruno Medeiros Athanasio.

De acordo com a denúncia, os PMs pagaram R$ 850,00 e R$ 500,00, a duas testemunhas, para que, em depoimento, as mesmas acusassem o traficante Thiago da Silva Neris, conhecido como “Catatau”, pela morte do pedreiro. Uma das testemunhas chegou inclusive a receber fraldas descartáveis como propina.

Novo laudo
Um novo laudo pericial de exame de voz, produzido pelo próprio Centro de Criminalística (CCRIM) da Polícia Militar, concluiu que a voz que se fez passar pelo traficante  “Catatau” assumindo a autoria da morte de Amarildo é do policial militar Marlon Campos Reis, réu no processo criminal do caso Amarildo.  O novo laudo reforça as provas apresentadas até o momento pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). O resultado coincide com o parecer técnico realizado anteriormente pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MPRJ. Na ligação, Marlon faz supostas ameaças e diz que já “botou o Boi (apelido de Amarildo) na sua conta”.

Marlon sabia que sua ligação estava sendo monitorada, por ordem judicial, porque efetuou ligação para um celular de outro policial que sabia estar grampeado na chamada Operação Paz Armada. Mas a versão inicial de que a voz seria do traficante foi logo descartada por um laudo da Polícia Civil.

Em seguida, nova análise feita pela Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia (DEDIT) da CSI/MPRJ, comparando a voz dos 34 PMs citados no processo, descobriu que o soldado Marlon foi o autor da ligação, acompanhado do soldado Vital. Com o telefone monitorado, eles foram a Higienópolis fazer a ligação. A interceptação dos celulares particulares dos dois também identificou que eles estavam na mesma Estação de Rádio Base da ligação.
ICCE
O recente laudo do ICCE aponta importantes convergências com a análise anterior da DEDIT, como quando Marlon pronuncia a palavra “nove”, apontando total identificação na comparação de vozes. A perícia diz também que, na análise comparativa, “foram observadas nestas características vocais alguns elementos de convergência entre as amostras de voz do locutor questionado e a voz suspeita” e ainda que “a análise da fala questionada indicava a possibilidade de disfarce da voz do falante”.

Segundo o laudo do ICCE, “os exames periciais foram realizados através de comparações perceptuais fundamentais nas características linguísticas e sociolinguísticas, bem como de outros elementos informativos obtidos a partir dos áudios questionados e a relação destes com o réu. Foram avaliadas também as características acústicas dependentes do locutor obtidas da voz do suspeito e da voz questionada”.

O processo do caso Amarildo, que tramita na 35ª Vara Criminal, irá ingressar na fase de alegações finais. Em outubro de 2013, a Justiça recebera denúncia do MPRJ contra 25 policiais por tortura (oito deles na modalidade omissiva), 17 por ocultação de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual.